“Claros breus”
a nova turnê
de Maria Bethânia

Cândido Luiz de Lima Fernandes
Maria Bethânia completou
em junho 73 anos de vida e, no mês seguinte, retornou aos palcos com o novo
show, “Claros breus”. Desta vez, antes de iniciar sua turnê, que percorrerá
Brasil e Portugal a partir de agosto, fez quatro apresentações no intimista
Clube Manouche no Rio de Janeiro. Conta-se que a cantora gracejou: “Enfim, sós!”
no palco do Manouche para os cerca de cem privilegiados espectadores que
assistiram à estreia do show na noite de quinta-feira, 4 de julho.
Este
show percorrerá algumas capitais brasileiras a partir de agosto, em palcos
maiores. Começou em São Paulo, onde a cantora se apresentou nos dias 02 e 03 de
agosto, no Credicard Hal. Depois a turnê seguirá para Portugal (Lisboa e Porto)
em setembro, retornando ao Brasil para shows no Rio de Janeiro, nos dias 04 e 05
de outubro, no Km de Vantagem Hall; em Porto Alegre, no dia 5 de novembro, no
Salão de Atos da PUC-RS; em Belo Horizonte, no dia 23 de novembro, no Palácio
das Artes; em Recife no dia 30 de novembro, no Chevrolet Hal e em Salvador, no
dia 8 de dezembro, na Concha Acústica. Outras datas e locais ainda serão
agendados.
Neste show, Bethânia fica em estado de poesia, cantando, na
melhor das formas vocais, um roteiro de 37 músicas, que inclui muitas canções
inéditas, outras inéditas na sua voz, músicos que tocam com ela pela primeira
vez e também nova direção musical e arranjos. A cantora quis fazer diferente
desta vez: mostrar as músicas inéditas ao público no show e depois registrá-las
mais tarde em disco. O lançamento de seu novo trabalho, “Claros breus”, está
previsto para o segundo semestre, cinco anos depois de “Meus quintais”.
O
maestro baiano Letieres Leite (mentor da Orkestra Rumpilezz) assina a direção
musical e arranjos, acompanhado de Jorge Hélder (contrabaixo), único parceiro de
outros shows e trabalhos; de Carlinhos 7 cordas, (violões de 6 e 7 cordas); de
Pretinho da Serrinha (percussões acústica e eletrônica); e dos também baianos
Marcelo Galter (piano e sintetizador) e Luisinho do JêJe (percussões acústica e
eletrônica). A direção e o cenário são de Bia Lessa e o desenho de luz é de
Binho Schaefer e Bia Lessa.
Além de arranjos diferentes, a cantora traz
parcerias inusitadas. Bethânia mostra músicas inéditas da Adriana Calcanhoto,
Chico César e Roque Ferreira. Canta também Lenine, Suely Costa, Chico Buarque e
Caetano, entre outros. No show estão canções ainda desconhecidas do público,
como “A flor encarnada”, de Adriana Calcanhoto, “Músicas, música”, de Roque
Ferreira” e “Luminosidade”, de Chico César, ao lado das muito conhecidas “Sábado
em Copacabana”, de Dorival Caymmi e Carlos Guinle; “Tocando em Frente”, de Almir
Sater e Renato Teixeira; “Gente” e “Sampa”, de Caetano Veloso;”Sangrando” e
“Grito de alerta”, de Gonzaguinha; “Brincar de viver”, de Guilherme Arantes e
Jon Lucien; e “De todas as maneiras”, “Olhos nos olhos” e “Rosa dos ventos”, de
Chico Buarque.
O show começa com “Pronta pra cantar”, de Caetano Veloso,
seguida de “Drama”, do mesmo autor. Logo após, Bethânia canta ”A flor
encarnada”, música inédita de Adriana Calcanhoto. Brilha na interpretação da
balada “O universo na cabeça do alfinete”, de Lenine e Lula Queiroga. Emenda, em
seguida, “Quando eu soltar a minha voz“, o primeiro verso de “Sangrando”, a bela
composição de Gonzaguinha. "Não me peça o que eu não quero ter", sentencia a
cantora, imperativa, em verso de ”Juntar o que sentir” de Renato Teixeira, outra
música surpreendente do roteiro. A seguir vem “De todas as maneiras”, de Chico
Buarque, com toda intensidade.
