01/08/2024
Ano 27
Semana 1.377

 


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 Os sinos que falavam


Dois sinos que pertencem ao campanário da Igreja de São Francisco de Paula merecem um destaque especial: O ARAGÃO E O VITÓRIA. É verdade, os sinos também têm nomes.

Na vida tranquila do Carioca, no idos coloniais, distinguiam os seus toques e sabiam, pelo som, quem estava tocando. Quando era o Vitória, os Cariocas ficavam preocupados pois, possivelmente, era um incêndio, dependendo do número de badaladas. Quando tocava o Aragão, era hora do recolher determinado pela polícia.

Conta-se que um boticário, Manuel José Brandão, grande devoto de Santo Antônio, resolveu fazer uma bela surpresas para os frades, e mandou, em segredo, que fundissem em Lisboa um sino do maior que pudessem fazer. Pronto o sino, pesando nada mais nada menos do que mil e trezentos quilos, mandou o farmacêutico entregá-lo no Convento de Santo Antônio. Mas, tão grande era o sino que não coube dentro do campanário, para desgosto de todo mundo. Devolvido com um agradecimento o elefante branco, mandou-o de presente para a Igreja de São Francisco de Paula. Até hoje ele ainda lá está, é o VITÓRIA.

O outro, o ARAGÃO, tem também sua história. Quando era Intendente-geral da Polícia, o Desembargador Francisco Teixeira Aragão instituiu, para defesa dos bons costumes o toque de recolher, e, portanto, às dez horas da noite, o sino terceiro da Igreja de S. Francisco de Paula dobrava anunciando que todos deveriam se recolher sob pena de prisão por vagabundagem. Quando se ouvia a badalada, ninguém poderia permanecer nas ruas, e as casas comerciais deveriam cerrar suas portas. Negro que era encontrado nas ruas depois dessa hora e sem o atestado do patrão que o mandara a serviço, ía se ver com a polícia. O mais interessante é que as freirinhas de Santa Teresa repicavam seus sinos vinte minutos antes avisando aos negros que a hora estava chegando.

A vida monótona da cidade somente era quebrada com algum fato que pudesse fugir da rotina. Os Cariocas passaram a distinguir, pelo som, o badalar de um sino, o nome do que estava tocando.
- Olhe Santa Rita chamando!
- E São José está respondendo.
- Que haverá? E o Fradinho que esta repicando!

Não era nada de extraordinário. Quem sabe era a saída de uma procissão, o Bispo que estava saindo para uma visita, mas quando era o Vitória, todos se assustavam pois era um incêndio que estava acontecendo.


Do livro Contos e Contos, de Jorge Mitidieri,

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Direção e Editoria
Irene Serra