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São Sebastião do Rio de Janeiro e
andanças
Pedro Franco
O poeta Vinicius de Moraes reclamava de São Paulo. Por lá ele
andava, andava, andava e não chegava à Ipanema. Talvez
Copacabana seja a praia,
bairro, mais badalada e até se conte que Frank Sinatra cantava Copacabana
“lovely place in Brazil” e Dick Farney (tinha que arranjar nome artístico, que
na certidão de batismo era Farnézio Dutra e conta a lenda que nos “esteites”,
onde esteve e não quis ficar, foi quem primeiro cantou a linda “Tenderly”). E
nosso Farnézio chamava Copa de “princesinha do mar”,
com voz e piano excelentes. Eis que Tom Jobim e Vinicius de Moraes vêem linda carioca a caminho do mar em
Ipanema e em com doce balanço. E a Garota de Ipanema é música das mais cantadas
no mundo. Ouso achar que também a virada do ano em Copa é festa um pouco para
inglês ver e com conotações turísticas. Há banho de poesia também nos subúrbios
cariocas, ainda que as duas praias citadas corram mais mundo. Loas a J. Faraj
que mandava e bem “louco de amor no teu rastro, vagalume atrás de um astro” O
poeta já avisara que a lua vinha se banhar nos olhos da amada. Caminhemos pelo
Rio, que já
foi de Janeiro e cheguemos ao Alto da Boa Vista, heráldico e põe
beleza nesta visão. Vide a floresta da Tijuca, a maior em uma cidade. E pena que
acabou o bonde Malvino Reis, que ligava Grajaú e Vila Isabel ao Centro da
Cidade. Saudades dos bondes e até do taioba. Quem se lembra, bonde marrom,
bancos na vertical e área interna, onde lavadeiras levavam suas trouxas.
Homenagem à Princesa Isabel em bairro, que tinha até um boulevard. Ainda que
Noel Rosa e sua verve tenham feito o bairro ser conhecido como a Vila de Noel. O
poeta avisava que “a Vila não quer abafar ninguém, só que mostrar que faz samba
também.” Encantado é bairro, ainda que se possa indagar, encantado com o quê?
E
criaram o Maracanã, que virou Maraca e que turista não quer deixar de ver o
estádio. Se cheio vislumbraria Pelé, Garrincha e Tostão na verde que a quero
verde. E falei em jogadores apenas para exemplos, joias no velho e violento
esporte bretão, ainda que rudimentos do jogo nasceram na China. Continuemos no
futebol e vem Laranjeiras com o Fluminense de Nelson Rodrigues e com frase que o
Mestre se negou a explicar. “Vários clubes têm três cores, mas só o Fluminense é
tricolor.” É o único clube brasileiro com a Medalha Olímpica. Perto fica o Cosme
Velho com seu Bruxo Machado de Assis e onde morou sua Carolina, oh triste poema.
Na Zona Norte da cidade dois engenhos, o Novo e o Velho, a escolher. E autor
avisa que Santa Tereza tem morro, onde o samba não vai, pois o pão é caro e “o
samba não pode fazer esta despesa.” E se falei em Tereza não posso esquecer da
que tinha “uma pinta do lado.” Bille Blanco; Inhaúma com cemitério modesto, para
que mausoléus então? Dick Farney/Lúcio Alves. Botafogo e suas histórias e até
nas vilas botafoguenses moram enredos
atrativos. Piscinão de Ramos e viva a
Chatuba! Antigamente Centro, Zona Sul e Zona Norte. Quase chego a pensar que
Petrópolis é bairro do Rio e os petropolitanos ficam zangados e se agarram ao
título Cidade Imperial, dado por presidente da República. O Rio já teve mais o
espírito moleque, que batia bem com Moreira da Silva na subida do morro. Cidade
Maravilhosa “terra de encantos mil”. Já se cantou também Rio de Janeiro, cidade
que me seduz, de dia falta água,
de noite falta. Era sentimento irreverente,
vide piadas cariocas. Lapa, “Miguelzinho, Camisa Preta, Meia Noite e Edgar”
moraram lá e Nelson Gonçalves os cantou. E Madame Satã
de navalha pôs banca na
Lapa, que não continua muito Lapa! E o Passeio Público com
história de boa
cultura. Muitos e muitos bairros e havia subúrbio que J. Faraj mostrou em
“Professora” e avisou a dita cuja que era “vagalume atrás de um astro” e “no
trem das professoras”. Depois veio o barquinho e João Gilberto, sem esquecer
Nara Leão e lindos joelhos e idem coragem. Cidade grande e tem o Catete
histórico, o do presidente com tiro no peito e a carta, que deixou, mudou o
País.
Paquetá, a ilha dos amores, quantos amores e com a Praia da Moreninha de
Mestre Joaquim Manoel de Macedo? Paquetá e Brocoió de mãos dadas e com órgão de
sonoridade notória nessa ilha menor. E as vilas suburbanas pitorescas com seus
moradores faladores, bem diferentes dos que andam em elevadores de arranha céus,
que arranham solos e imaginações. Orestes Barbosa, além do “Chão de estrelas”,
falou subidas e descidas e coração aos saltos em “Arranha-céu”. Volto aos morros
de ex-malandros, onde milícias e traficantes disputam tiros e mandam matar
polícias. Que tristeza, há balas perdidas. Guerrilhas e com raros heróis.
Morros, que tinham
“subida” e Moreira da Silva cantava e falava até na vacina
Salk e crebiose. O Car-na-val! Carnaval, sambódromo, dez, nota dez e haja
bicheiro bancando. Citação da Lagoa e do Leme, cantada essa por Tim Maia, “do
Leme ao Pontal”. Flamengo, como não ao menos citar. Disputando torcida com os da
colina histórica. Futebol e minha mãe se dizia
torcedora do São Cristóvão,
bairro imperial. E se lembram da Praça Onze de Otelo, o Grande? Chanchadas e com
Oscarito, Otelo no balcão. Olhe, pensava em cantar e repetir, “Rio de Janeiro,
gosto de você”, “Bem que eu quis escrever” uma canção de amor, pois o amor está
no ar no Rio. Rio é mar e se espalhou pela Barra da Tijuca. É no poema de amor
ao Rio, contei até deslizes, nada lisos, mas se é amor, fala verdades e
nada
esconde. Amor não trai. Assim no meu Rio não espere só beijos, ainda que no ar
do Rio, habitem paixões, comoções e mesmo e sempre o amor, desde o Recreio dos
Bandeirantes até a Praia da Moreninha, na ilha dos Amores. “Vento do mar no meu
rosto e o sol a queimar”. O fecho é homenagem aos poetas, que foram citados
apenas em aspas. “Cidade Maravilhosa cheia de encantos mil”. Rio, no meu e no de
muitos corações continua a capital emocional do Brasil. “Cristo Redentor, braços
aberto sobre a Guanabara!”

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Direção e Editoria
IRENE SERRA
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