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O momento no cinema de arte
Chico Lopes
O momento no cinema de arte, no mundo
inteiro, pertence à estreia de um novo NOSFERATU. Motivado pela expectativa por
esse remake de Robert Eggers, revi o NOSFERATU de Murnau, mudo, dos anos 1920. É
ainda extraordinário, embora hoje em dia fique difícil adaptar-nos àquele ritmo
mais estático dos filmes mudos. O Cinema, evoluindo até o falado e outras
técnicas mais elaboradas, como naturalmente aconteceu, fez com que nos
adaptássemos a cenas mais rápidas e a resoluções que, tornando-se implícitas,
automáticas, fazem nosso cérebro andar até à frente da narrativa e antecipar
situações e falas. Vendo um filme mudo, precisamos desacelerar nosso ritmo
mental acostumado às mudanças técnicas que vieram mais tarde e fazer ajustes ao
que está sendo mostrado. Mas as escolhas dos atores e a força de algumas cenas
são impecáveis e Murnau era um mestre indiscutível. Dele saltei para o remake
feito por Werner Herzog nos anos 1970. Sensacional, e como me acostumei a
revê-lo com frequência, acho-o superior (para meu gosto) ao de Murnau. O vampiro
de Klaus Kinski é de uma angústia sem limites.
Pelo que vi de fotos e
críticas, o novo NOSFERATU me fez lembrar mais o filme de Herzog que o de
Murnau. O de Herzog tinha um trunfo que me parece insuperável: a música de
Wagner e do grupo alemão Popol Vuh, de uma adequação perfeita. E tinha Bruno
Ganz e Isabelle Adjani. Um filmaço que sempre fica melhor revisto.
No
novo NOSFERATU, de Robert Eggers, a atriz principal Lily-Rose Depp, filha do
ator Johnny Depp, lembra muito o rosto e o figurino de Isabelle Adjani.
Elogia-se muito o vampiro, nessa versão interpretado por Bill Skarsgard, que já
havia brilhado no cinema de terror, anteriormente, por sua caracterização do
palhaço apavorante do filme IT. Mas os principais elogios vão para o grande
Wilhem Dafoe, no papel do caçador de vampiros Van Helsing, dessa vez sob outro
nome. Dafoe é garantia de altas interpretações e basta lembrar seu
extraordinário cientista no recente e premiado POBRES CRIATURAS. Não podemos nos
esquecer tampouco do DRÁCULA DE BRAM STOKER, filme que revelou um Gary Oldman
perfeito no papel clássico (NOSFERATU é uma adaptação um pouco distorcida do
original de Stoker e em 1922, quando foi realizado por Murnau, o cineasta
enfrentou problemas de acusação de plágio e não pagamento de direitos autorais à
família de Stoker).
Não vi o novo NOSFERATU ainda, e espero seu
aparecimento nos cinemas de minha cidade (Poços de Caldas). Por enquanto, posso
dizer que, quanto àquele feito por Herzog nos anos 1970 (o melhor, em minha
opinião, como já disse), recomendo a leitura do ensaio que fiz sobre o filme, “O
vampiro sem glamour no mais belo dos filmes de terror”, que está entre as
páginas 151 e 158 de meu livro sobre Cinema, NA SALA ESCURA.
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Chico Lopes é escritor e pintor, 72 anos, publicou mais de 50 livros entre próprios e traduzidos. Cinéfilo, foi por 18 anos comentarista de filmes do Cinevideoclube do Instituto Moreira Salles de Poços de Caldas. Mora em Poços de Caldas desde 1992. Recentemente, recebeu o troféu "Escritor Sulfuroso", representando a literatura de Poços no Flipoços 2024.
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Direção e Editoria
Irene Serra
Revista Rio Total
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