Em “Claros breus”, Bethânia também se
deixa seduzir pelas femininas “Pernas”, de Sérgio Ricardo, nos contornos de
samba inédito na voz da artista. “Não tire da minha mão esse copo", ordena
novamente, através de verso de “Gota de sangue” de Ângela Ro Ro, música que
gravou há 40 anos. Não poderia deixar de cantar “Lama”, de Paulo Marques e Aylce
Chaves, canção de 1952 que diz: “se meu passado foi lama, hoje quem me difama
viveu na lama também”. Depois vem a linda “Sampa”, de Caetano Veloso, música
inédita na voz de Bethânia.
Bethânia dá novas asas a “Anjo exterminado”,
de Jards Macalé e Waly Salomão e interpreta lindamente o samba “Cobras e
lagartos” de Sueli Costa e Hermínio Bello de Carvalho – “Nunca mais vai beber as
minhas lágrimas” – antes de cair no suingue do samba do Recôncavo da sua terra
Bahia na cadência aliciante de “A beira e o mar”, de Roberto Mendes e Jorge
Portugal.
No segundo ato, faz o público arrepiar ao interpretar “Olhos nos
olhos”, de Chico Buarque e “Grito de alerta”, de Gonzaguinha, a capella .
Surpreende com “Evidências”, clássico do sertanejo eternizado por Chitãozinho e
Xororó. Sorve toda a sensualidade feminina contida em “Da taça“, embriagante e
abolerada canção sentimental de autoria de Chico César. Reconduz o espectador ao
seminal porto afro-brasileiro com “Yayá Massemba”, de Roberto Mendes e José
Carlos Capinam, tema que evoca negritudes ancestrais na sequência do arrebatador
solo de percussão de Luizinho do JêJe.
Ao dar voz a esse Brasil negro que
pulsa nas entranhas do nosso povo, Bethânia encontra sentidos ocultos em
“Sinhá”, de João Bosco e Chico Buarque e reconta “História pra ninar gente
grande”, de autoria de Tomaz Miranda, Deivid Domênico, Mama, Márcio Bola, Ronie
Oliveira, Danilo Firmino e Manu da Cuíca, samba-enredo campeão da Mangueira em
2018.
A seguir, interpreta “Caipira de fato”, de Adauto Santos e “Águia
nordestina”, de Chico César. Vem logo após a belíssima “Sonho impossível” (“The
impossible dream”), de Joe Darion e Mitch Leigh, em versão em português de Chico
Buarque e Ruy Guerra.
A canção “Luminosidade” – inédita de Chico César –
põe “Claros breus” em altar sagrado. E, nesse altar, a deusa música e o canto
são reverenciados por Bethânia nos versos de “Sete trovas”, de Consuelo de
Paula, Rubens Nogueira e Etel Frota, com o mesmo fervor e devoção com que a vida
é louvada em “Músicas, música”, inédita do compositor Roque Ferreira. A seguir,
canta “Imagens”, de Sueli Costa, sobre poema de Cecília Meireles. Não poderia
faltar “Tocando em frente”, de Almir Sater e Renato Teixeira, que deixa o
público extasiado: “ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso
porque já chorei demais”... Canta com força e alma a belíssima “Rosa dos
ventos”, de Chico Buarque.
Arrasa em “Bar da noite”, de Bidu Reis e
Haroldo Barbosa e volta, antes de o pano se fechar, para interpretar divinamente
“Encanteria”, de Paulo César Pinheiro. No bis, canta “Purificar o Subaé”, de
Caetano Veloso e “O que é o que é”, de Gonzaguinha.
Para os cariocas que
não tiveram a oportunidade de assistir ao show no mês de julho, recomendo que
comprem logo seus ingressos para o dia 04 ou 05 de outubro, antes que esgotem.
Não percam este show realmente iluminado, que, mais uma vez, ratifica o
imensurável dom de Maria Bethânia.
Cândido Luiz de Lima Fernandes é economista e professor universitário em
Belo Horizonte; email:
candidofernandes@hotmail.com

Direção e Editoria
IRENE SERRA
irene@riototal.com.br
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