SÉRIE GRANDES CANTORAS DA
MPB (2):
gAL gOSTA

Cândido Luiz de Lima Fernandes
A segunda crônica
dedicada às grandes cantoras brasileiras não poderia deixar de homenagear Gal
Costa. Acompanho a trajetória de Gal desde 1967, quando foi lançado o lindo LP
“Domingo”, em que a cantora se revela ao lado do estreante Caetano Veloso, com
sua voz super afinada, muito tímida e de cabelos curtos. Deste disco fez grande
sucesso a canção "Coração vagabundo", de Caetano.
Em 1968 Gal passou por
uma grande transformação. Neste ano, participou do famoso disco “Tropicália ou
Panis et Circencis”, com as canções “Mamãe coragem” (de Caetano Veloso e
Torquato Neto), “Parque industrial” (de Tom Zé) e “Enquanto seu lobo não vem”
(de Caetano Veloso), além de “Baby” (de Caetano Veloso), o primeiro grande
sucesso solo, que se tornou um clássico na carreira da cantora. Em novembro do
mesmo ano defendeu, no IV Festival de Música Popular Brasileira da Record, a
canção “Divino maravilhoso”, de Caetano Veloso e Gilberto Gil (“É preciso estar
atento e forte, não temos tempo de temer a morte”), um dos grandes momentos do
movimento tropicalista. Lançou o primeiro disco solo, “Gal Costa” (1969), que,
além de "Baby" e "Divino maravilhoso", traz "Que pena (Ele já não gosta mais de
mim)", de Jorge Benjor, e "Não identificado", de Caetano Veloso, todas grandes
sucessos. Também em 1969 gravou o segundo disco solo, "Gal", conhecido como “o
psicodélico”, que traz os hits "Meu nome é Gal" (de Roberto e Erasmo Carlos) e
"Cinema Olympia" (de Caetano Veloso). Este disco deu origem ao espetáculo
“Gal!”, onde a moça tímida dá lugar a uma agressiva mulher de cabelos
encarolados, de trajes tropicalistas e de forte personalidade.
Nos anos
70 lançou vários discos, com destaque para: "Legal”(1970), no qual fizeram
grande sucesso as músicas "London London", de Caetano Veloso e "Falsa baiana",
de Geraldo Pereira; "Fa-Tal / Gal a Todo Vapor"(1971), que traz sucessos
marcantes como "Vapor barato", de Jards Macalé e Waly Salomão, "Como 2 e 2" de
Caetano Veloso e "Pérola negra", Luiz Melodia; "Índia" (1973), com destaque para
as músicas "Índia" (de J. A. Flores e M. O. Guerreiro, com versão de José
Fortuna) e "Volta" (de Lupicínio Rodrigues); "Água Viva" (1978), o primeiro
disco de ouro de sua carreira, que trouxe os sucessos "Folhetim" (de Chico
Buarque), "Olhos verdes" (de Vicente Paiva) e "Paula e Bebeto" (de Milton
Nascimento e Caetano Veloso). Desse disco surgiu o espetáculo "Gal Tropical",
onde Gal Costa deu uma virada em sua carreira, mudando drasticamente de imagem,
passando de musa hippie para uma cantora mais “mainstream”. O show "Gal
Tropical" foi um imenso sucesso de público e crítica e gerou o disco "Gal
Tropical" (1979), em que a cantora interpreta alguns dos maiores sucessos de sua
carreira, como "Balancê" (de João de Barro e Alberto Ribeiro), "Força estranha"
(de Caetano Veloso), além das regravações dos grandes sucessos "Índia" e "Meu
nome é Gal".
Nos anos 80 os discos que mais se destacaram foram: "Minha
Voz" (1982), com as músicas "Azul" (de Djavan), "Dom de iludir", "Luz do sol"
(ambas de Caetano Veloso), "Bloco do prazer" (de Moraes Moreira e Fausto Nilo) e
"Pegando fogo" (de Francisco Mattoso e José Maria de Abreu); Profana", que traz
os hits "Chuva de prata" (de Ed Wilson e Ronaldo Bastos), "Nada mais (Lately)"
(de Stevie Wonder, com versão de Ronaldo Bastos) e "Vaca profana" (de Caetano
Veloso); "Bem Bom" (1985), com os sucessos "Sorte" (de Celso Fonseca e Ronaldo
Bastos), cantada em dueto com Caetano Veloso, e "Um Dia de Domingo" (de Michael
Sullivan e Paulo Massadas), em dueto com Tim Maia.
