VENDEDOR DE SONHOS: o novo álbum com
composições de Fernando Brant

Cândido de Lima Fernandes
Um bom
presente de Natal nos é proporcionado pela Biscoito Fino com o álbum “Vendedor
de sonhos”, que acaba de chegar às plataformas digitais. Este álbum foi
produzido e idealizado por Robertinho Brant, sobrinho do letrista, que morreu em
2015. O lançamento do CD físico está marcado para 17 de dezembro, no Rio de
Janeiro, com “pocket show” de Tadeu Franco.
O álbum traz 20 canções com
letras de Fernando Brant, uma boa parte delas em parceria com Milton Nascimento
e representa um verdadeiro mutirão afetivo: 25 cantores participaram do disco –
de companheiros do Clube da Esquina a novas vozes da MPB. Além de, naturalmente,
o próprio Milton, destacam-se as participações de Beto Guedes, Toninho Horta, Lô
Borges, Tavinho Moura, Flávio Venturini, Tadeu Franco, ao lado de outros
consagrados como Djavan, Joyce, Dori Caymmi, Zé Renato, Mônica Salmaso, chegando
aos mais jovens Samuel Rosa, Roberta Sá, Fernanda Takai, entre outros.
Sobre o álbum, Milton Nascimento, o parceiro maior e mais frequente de Fernando
Brant, declarou ao jornal Estado de Minas: “Muito legal saber que esse material
finalmente ganhou o mundo. Fernando Brant teve uma vida grandiosa, sua obra é
imortal. E não podemos parar por aí. Fernando Brant é o Brasil, a gente jamais
deve se esquecer disso”.
“Vendedor de Sonhos” é, de fato, um trabalho
muito lindo. Fazendo uma clara opção por versões mais suaves, abriga canções
maravilhosas pinçadas entra as 320 compostas por Brant, sendo 110 delas com
Milton.
A primeira faixa nos apresenta Beto Guedes de volta,
interpretando “San Vicente” (parceria com Milton Nascimento), com um belo
instrumental e um tom mais baixo.
A seguir, vem “Credo” (parceria com
Milton Nascimento), com uma linda interpretação do grupo Boca Livre.
Logo
após, temos “O medo de amar é o medo de ser livre” (parceria com Beto Guedes),
aqui gravada pela primeira vez por Milton.
A quarta faixa nos apresenta
”O que foi feito deverá (de Vera)” (parceria com Milton Nascimento), que ganhou
o toque delicado e intenso na bela voz de Mônica Salmaso. Nas palavras de
Mônica, “ela é muito linda, forte, uma canção que ouço desde criança. É uma
felicidade fazer parte desse projeto.
Neste momento, a gente precisa
reafirmar o tempo todo e o máximo possível o valor da nossa história, da nossa
cultura e da nossa identidade. A obra do Fernando Brant tem a ver com isso. Esta
música, especialmente, é muito atual.”
Na quinta faixa, “Saudades dos
aviões da Panair (Conversando no bar)” (parceria com Milton Nascimento),
imortalizada nas vozes de Elis Regina e do próprio Milton, ganhou, na voz de
Joyce, uma interpretação diferente, delicada, com muita sensibilidade.
Djavan entra na sexta faixa em “Milagre dos Peixes” (parceria com Milton
Nascimento), com uma interpretação diferente, mais suave que a do próprio autor.
Dori Caymmi vem a seguir, com sua voz grave e possante, interpretando
“Sentinela” (parceria com Milton Nascimento), clássico eternizado por sua irmã,
Nana, e pelo próprio Milton. Esta é a única música do álbum cujo arranjo não foi
feito por Robertinho Brant. Nas palavras de Dori, “Gravei em Los Angeles, só eu
e meu violão, com o meu jeito. Tem um toque de tristeza, porque o Fernando havia
acabado de partir. Quis colocar aquele sentimento ali. “Sentinela” é uma música
linda, da fase criativa do Brasil. Dos mineiros, Fernando Brant era a pessoa
mais próxima a mim, eu o admirava profundamente. Ele faz muita falta, ainda mais
nestes tempos sombrios que o país e a cultura atravessam”. Foi com Dori que
Fernando compôs sua última canção, “Serra do Espinhaço”.
A oitava faixa
apresenta a bela “Outubro” (parceria com Milton Nascimento), com uma bonita
interpretação de Nina Becker.
A nona faixa apresenta a primeira
composição de Fernando com Milton, a linda “Travessia”, gravada por dezenas de
cantores, na voz do guitarrista e compositor Toninho Horta, que aqui a
interpreta de um modo que vai na contramão de todas as outras que existem da
canção.
Vem, a seguir, “Ponta de Areia” (parceria com Milton Nascimento),
imortalizada nas vozes de Elis, Nana e do próprio Milton, lindamente
interpretada por Roberta Sá.
