01/02/2025
Ano 27
Semana 1.403




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“Cent mille milliards de poèmes”



Em 1960, o escritor francês Raymond Queneau criou o que provavelmente é o livro mais longo do mundo. Chama-se “Cent mille milliards de poèmes” (Cem bilhões de poemas) e consiste apenas em dez páginas, cada uma contendo um soneto.

Todos os versos compartilham o mesmo padrão de rima e são impressos em tiras, permitindo que os leitores combinem linhas de diferentes sonetos.

Um soneto é composto por 14 versos, cada um escolhido entre 10 possibilidades. Queneau compôs, portanto, 140 versos ao todo, cada um impresso em uma aba que poderia ser inserida em seu lugar no soneto. As dez versões de cada verso possuem a mesma escansão e a mesma rima. As rimas dos sonetos seguem o padrão ABAB ABAB CCD EED, onde A, C e E são rimas femininas (respectivamente em -ise, -otte e -oques) e B e D são rimas masculinas (em [o] e -in ) . Estes não são, portanto, os chamados sonetos regulares, que respeitam uma estrutura ABBA ABBA CCD EDE.

Essa configuração resulta num total de 1.014 combinações possíveis, o que significa que o livro contém cem trilhões de poemas únicos. A implicação é que ninguém jamais conseguirá ler o livro inteiro, mesmo com o maior esforço, pois levaria milhões de anos para igualar todas as combinações possíveis de poemas, sem fazer pausas para comer, dormir ou nada mais ler. E tudo isso vem de apenas dez páginas!

Cada mistura que você criar resultará em um soneto consistente com estrofes, ritmo e rima adequados. Além disso, é muito provável que qualquer poema aleatório seja um que ninguém tenha lido antes.

O próprio Queneau afirmou que se levasse cerca de 45 segundos para ler um soneto e mais 15 segundos para preparar o próximo, levaria cerca de 200 milhões de anos para ler todas as combinações possíveis.




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Irene Serra
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