Caetano e seus filhos

Cândido Luiz de Lima Fernandes
Em turnê nacional, que já passou por Belo
Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza, Curitiba, Porto Alegre e
Salvador, Caetano Veloso, ao lado dos três filhos, vem apresentando o show
Caetano, Moreno, Zeca, Tom Veloso. O grande compositor e cantor vem emocionando
a plateia, que superlota suas apresentações, ao interpretar canções que estão na
memória afetiva e trazer de volta algumas que há muito tempo não cantava em
público.
Assisti ao show em outubro em Belo Horizonte e emocionei-me
ouvindo-o interpretar Alegria alegria (que o fez conhecido nacionalmente, ao
participar do Festival da Record, em 1967); A tua presença morena; Gente;
Trem
das cores; Oração ao tempo; Força estranha; Leãozinho;
Genipapo Absoluto;
Reconvexo, Um tom e Canto do povo de um lugar. A estreita relação entre os
quatro se revela em um repertório fluido, apresentado de forma acústica e
singela, ora pelos quatro, ora em duetos, ora por um ou outro.
O cantor
e compositor baiano dedicou o show Caetano, Moreno, Zeca, Tom Veloso às mães dos
seus filhos e as homenageou ao cantar Ela e eu para Dedé Gadelha (mãe de Moreno)
e Não me arrependo para Paula Lavigne (mãe de Zeca e Tom).
Dona Canô, a
matriarca dos Veloso, que morreu em 2012, aos 105 anos, foi reverenciada com a
música Ofertório, que acabou batizando o disco e o DVD da turnê, que devem ser
lançados ainda no primeiro semestre de 2018. Como revelou Caetano, “Nunca fui
ligado à religião, cheguei a ser antirreligioso, mas, a pedido de Mabel, a mais
católica da família, compus esse tema para a missa em comemoração dos 90 anos de
minha mãe”. Ao contrário de Caetano, que se diz não-religioso, Tom e Zeca são
evangélicos e Moreno também é religioso, mas “de modo abrangente”, conforme o
pai.
Cada filho de Caetano, com seu estilo e característica, exibe
inegável talento. Todos participam ativamente do show, cantando, tocando
instrumentos diversos e fazendo vocal. O filho mais velho, Moreno, 44 anos, é o
que primeiro avançou na carreira de músico. Membro da Orquestra Imperial e do
coletivo autoral + 2 (dividido com Kassin e Domenico Lancellotti), Moreno já tem
músicas gravadas por Gal Costa e Adriana Calcanhotto, além dos próprios discos.
No show, apresenta músicas representativas do seu trabalho, entre elas a seminal
Um canto de afoxé para o bloco do Ilê, que compôs quando tinha 9 anos de idade;
e o samba de roda How beautiful could a being be, em que tocou prato, com
direito a coreografia, compartilhada pelo pai.
Bastante discreto, Zeca,
25 anos, o estreante do grupo, conquistou o público pelo carisma e o falsete
usado na autoral Todo homem, que já se revelou um sucesso nas plataformas
digitais em 2018. A música Todo homem, é um dos momentos mais emocionantes do
show. Como comentou Caetano, "Zeca, que sempre adorou música, justo quando
achava que não havia para si mesmo um caminho nessa atividade, compôs um grupo
de canções comoventes”. Zeca comenta que “tudo começou de maneira
despretensiosa, com um clima de projeto pequeno e que podia não durar muito.
Depois da estreia foi que o show cresceu, também para nós. Quando tivemos o show
gravado é que decidimos pensar em um nome e meu pai escolheu Ofertório que é o
nome do hino composto por ele para o momento do ofertório, feito para missa de
90 anos de minha avó Canô. É um nome bem escolhido. Nosso show é uma oferta que
é dada, e ele tem também algo de espiritual".
Descontraído, Tom, 20
anos, que traz traços de Caetano, usou a voz pequena, mas afinada em Clarão e
Um
só lugar, e dançou funk no embalo de Alexandrino. Segundo o pai, antes Tom nem
se interessava por música, preferindo o futebol, e até pedia para o pai
interromper as canções que ele cantava para o filho dormir. Hoje, ele integra a
banda Dônica como compositor, que teve seu álbum de estreia, em 2015.
No
show Caetano, Moreno, Zeca, Tom Veloso, a família apresenta-se com uma
simplicidade que se reflete também na iluminação e no cenário de Hélio
Eichbauer. No repertório, todos aparecem como compositores e intérpretes, e em
algumas músicas prestam homenagens.
Você me deu, de Zeca e Caetano,
foi lançada por Gal Costa e funciona como uma homenagem à madrinha de Moreno. O
mesmo acontece com O seu amor, de Gilberto Gil, que celebra o grande compositor
e irmão de vida. Já Boas vindas, de 1991, foi escrita para celebrar o nascimento
de Zeca Veloso.
Quem não assistiu ao show tem ainda as seguintes
oportunidades: em Ribeirão Preto, em 28 de abril; em São Paulo, em 26 de maio; e
no Rio de Janeiro, no Viva Rio, em 15 e 16 de junho. Em julho os quatro devem se
apresentar em Paris. Não percam, porque vale muito a pena!
Cândido Luiz de Lima Fernandes é economista e professor universitário em
Belo Horizonte; email:
candidofernandes@hotmail.com
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Direção e Editoria
Irene Serra |