Roberto Carlos – 80 anos

Cândido Luiz de Lima Fernandes
Roberto Carlos Braga nasceu no dia 19 de
abril de 1941, em Cachoeiro do Itapemirim (ES). Desde pequeno mostrava gosto pela
música, tinha aulas de violão e piano, além de sempre ouvir o rádio, onde
estrearia aos 9 anos, cantando o bolero “Amor y más amor” no “Programa Infantil”
da estação da Rádio Cachoeiro. No fim dos anos 50, se mudou para a casa de uma
tia, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, e ingressou na cena musical
carioca com o grupo The Sputniks, formado pelo cantor Tim Maia.
Em 1957
foi convidado a se apresentar na TV Tupi. Entoando a canção “Tutti Frutti”, do
cantor americano Little Richard, um do expoentes do rock n’ roll, e sentado em
uma lambreta, Roberto dava o tom da Jovem Guarda, linguagem musical e estilo de
comportamento que inauguraria no início dos anos 60. No mesmo ano, o
apresentador da emissora Carlos Imperial o chamaria de "Elvis Presley
brasileiro".
Ao lado de Tremendão e Ternurinha, como eram apelidados
Erasmo Carlos, seu grande parceiro, e Wanderléa, que ditava a moda da época,
cantou ao vivo no programa “Jovem Guarda”, que ficou no ar da Rede Record entre
1965 e 1968. Eles formavam a chamada Turma da Matoso, o nome da rua na Tijuca
onde se reuniam, e eram motivo de um fanatismo adolescente que deu a Roberto o
apelido de "Rei da juventude", ou simplesmente “Rei”. Naquele último ano, o trio
estrelou o filme “Roberto Carlos em ritmo de aventura”, de Roberto Farias, onde
o Rei interpretava ele mesmo e fugia de criminosos internacionais. A fórmula
rendeu outras películas com o diretor, como “Roberto Carlos e o diamante
cor-de-rosa” e “A 300 km por hora”.
Ao decidir seguir carreira solo,
Roberto Carlos se firmou como cantor consagrado de músicas românticas,
emplacando sucessos como “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos”, “Amada amante”
e “Detalhes”. Esta última música foi eleita como a melhor canção de 1979 por 85
mil pessoas, em concurso promovido pelo programa Fantástico, da TV Globo. Em
1973, vendeu 820 mil unidades do LP "A Janela", firmando-se como o artista que
mais vendia discos do Brasil, título que manteve por muitos anos, já que, em
1980, era tocado nas rádios brasileiras até 15 vezes por dia.
O primeiro
“Especial Roberto Carlos”, show transmitido pela TV Globo no final do ano de
1974, se firmou como uma tradição da emissora, que reserva o horário nobre para
uma apresentação do cantor desde então, sempre na época de festas. Em 2005,
zarpou o cruzeiro “Emoções em alto mar”, projeto que tirou o cantor da sua
vizinhança da Urca, Zona Sul do Rio de Janeiro, onde costuma circular com sua
Lamborghini, para apresentar shows navegantes ou em cidades estrangeiras, como
Jerusalém e Las Vegas, em 2012 e 2014.
Na vida pessoal, o cantor não
teve uma trajetória fácil. Aos seis anos, quando celebrava a festa de São Pedro,
padroeiro de sua cidade, perdeu um pedaço da perna ao cair na linha do trem logo
antes da passagem de uma locomotiva. Perdeu duas mulheres para o câncer, Nice
Rossi, em 1990 — quando já era casado com a atriz Myriam Rios — e Maria Rita, em
1999.
Em 2015 travou uma intensa batalha judicial para proibir a
biografia que o jornalista Paulo Cesar de Araújo escreveu sobre ele, ação que
acabou ganhando. Suas superstições ficaram conhecidas pelo público,
especialmente a de só usar as cores azul e branco na hora de se vestir. O cantor
passou a proibir que outros cantores gravassem a música “O divã”, que traz
lembranças do acidente de trem que sofreu e a música “Que vá tudo para o
inferno”, que passou a rejeitar na fase de grande religiosidade.
Tive a
oportunidade de assistir a um show do Rei no Palácio das Artes em Belo
Horizonte. Era casado com Denise, cujo avô materno era tio do Roberto Carlos.
Este gentilmente cedeu convites para que Denise e eu fôssemos ao show.
Na minha adolescência, quem, como eu, era ligado na turma da MPB e assistia o
programa “O Fino da Bossa”, comandado por Elis Regina, não podia assistir aos
programas da “Jovem Guarda” sem sofrer críticas do grupo de amigos. Eu fazia
questão de assisti-los, pois as canções do Roberto me tocavam o coração. Elas
tratavam de paixões e dores de amor que nos remetiam a um amor antigo ou mesmo
atual. Quem não se emocionou ouvindo o Rei cantar “Detalhes”?
No dia 19
de abril de 2021 Roberto Carlos completou 80 anos, mantendo uma carreira de
sucesso, com inúmeros discos e shows desde a sua juventude. Roberto Carlos é o
artista solo com mais álbuns vendidos na história da música popular brasileira,
tendo vendido mais de 140 milhões de cópias, incluindo gravações em espanhol,
inglês, italiano e francês, em diversos países. Atualmente continua se
apresentando com frequência, e estrela anualmente o especial intitulado Roberto
Carlos Especial, exibido na semana do Natal pela Rede Globo. Dezenas de artistas
já fizeram regravações de suas músicas, entre os quais Caetano Veloso, Gal Costa
e Maria Bethânia.
Vida longa ao Rei!
Cândido Luiz de Lima Fernandes é economista e professor universitário em
Belo Horizonte; email:
candidofernandes@hotmail.com

Direção e Editoria
IRENE SERRA
irene@riototal.com.br
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