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Os sinos que falavam
Dois sinos que pertencem ao campanário da Igreja de São Francisco de
Paula merecem um destaque especial: O ARAGÃO E O VITÓRIA. É verdade, os sinos
também têm nomes.
Na vida tranquila do Carioca, no idos coloniais,
distinguiam os seus toques e sabiam, pelo som, quem estava tocando. Quando era o
Vitória, os Cariocas ficavam preocupados pois, possivelmente, era um incêndio,
dependendo do número de badaladas. Quando tocava o Aragão, era hora do recolher
determinado pela polícia.
Conta-se que um boticário, Manuel José Brandão,
grande devoto de Santo Antônio, resolveu fazer uma bela surpresas para os
frades, e mandou, em segredo, que fundissem em Lisboa um sino do maior que
pudessem fazer. Pronto o sino, pesando nada mais nada menos do que mil e
trezentos quilos, mandou o farmacêutico entregá-lo no Convento de Santo Antônio.
Mas, tão grande era o sino que não coube dentro do campanário, para desgosto de
todo mundo. Devolvido com um agradecimento o elefante branco, mandou-o de
presente para a Igreja de São Francisco de Paula. Até hoje ele ainda lá está, é
o VITÓRIA.
O outro, o ARAGÃO, tem também sua história. Quando era
Intendente-geral da Polícia, o Desembargador Francisco Teixeira Aragão
instituiu, para defesa dos bons costumes o toque de recolher, e, portanto, às
dez horas da noite, o sino terceiro da Igreja de S. Francisco de Paula dobrava
anunciando que todos deveriam se recolher sob pena de prisão por vagabundagem.
Quando se ouvia a badalada, ninguém poderia permanecer nas ruas, e as casas
comerciais deveriam cerrar suas portas. Negro que era encontrado nas ruas depois
dessa hora e sem o atestado do patrão que o mandara a serviço, ía se ver com a
polícia. O mais interessante é que as freirinhas de Santa Teresa repicavam seus
sinos vinte minutos antes avisando aos negros que a hora estava chegando.
A vida monótona da cidade somente era quebrada com algum fato que pudesse
fugir da rotina. Os Cariocas passaram a distinguir, pelo som, o badalar de um
sino, o nome do que estava tocando. - Olhe Santa Rita chamando! - E São
José está respondendo. - Que haverá? E o Fradinho que esta repicando!
Não era nada de extraordinário. Quem sabe era a saída de uma procissão, o Bispo
que estava saindo para uma visita, mas quando era o Vitória, todos se assustavam
pois era um incêndio que estava acontecendo.
Do livro
Contos e Contos, de Jorge Mitidieri,
Direitos autorais reservados.

Direção e Editoria
Irene Serra
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