Nos primeiros anos da
década de 90 gravou os discos "Plural" (1990), que traz os sucessos "Alguém me
disse" (de Jair Amorim e Evaldo Gouveia), "Nua ideia" (de João Donato e Caetano
Veloso) e "Cabelo" (de Jorge Benjor e Arnaldo Antunes); “Gal" (1992), com
repertório em boa parte extraído do show "Plural", no qual se destaca a música
"Caminhos cruzados" (de Tom Jobim e Newton Mendonça); e "O sorriso do gato de
Alice" (1994), com o sucesso "Nuvem negra" (de Djavan). Esse disco deu origem ao
show de mesmo nome, com direção de Gerald Thomas, que causou polêmica por Gal
cantar a música "Brasil", de Cazuza, com os seios nus. Em 1995 lançou "Mina
d'água do meu canto", trazendo apenas composições de Chico Buarque e Caetano
Veloso, e no qual se destaca "Futuros amantes" (de Chico Buarque). Em 1997
gravou o CD "Acústico MTV", sucesso de vendas, em que cantou vários sucessos de
sua carreira e lançou com sucesso uma nova versão de "Lanterna dos Afogados",
cantando ao lado do autor desta música, Herbert Vianna. Em 1999, lançou um disco
duplo ao vivo, "Gal Costa Canta Tom Jobim Ao Vivo", realizando o projeto do
maestro, que era fazer um disco com a cantora.
Na década de 2000, gravou
o CD "Gal de tantos amores" (2001), contendo a música "Caminhos do mar" (de
Dorival Caymmi, Danilo Caymmi e Dudu Falcão); "Bossa Tropical" (2002), no qual
registrou a faixa "Socorro" (de Alice Ruiz e Arnaldo Antunes), sucesso
originalmente gravado pela cantora Cássia Eller; "Todas as coisas e eu" (2003),
contendo clássicos da MPB, como "Nossos momentos" (de Haroldo Barbosa e Luis
Reis); "Hoje" (2005), produzido por César Camargo Mariano, onde Gal reuniu
várias canções novas de compositores pouco conhecidos do grande público, tendo
se destacado "Mar e sol" (de Carlos Rennó e Lokua Kanza).
Na década
atual a cantora deu nova guinada em sua carreira e lançou "Recanto" (2011), com
arranjos eletrônicos idealizados por Caetano Veloso, Moreno Veloso e Kassin,
muito apreciado pela crítica e eleito o melhor álbum de 2011. No segundo
semestre de 2014, Gal apresentou o elogiadíssimo show ''Espelho d'água'', título
extraído da canção homônima que ganhou dos irmãos Camelo, em que resgata antigos
sucessos como "Sua Estupidez", "Tuareg", "Caras e Bocas" e "Tigresa". Em 2015
estreou a turnê ''Ela disse-me assim'', em homenagem ao centenário de nascimento
de Lupicínio Rodrigues (1914-2014). Também em 2015 é lançado o disco
“Estratosférica”, comemorando seus 50 de carreira, recheado de compositores
novos como Céu, Criollo, Artur Nogueira, Malu Magalhães, e antigos colegas como
Marisa Monte, Arnaldo Antunes, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Tom Zé,
Guilherme Arantes e João Donato.
Gal acaba de lançar, em 2018, um novo
CD, “A Pele do Futuro”, só com músicas inéditas. Do repertório de "A Pele do
Futuro", as melhores composições são as que têm assinaturas conhecidas, cujas
letras tratam da passagem do tempo, como "Livre do Amor", de Adriana
Calcanhotto; "Minha Mãe", de César Lacerda e Jorge Mautner ("Minha mãe me deu a
vida/ E sempre ela me dará a vida"), em que faz duo com Maria Bethânia,
explorando a região aguda da sua voz e reeditando o histórico contraste entre as
cantoras; "Viagem Passageira", onde está o verso "A Pele do Futuro", canção
inédita de Gilberto Gil; e "Cabelos e Unhas", engenhoso poema de Breno Góes
musicado por Paulinho Moska.
Além dessas músicas, o novo CD traz
“Sublime” (de Dani Black); “Vida que segue“ (de Hyldn); “Palavras no Corpo" (de
Silva e Omar Salomão),"Puro Sangue (Libelo do Perdão)", de Guilherme Arantes
;"Dentro da Lei", de Djavan e “Cuidando de longe” (de Marília Mendonça, Juliano
Tchula e Júnior Gomes). Tim Bernardes surpreende com a música "Realmente Lindo",
perfeita para a voz de Gal. Da mesma forma, "Mãe de Todas as Vozes" (de Nando
Reis) parece ter sido feita especialmente para Gal. Finalmente, "Abre-Alas do
Verão" uma parceria de Erasmo Carlos com Emicida, fecha o CD, fazendo lembrar os
hits que o Tremendão criou na década de 1970.
Em “A Pele do Futuro” Gal
Costa soa rejuvenescida, aos 73 anos, embora sua voz não seja mais tão
cristalina e nem produza mais aqueles agudos incríveis. Reafirma-se como uma
artista plural que transita entre vários tempos, apostando outra vez (três anos
após "Estratosférica") numa sonoridade pop, agora com momentos de “disco music”.
Vale a pena conferir o novo CD de Gal.
Cândido Luiz de Lima Fernandes é economista e professor universitário em
Belo Horizonte; email:
candidofernandes@hotmail.com

Direção e Editoria
IRENE SERRA
irene@riototal.com.br
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