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Catarina de Bragança
Quando alguns nobres portugueses chegaram à conclusão de que o negócio da venda
da coroa de Portugal aos Filipes tinha deixado de ser rendoso e tinha atingido a
falência, resolveram mudar de rei. Infelizmente, esqueceram-se de tomar
providências quanto a uma previsível reação do rei deposto que, por um conjunto
de circunstâncias, era, também, rei de Castela e de mais uns quantos
territórios.
A guerra foi uma consequência lógica e o novo rei de
Portugal, que precisava de aliados, encontrou a solução no casamento de uma das
suas filhas com o rei Carlos II da Inglaterra.
A negociação do casamento
foi difícil!
Carlos II tinha motivos para desejar mas, também, para temer
tal casamento: desejava-o, porque a princesa era bonita e o dote poderia encher
os seus falidos cofres; mas, também, receava que isso pudesse reacender a guerra
com Espanha.
Resistiu até o dote da princesa ser irrecusável: foi o maior
dote de que há memória no Ocidente! Portugal ficou falido, o rei português
ganhou um aliado para a guerra com Espanha, e a Inglaterra ganhou um capital que
se transformou no mais rentável investimento da sua história: o Império
Britânico!
Hoje, diríamos que Carlos II deu o “golpe do baú”! A cerimónia
do casamento realizou-se em maio de 1662.
Assim, começou a parte infeliz
da vida de Catarina de Bragança, uma princesa nascida e criada no seio de uma
família com cultura, educação e hábitos tradicionais portugueses que, por sua
infelicidade, foi desterrada para uma corte que, contrariamente ao que alguns
escritores e cineastas de pacotilha nos querem fazer crer, era rude e atrasada
em relação à restante Europa.
Catarina teve um papel importantíssimo na
modernização da Inglaterra e na alteração da filosofia de vida dos ingleses pelo
que, embora não suficientemente, ainda hoje é admirada e homenageada. Provocou
uma autêntica revolução na corte de Inglaterra, apesar de ter sido sempre
hostilizada por ser diferente, mas nunca desistiu da sua maneira de ser nem
consentiu que as damas portuguesas do seu séquito o fizessem. Tinha uma
personalidade tão forte que conseguiu que aqueles (principalmente aquelas) que a
criticavam, em breve passassem a imitá-la.
E assim se deram grandes
alterações na corte inglesa:
- O conhecimento da laranja.
Catarina adorava laranjas e nunca deixou de as comer graças aos cestos
delas que a mãe lhe enviava.
- A compota de laranja.
Que os ingleses chamam de “marmalade”, usando, erradamente, o termo português
marmelada, porque a marmelada portuguesa já tinha sido introduzida na Inglaterra
em 1495. Catarina guardava a compota de laranjas normais para si e suas
amigas e a de laranjas amargas para as inimigas, principalmente, para as amantes
do rei.
- O costume do “CHÁ DAS 5”. Costume que levou
de casa e que continuou a seguir organizando reuniões com amigas e inimigas.
Este hábito generalizou-se de tal maneira que, ainda hoje, há quem pense que o
costume de tomar chá a meio da tarde é de origem britânica.
- A
influência no modo de vestir. Introduziu a saia curta. Naquele
tempo, saia curta era acima do tornozelo e Catarina escandalizou a corte inglesa
por mostrar os pés, o que era considerado de mau-gosto, provavelmente devido aos
pés enormes das inglesas. Como ela tinha pés pequeninos, isso arranjou-lhe mais
inimigas.
- A introdução do hábito de vestir roupa masculina para
montar.
- O uso do garfo para comer. Na
Inglaterra, mesmo na corte, comia-se com as mãos, embora o garfo já fosse
conhecido, mas só para trinchar ou servir. Catarina estava habituada a usá-lo
para comer e, em breve, todos faziam o mesmo.
- A introdução da
porcelana. Estranhou comerem em pratos de ouro ou de prata e
perguntou por que não comiam em pratos de porcelana como se fazia, já há muitos
anos, em Portugal. A partir daí, o uso de louça de porcelana generalizou-se.
- A música. Do séquito que levou de Portugal fazia parte
uma orquestra de músicos portugueses e foi por sua mão que se ouviu a primeira
ópera na Inglaterra.
- O mobiliário Catarina também
levou consigo alguns móveis, entre os quais preciosos contadores
indo-portugueses que nunca tinham sido vistos na Inglaterra.
- O
nascimento do “Império Britânico”. Como já se disse, o dote de
Catarina foi grandioso pela quantia em dinheiro mas, muito mais importante para
o futuro, por incluir a cidade de Tânger, no norte de África e a ilha de
Bombaim, na Índia. Traindo os tratados que tinham assumido e com a desculpa de
que o rei de Portugal era espanhol, os ingleses conseguiram, apesar do controle
da marinha portuguesa, navegar até à Índia, onde criaram um entreposto em
Guzarate. Em 1670, depois de receber Bombaim dos portugueses, o rei Carlos II
autorizou a Companhia das Índias Orientais a adquirir territórios. Nasceu,
assim, o Império Britânico!
Hoje, há pouca gente que saiba a importância
que a Rainha Catarina teve para os ingleses e o carinho que eles tiveram por
ela. A sua popularidade estendeu-se até à América, onde um dos cinco bairros de
Nova Iorque (Queens) foi batizado em sua homenagem.
Em 1998, a associação
“Friends of Queen Catherina” fez uma coleta de fundos para lhe erguer uma
estátua; não o conseguiu, devido à oposição de alguns movimentos cívicos que
acusaram Catarina de ser uma das promotoras da escravidão.
Mais uma vez a
ignorância venceu!
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Direção e Editoria
Irene Serra
irene@revistariototal.com.br
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