A incrível história de Lizzie Bravo

Cândido Luiz de Lima Fernandes
Em
2012 eu estava na fila do Studio RJ para assistir ao show do Zé Renato quando me
encontrei com uma amiga de Belo Horizonte, Danuzza Sartori, que não via há
muitos anos. Danuzza estava acompanhada de uma amiga, Lizzie Bravo e fomos tomar
um chopp depois do show. Foi quando tomei conhecimento de sua incrível história.
Lizzie Bravo, juntamente com a inglesa Gayleen Pease, foram as fãs dos
Beatles convidadas a contribuir com backing vocals para a música " Across the
Universe ". Tornou-se, assim, a única brasileira que gravou com os Beatles.
Lizzie mudou-se para Londres no final dos anos 1960 para trabalhar como “au
pair”. Pease era um estudante de Oxford . Sempre que tinham tempo, as duas
garotas se juntavam a um grupo de fãs conhecido como “Apple scruffs”, que
esperavam do lado de fora do Abbey Road Studios para se encontrar e bater um
papo com os Beatles.
Em 4 de fevereiro de 1968, os Beatles estavam
gravando a música "Across the Universe" no Abbey Road Studios. Decidindo que a
música precisava de uma voz estridente para cantar o refrão "nada vai mudar meu
mundo", Paul McCartney se aproximou dos “scruffs” que esperavam do lado de fora
e perguntou se alguém poderia segurar uma nota alta. Bravo e Pease responderam
que sim. Pouco depois, o road manager da banda, Mal Evans, apareceu e conduziu
as duas meninas para o estúdio de gravação para gravar os vocais de apoio.
Embora as vozes das garotas não sejam ouvidas na versão de "Across the
Universe" no álbum “Let It Be”, seus vocais de fundo são ouvidos nos álbuns
“No-One's Gonna Change Our World , “Rarities” e “Past Masters” . Ela me contou
que, anos depois, estava em Nova Iorque como empresária do Milton Nascimento e
foi assistir a uma coletiva de Paul McCartney. Paul, quando a viu, disse: - Acho
que te conheço de algum lugar. Lizzie disse-lhe então que era a brasileira que
tinha tido a oportunidade de gravar com os Beatles.
Ela conta que tinha
chegado em Londres dia 17 de fevereiro de 1967 e a gravação aconteceu quase um
ano depois, em 04 de fevereiro de 1968. Lizzie cantou com John e Paul e se
eternizou na história da música pop. Sua vida se transformou a partir de então,
passando a girar em torno de tudo que dizia respeito à banda inglesa. Passou a
frequentar festivais de Beatles e a apoiar as bandas cover do país. Meu filho
Bruno era vocalista e baixista da banda Revolver, que foi escolhida para
representar o Brasil na inauguração do Cavern Club de Buenos Aires. Ele a
conheceu em um festival de Beatles e passou a trocar mensagens com ela. Ela,
inclusive, teceu elogios ao Bruno interpretando Paul McCartney.
A
própria Lizzie escreveu sobre o dia da gravação no seu livro “Do Rio a Abbey
Road”, lançado em 2015 e esgotado em 2017, e com ampliada segunda edição
produzida neste ano de 2021, além de ainda inédita edição em inglês. Só que a
edição em inglês de seu livro será lançada sem a presença física da autora.
Lizzie Bravo morreu em casa na noite do último 4 de outubro, aos 70 anos, vítima
de problemas cardíacos, dos quais se recuperava após internação em hospital da
cidade natal do Rio de Janeiro (RJ). Foi casada com Zé Rodrix, que a homenageou
na música “Casa no Campo”, em parceria com Tavito: “Eu quero a esperança de
óculos, um filho de cuca legal”. Da união com Zé Rodrix nasceu uma filha, Mayra
Bravo, que também se tornou também cantora, tendo atuado em vários musicais no
Rio de Janeiro. Descanse em paz, Lizzie Bravo!
Cândido Luiz de Lima Fernandes é economista e professor universitário em
Belo Horizonte; email:
candidofernandes@hotmail.com
___________________
Direção e Editoria
Irene Serra |