GRANDES CANTORAS DA MPB (6)
Mônica SalmasO

Cândido Luiz de Lima Fernandes
Com sua voz grave, de timbre
aveludado, super afinada e grande domínio técnico, Mônica Salmaso é considerada
uma das intérpretes mais representativas da música brasileira atual. Com
pouquíssima exposição na grande mídia, vem conquistando, desde os anos 90, um
público fiel em shows por todo o país, atuando também como convidada em
apresentações de diversos artistas, grupos musicais e orquestras (como a
Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e a Orquestra Sinfônica de Minas
Gerais). Em suas apresentações com orquestras, a cantora produz uma obra marcada
pelo equilíbrio de sonoridades, utilizando a voz como um instrumento que atua em
conjunto com os demais, e não à frente deles.
Mônica Salmaso nasceu em
São Paulo em 1971. O gosto pela música surgiu na infância, ao acompanhar, com a
voz afinada, os discos de música popular brasileira (MPB) que escutava em casa.
O estudo formal de música, porém, só se iniciou bem mais tarde, na época do
cursinho pré-vestibular, quando começou a fazer aulas de canto no Espaço
Musical, em São Paulo. Após alguns meses de aula, Mônica desistiu do vestibular
para jornalismo e decidiu se tornar cantora.
Começou sua carreira na peça
"O Concílio do Amor" dirigida pelo premiado diretor Gabriel Villela em 1989. Em
1995, gravou seu primeiro CD, “Afro-sambas”, um duo de voz e violão arranjado e
produzido pelo violonista Paulo Bellinati, contendo os afro-sambas compostos por
Baden Powell e Vinicius de Moraes nos anos 60, como “Consolação” e “Canto de
Ossanha”.
Em 1998, lançou, pelo selo Pau Brasil, seu segundo CD,
“Trampolim”, com a produção de Rodolfo Stroeter e participações de Naná
Vasconcelos, Toninho Ferragutti e Paulo Bellinati, entre outros. Neste CD
interpreta autores como Chico Buarque e Edu Lobo (“A Permuta dos Santos”), Paulo
César Pinheiro (“Saci” e “Na volta que o mundo dá”) ,Dorival Caymmi (“O Bem do
Mar”) e Dori Caymmi, que musicou o poema de Fernando Pessoa, “Na ribeira deste
rio”. Com esse trabalho, Mônica fez suas primeiras turnês internacionais, na
Venezuela, Estados Unidos e Europa.
Em 1999 gravou pela Eldorado seu
terceiro CD, “Voadeira,” também produzido por Rodolfo Stroeter. Em “Voadeira”,
Mônica Salmaso equilibra gêneros distintos da música brasileira como o samba, a
valsa, o baião, o xote e a modinha, promovendo com essas leituras uma ampliação
dos horizontes de nossa música popular, A Associação Brasileira de Críticos de
Arte (APCA) considerou o álbum um dos dez melhores do ano, e Mônica ganhou o
prêmio APCA de Melhor Cantora. Dona de um estilo único, Mônica oferece em
“Voadeira”, interpretações para composições inéditas como “Dançapé” (de Mario
Gil e Rodolfo Stroeter) ou “Negrinho do Pastoreio” e “Juparanã”, da compositora
e cantora carioca Joyce em duas parcerias - com Paulo César Pinheiro e Silvia
Sangirardi , assim como apresenta releituras de clássicos da MPB como “Ave Maria
no Morro”, “Minha Palhoça” “Valsinha” e “Violeira”, respectivamente compostas
por Herivelto Martins, J. Cascata, Vinícius de Moraes/Chico Buarque e Tom Jobim/
Chico Buarque.
Um dos seus melhores CDs é o “ Noites de Gala, Samba na
Rua”, com um repertório de canções de Chico Buarque, que foi indicado para o
prêmio de Melhor Álbum de MPB no Grammy Latino de 2007. Se não bastasse a bela
voz, Mônica Salmaso se diferencia de tantas outras intérpretes que gravaram
tributos a Chico por causa do auxílio luxuoso do excelente grupo Pau Brasil.
Todo o trabalho de escolha das 14 faixas (retiradas de um total de 60
pré-selecionadas pela cantora) e do arranjo delas foi feito em conjunto pela
cantora e pelos músicos Nelson Ayres, Paulo Bellinati, Teco Cardoso, Rodolfo
Stroeter e Ricardo Mosca. Vale a pena ouvir as interpretações de “Olha Maria,
“Ciranda da bailarina”, “Beatriz”, “Basta um dia” e “Construção” na voz de
Mônica.
Outro CD maravilhoso, lançado em 2011, é "Alma Lírica
Brasileira", um trabalho concebido a seis mãos com seu marido Teco Cardoso
(saxofones e flautas) e o regente Nélson Ayres (piano). O álbum foi indicado
para o prêmio de Melhor Álbum de MPB no Grammy Latino de 2011 e Mônica venceu o
23º Prêmio da Música Brasileira como Melhor Cantora de MPB. Destacam-se neste CD
as belíssimas interpretações de “Melodia sentimental” (Villa Lobos e Dora
Vasconcellos), “Lábios que eu beijei “(J. Cascata e Leonel Azevedo), “Samba
erudito” (Paulo Vanzolini), “Cuitelinho “ (adaptado por Paulo Vanzolini),
“Derradeira primavera” (Tom e Vinicius) e “A história de Lilly Braun” (Edu Lobo
e Chico Buarque), além de uma lânguida versão de “Trem das onze”, de Adoniran
Barbosa.
Em 2014, Monica Salmaso lançou o disco “Corpo de Baile”, no qual
interpreta músicas de Guinga e Paulo César Pinheiro compostas na década de 70 e,
em maioria, ainda inéditas. Com arranjos feitos por Dori Caymmi e Paulo Aragão,
além da participação de um quarteto de cordas, sopros, acordeon, contrabaixo,
piano e viola caipira, esse se revela o mais ambicioso disco da cantora.
Três anos depois de “Corpo de Baile”, Mônica Salmaso lançou seu novo trabalho,
intitulado “Caipira”. Nele, a artista apresenta 14 músicas que nos levam numa
verdadeira viagem às origens da música brasileira. Apresenta um repertório
selecionado a partir de uma pesquisa iniciada em 2003 e que, tocado de forma
intimista, ressalta a alma caipira presente no povo brasileiro. A produção do CD
é de Teco Cardoso, com arranjos de Neymar Dias, na viola caipira e no baixo
acústico; Nailor Proveta, no clarinete e sax tenor; e Toninho Ferragutti, no
acordeon. Participam ainda Robertinho Silva, na percussão e André Mehmari, no
piano.
Mônica Salmaso é dona da mais bela voz surgida nos últimos anos em
nosso país. A escolha criteriosa dos músicos que a acompanham é uma
característica marcante de seu trabalho. Outro aspecto que marca a trajetória da
cantora é a escolha do repertório, que abrange um amplo espectro da música
brasileira. Enxergando a música antes como ofício do que como um dom, Mônica
sempre se manteve avessa à aura de glamour que costuma cercar os cantores no
Brasil, promovendo o distanciamento entre artista e público. Ao contrário, é
reconhecida não só pelo seu talento musical, mas pela sua simplicidade e
proximidade de seu público fiel.
Cândido Luiz de Lima Fernandes é economista e professor universitário em
Belo Horizonte; email:
candidofernandes@hotmail.com

Direção e Editoria
IRENE SERRA
irene@riototal.com.br
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