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Igreja de Santa Luzia

Jorge Mitidieri
Singela Igreja da Santa de olhos azuis e
protetora dos olhos
À beira do morro do Castelo, bem na praia da
Piaçava, isso lá pelos idos do ano de 1592, existia a Ermida de Santa Luzia,
simples e com aparência bem pobre, pois tinha sido erguida pelos pescadores que
faziam a sua vida nos arredores da praia. Essa Ermida era muito visitada pelo
povo da redondeza que nela fortalecia a sua fé.
A Ermida, com o passar
dos anos, foi se deteriorando, envelhecendo, e já ameaçava ruir quando a
irmandade resolveu construir uma nova, isso nos meados do século XVIII, e para
tanto procuraram outro local. Foram construí-la em terreno doado por João
Pereira Cabral e sua mulher. Em I752 foi edificada a igreja, com apenas uma
torre e bastante acanhada, com uma só porta de entrada. Quase cem anos depois,
sofreu uma grande reforma, agora com duas torres e mais duas portas, na qual o
granito apareceu em toda a sua fachada.
No interior da nave temos apenas
três altares. No da capela-mor está a padroeira Santa Luzia, uma imagem de
regular tamanho e muito expressiva. Hoje essa imagem primitiva pode ser venerada
no Consistório.
No altar à esquerda, ao lado do Evangelho, está Nossa
Senhora dos Navegantes, padroeira dos homens do mar e pertencente à confraria;
no outro lado, Lado da Epistola, esta Santo Elói, padroeiro dos ourives.
No dia 13 de dezembro, Santa Luzia é festejada. As festas antigas eram
assinaladas com foguetes e muita afluência de autoridades, entre elas o
Almirante Tamandaré que sempre estava presente, prestando as suas homenagens à
Virgem. Após o primeiro domingo, é festejada N. S. dos Navegantes em missa
cantada.
Quando em 1808 a família Real aqui chegou, as ruas eram
estreitas, escuras, verdadeiras vielas acrescidas à falta de higiene que aqui
imperava. 0 neto do Príncipe-Regente D. João VI, o pequeno D. Sebastião, nascido
em 1811 foi acometido por uma doença grave no globo ocular. D. João VI prometera
à Virgem protetora dos olhos que, se ele ficasse curado, o levaria até a Igreja
de Santa Luzia, protetora dos olhos. O menino ficou bom e o Príncipe-Regente
quis cumprir a promessa. Porém, problemas ocorreram, pois como as ruas eram
estreitas demais, as carruagens não teriam condições de lá chegar e a Família
Real não poderia ir a pé. Sá havia uma solução: mandar alargar as ruas; e assim
foi feito. Abriu-se uma nova rua com início no Convento da Ajuda (hoje
Cinelândia) em linha reta até a Igreja de Santa Luzia. Apesar dos protestos dos
proprietários dos terrenos ao longo da rua, a promessa foi cumprida, mas o
erário teve que arcar com pesadas indenizações.
No interior da igreja,
onde temos o Consistório e a Sala dos Milagres, existia uma fonte de água
cristalina na qual os devotos da Santa buscavam remédio para doenças dos olhos.
Atualmente essa fonte está modificada e modernizada. Hoje temos uma pia de
mármore de Carrara que pousa sobre as asas de um anjo, e a água jorra de uma
torneira niquelada que está na frente de uma imagem de Santa Luzia. Pelas
paredes dessa peça, vemos uma profusão de objetos que representam ofertas pelos
milagres alcançados.

Alguns dados importantes:
1592 - Primeira Capela
1752 - Construção da nova Igreja 1872 - Reconstrução
Endereço:
Rua
Santa Luzia, 206—Centro - Tel: 2220-4367.
Autores do projeto:
1752 - Desconhecido 1872 - Mestre Antonio de Pádua e Castro.
Estilo: A
Igreja é de estilo neoclássico, assim como o seu intenor.
Iconografia:
Temos mais de uma Santa Luzia, mas a mais venerada é a Santa Luzia de Syracuse,
Sicilia, que é considerada a protetora dos olhos e da visão. É uma das mais
famosas mártires da igreja. Ela era de sangue nobre e os atos contam que ela
sofreu os mais hediondos martírios, inclusive os seguintes: Como era virgem, a
levaram para um prostíbulo mas nem mesmo os mais fortes soldados conseguiram
movê-la ou não tiveram meios de possuí-la. De volta à prisão, como ainda se
recusasse a renunciar a sua fé, retiraram com punhais os seus dois olhos e no
dia seguinte, os olhos estavam no lugar e normais (Na liturgia da igreja, ela é
apresentada com uma pequena almofada na mão direita com os seu dois olhos).
Depois a cobriram com uma espécie de resina para ser colocada numa grande
fogueira. Quando as chamas finalmente desapareceram, ela estava como antes, sem
nenhum dano ou ferida. A comoção dos presentes foi enorme, mas o Prefeito ficou
ainda com mais ódio e mandou que cortassem a sua garganta com uma espada.
Oração: O Santa Luzia que preferiste deixar que os vossos olhos
fossem vazados e arrancados antes de negar a fé e compuscar vossa alma; E
Deus, com um milagre extraordinário, vos devolveu outros dois olhos sãos e
perfeitos para recompensar vossa virtudee e vossa fé, e vos constituiu protetora
contra as doenças dos olhos, eu recorro a vós para que protejais minhas vistas e
cureis a doença de meus olhos. Ó Santa Luzia, conservai a luz dos meus olhos
para que eu possa ver as belezas da criação, o brilho do Sol, o colorido das
flores, o sorriso das crianças. Conservai também os olhos de minha alma, a
fé, pela qual eu possa conhecer meu Deus, compreender seus ensinamentos,
reconhecer o seu amor para comigo e nunca errar o caminho que me conduzirá onde
vós, Santa Luzia, vos encontrais, em companhia dos anjos e santos. Santa
Luzia, protegei meus olhos e conservai minha fé. Amém.
Do
livro: Peregrinação Turística a 25 Igrejas do Rio de Janeiro, de Jorge
Mitidieri, arquiteto e urbanista. (Enviado pelo autor)
Direitos autorais reservados.
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Direção e Editoria
Irene Serra
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