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“Cent mille milliards de poèmes”

Em 1960, o escritor francês Raymond Queneau criou o que provavelmente é
o livro mais longo do mundo. Chama-se “Cent mille milliards de poèmes” (Cem
bilhões de poemas) e consiste apenas em dez páginas, cada uma contendo um soneto. Todos os versos compartilham o mesmo padrão de rima e são
impressos em tiras, permitindo que os leitores combinem linhas de diferentes
sonetos.
Um soneto é composto por 14 versos, cada um escolhido entre 10
possibilidades. Queneau compôs, portanto, 140 versos ao todo, cada um impresso
em uma aba que poderia ser inserida em seu lugar no soneto. As dez versões de
cada verso possuem a mesma escansão e a mesma rima. As rimas dos sonetos seguem
o padrão ABAB ABAB CCD EED, onde A, C e E são rimas femininas (respectivamente
em -ise, -otte e -oques) e B e D são rimas masculinas (em [o] e -in ) . Estes
não são, portanto, os chamados sonetos regulares, que respeitam uma estrutura
ABBA ABBA CCD EDE.
Essa configuração resulta num total de 1.014 combinações possíveis, o
que significa que o livro contém cem trilhões de poemas únicos. A implicação é
que ninguém jamais conseguirá ler o livro inteiro, mesmo com o maior esforço,
pois levaria milhões de anos para igualar todas as combinações possíveis de
poemas, sem fazer pausas para comer, dormir ou nada mais ler. E tudo isso vem de
apenas dez páginas!
Cada mistura que você criar resultará em um soneto
consistente com estrofes, ritmo e rima adequados. Além disso, é muito provável
que qualquer poema aleatório seja um que ninguém tenha lido antes.
O próprio
Queneau afirmou que se levasse cerca de 45 segundos para ler um soneto e mais 15
segundos para preparar o próximo, levaria cerca de 200 milhões de anos para ler
todas as combinações possíveis.
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Direção e Editoria
Irene Serra
irene@revistariototal.com.br
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