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Descobrindo o Rio de Janeiro
Jorge Mitidieri
Alguns dizem que o Rio de Janeiro foi inventado, eu entendo que ele
foi e está sempre sendo inventado. Vamos falar um pouco dessa invenção:
A descoberta oficial da Terra de Santa Cruz está contada e autenticada nas
cartas de Pêro Vaz Caminha.
A descoberta deste enorme seio de mar, que
veio a se chamar Rio de Janeiro, está envolta em muitas histórias. O que se
sabe é que quando recebeu a notícia do descobrimento dessas terras por Pedro
Álvares Cabral, o Rei D. Manuel mandou para cá, com a ideia de demarcar essas
terras, uma expedição (1501).
Muitos nomes aparecem como
comandantes dessa expedição: André Gonçalves, Gaspar de Lemos, D. Nuno Manuel,
Fernão de Noronha... Hoje se admite ser André Gonçalves quem veio comandando a
expedição.
Nessa expedição veio Américo Vespúcio, o escriba,
mas que por vezes querendo mais exaltar a própria posição, atribui no papel
fatos que deturpam. Tão grande a sua vaidade que acabou roubando de Colombo a
glória do nome da terra por ele descoberta, uma vez que em sua farta
correspondência aparecia tanto o nome de América. A expedição chegou ao
Brasil em 16 de agosto de 1501, dia consagrado a São Roque, que assim deu o nome
ao cabo que primeiro avistou.
É fácil acompanharmos o caminho da
expedição, pois que, em todos os lugares em que chegavam, davam o nome do santo
do dia, como: Cabo de Santo Agostinho - 28 de agosto, Rio São Francisco – 4 de
outubro, Baía de Todos os Santos – 1º de novembro, Cabo de São Tomé – 21 de
dezembro. A 1º de janeiro de 1502, chegam à estreita entrada de uma baía, e
sem ter um santo nesse dia dão o nome de Rio de Janeiro, pensando que se tratava
da entrada de um grande rio. Seguindo viagem, temos Angra dos Reis – 20 de
janeiro, e por aí em diante.
Em 1503, outra expedição, comandada por
Gonçalo Coelho, mais bem aparelhada, veio com o firme propósito de correr o
Brasil de costa a costa, ou seja, até o extremo sul. Nos recifes e
arquipélago de Fernão de Noronha, a nau capitânia naufragou e o comandante
passou para outro navio. Américo Vespúcio separou-se da frota com mais dois
navios, dirigindo-se para a Baía de Todos os Santos, de onde navegou até Cabo
Frio. Regressou a Lisboa onde anunciou que Gonçalo Coelho se perdera e
provavelmente morrera. Mas, três anos depois, veio a saber que o comandante que
ele havia abandonado estava vivo e entrando no porto de Lisboa com os navios que
lhe restavam.
A Gonçalo Coelho é atribuída a construção da famosa Casa
Branca, junto à foz do rio Carioca. Alguns historiadores associam o nome Carioca
à Casa Branca, nome indígena - Carioca, casa branca; mas existem outros
significados, como que nesse rio vivia um pequeno peixe, chamado pelos índios de
Acari, que tinha sua morada em buracos, ocas, daí CARIOCA.
Devido à aparente pobreza da região, resolveu-se conceder por contrato a
exploração do famoso “Pau Tinta – Pau Brasil”. Daí para diante, muitos
navegantes passaram a frequentar nossas costas, muitos corsários e piratas
aproveitando-se do abandono que aqui existia.
O Rio de Janeiro era um
ponto preferido pela sua entrada da Baía, e os franceses resolveram tomar conta
e aqui fundarem a França Antártica. Protestos veementes foram feitos por
Portugal aos franceses, mas tudo em vão. Nomeado Governador Geral, Mém de Sá
recebeu ordens de expulsar os franceses, e os expulsou.
Sem condições de
tomar conta do Rio de Janeiro, Mem de Sá, escrevia à Rainha: “Pelo que me parece
muito serviço de Vossa Alteza mandar povoar estas terras para segurança de todo
o Brasil e dos outros maus pensamentos porque se os franceses o tornam a povoar
hei medo que seja verdade o que Vilegagnon que nem todo o poder de Espanha nem
do Grão Turco o poderão tomar”.
Outra carta de Nóbrega escrita ao Cardeal
D. Henrique, dizia: “Esta gente ficou entre os índios e esperam gente e socorro
da França, maiormente que dizem por El-Rey de França, o mandar estavam ally para
descobrirem os metaes que houvesse na terra, assim há muitos franceses
espalhados por diversas partes para melhor buscarem. Parece muito necessário
povoar-se o Rio de Janeiro e fazersse nelle outra cidade como a Bahia porque com
ela ficará tudo guardado, assim esta S. Vicente como a do Espírito Santo que
agora estão bem fracas, e os franceses lançados de todo fora e os índios poderão
melhor se sujeitar, e para isso mandar mais moradores do que soldados.”
Para tanto, foi mandado uma expedição com o fito de acabar com o poder dos
franceses no Rio de Janeiro, comandada por Estácio de Sá, e não foi fácil essa
primeira investida, e fracassou.
Voltou para São Vicente e lá foi
organizada uma nova expedição, muito mais fortalecida que a primeira, e Estácio
de Sá, no dia 1º de março de 1565, lançou as bases de nossa cidade entre o morro
Cara de Cão e o Pão de Açúcar, começando logo a construir as defesas, as
primeiras casas, procurando água em poços, levantando paredes da primeira capela
de São Sebastião, e ali nasceu a cidade.
As batalhas continuaram, e a que
decidiu a sorte de nossa cidade aconteceu em 20 de janeiro de 1567 – dia de São
Sebastião. Assim foram derrotados os tamoios e os franceses, e nessa batalha
Estácio de Sá é ferido e morre em sua casa no pequeno vilarejo no morro Cara de
Cão.
Com o tempo, dois anos, o lugarejo ficou pequeno e era de fácil
ataque dos inimigos. Assim, mudou-se para um sitio mais adequado, o Morro do
Castelo.
Do livro Contos e Contos de Jorge Mitidieri Direitos autorais reservados.
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