Lô Borges apresenta uma excelente
interpretação de “Durango Kid” (parceria com Toninho Horta) na décima primeira
faixa. Nas palavras do Lô, “Quis interpretar essa música não só por ser parceria
com o Toninho, que adoro, mas porque o Fernando era o próprio Durango Kid. Ele
costumava assinar cartas com esse pseudônimo. Fiquei muito feliz em participar
da homenagem a esse cara genial da nossa música”. Uma surpresa, na décima
segunda faixa, é a possante voz de Seu Jorge, interpretando “Saídas e bandeiras
nº 1” (parceria com Milton Nascimento).
Na décima terceira faixa,
Fernanda Takai, com sua voz linda e suave, apresenta uma ótima interpretação de
“Veveco, Panelas e Canelas” (parceria com Milton Nascimento), com destaque para
os arranjos de metais. De acordo com Fernanda Takai, a faixa transmite “uma
esperança com cara de liberdade”. Fernanda comenta ainda que “Ao mesmo tempo, a
canção fala de coisas bem cotidianas. Meu pai tinha uma compilação em cassete de
canções mineiras, e essa era uma de minhas preferidas. Ainda bem que pude ficar
com ela. Curiosamente, a Mariana, filha do Veveco (o arquiteto Álvaro Hardy,
inspirador da letra), tem feito as últimas capas de meus álbuns com sua equipe”.
Na décima quarta faixa, Samuel Rosa canta “Paisagem da janela” (parceria com
Lô Borges), que considera obra-prima. Samuel diz que admira não só o compositor,
mas o poeta e escritor Fernando Brant: “Brant tem uma escrita muito fácil,
divertida e inteligente. E ajudou muito naquilo que foi o amálgama, a gênese da
transformação da MPB.”
Tadeu Franco, que tem uma parceria com Fernando
(“Musa”) e é dono de uma das mais belas vozes entre os cantores mineiros,
apresenta, na décima quinta faixa, a impactante “Beco do Mota” (parceria com
Milton Nascimento). Nas palavras de Tadeu Franco, “Uma das coisas que mais me
marcaram em Fernando foi o fato de ser poeta dos maiores, mas nunca se comportar
como tal. Como sou do Jequitinhonha (a canção fala de um lugar simbólico de
Diamantina), a escolha não poderia ser melhor. Certa vez, o Fernando comentou
que a melodia da introdução, lembrando canto gregoriano, foi feita por ele, algo
raro num letrista. É uma obra forte, o arranjo ficou especial”.
A décima
sexta faixa apresenta “Vida” (parceria com Milton Nascimento) é interpretada por
uma das mais belas vozes masculinas do Brasil, a de Zé Renato, parceiro de
Milton em “Ânima”. Já na décima sétima faixa, a canção “Amor amigo” (parceria
com Milton Nascimento), é interpretada lindamente por Paula Santoro, uma voz que
se destaca entre as cantoras mineiras. “Canoa, canoa” (parceria com Nelson
Ângelo) é interpretada, na décima oitava, faixa por Vander Lee, que morreu em
2016. Nas palavras de Vander Lee, “Fernando era uma espécie de Carlos Drummond
dos letristas”.
Tavinho Moura, outro grande amigo de Fernando,
interpreta, na décima nona faixa, “Maria três filhos” (parceria com Milton
Nascimento). Segundo Tavinho, “Fernando é a melhor pessoa para nos representar
em nossa luta pela poesia, pela música e pela literatura. Essa composição ficou
muito marcada pelo Bituca, e eu adoro. Os arranjos do Robertinho deram o
diferencial”.
Finalmente, a canção-título, “Vendedor de sonhos” (parceria
com Milton Nascimento) é interpretada na última faixa por Flávio Venturini e
Marina Machado. Robertinho Brant comenta que “Vendedor de sonhos” foi o primeiro
nome dado à letra de “Travessia”.
Além de Robertinho Brant (arranjos,
vocais e violão), as regravações das canções de Fernando Brant contaram com
instrumentistas de primeira linha: Guilherme Monteiro e Pedro Martins nas
guitarras, Rafael Vernet nos pianos e órgãos, Lincoln Cheib nas baterias, Marco
Lobo nas percussões, Enéias Xavier nos baixos, Tattá Spalla nos violões e Jorge
Continentino nos sopros.
Não deixem de escutar este belo presente de fim
de ano. Os leitores certamente sentirão falta de “Canção da América” e “Nos
bailes da vida”, ambas parcerias de Milton Nascimento com Fernando Brant.
Robertinho comenta que estas canções já foram tão regravadas que valeria a pena
privilegiar outras. De fato, a vasta obra de Fernando Brant traz inúmeras
surpresas e possibilidades. Um feliz 2020 para todos vocês!
Cândido Luiz de Lima Fernandes é economista e professor universitário em
Belo Horizonte; email:
candidofernandes@hotmail.com

Direção e Editoria
IRENE SERRA
irene@riototal.com.br
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