16/01/2025
Ano 27
Semana 1.401




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Imagens e Letras







 

O momento no cinema de arte



Chico Lopes



O momento no cinema de arte, no mundo inteiro, pertence à estreia de um novo NOSFERATU. Motivado pela expectativa por esse remake de Robert Eggers, revi o NOSFERATU de Murnau, mudo, dos anos 1920. É ainda extraordinário, embora hoje em dia fique difícil adaptar-nos àquele ritmo mais estático dos filmes mudos. O Cinema, evoluindo até o falado e outras técnicas mais elaboradas, como naturalmente aconteceu, fez com que nos adaptássemos a cenas mais rápidas e a resoluções que, tornando-se implícitas, automáticas, fazem nosso cérebro andar até à frente da narrativa e antecipar situações e falas. Vendo um filme mudo, precisamos desacelerar nosso ritmo mental acostumado às mudanças técnicas que vieram mais tarde e fazer ajustes ao que está sendo mostrado. Mas as escolhas dos atores e a força de algumas cenas são impecáveis e Murnau era um mestre indiscutível. Dele saltei para o remake feito por Werner Herzog nos anos 1970. Sensacional, e como me acostumei a revê-lo com frequência, acho-o superior (para meu gosto) ao de Murnau. O vampiro de Klaus Kinski é de uma angústia sem limites.

Pelo que vi de fotos e críticas, o novo NOSFERATU me fez lembrar mais o filme de Herzog que o de Murnau. O de Herzog tinha um trunfo que me parece insuperável: a música de Wagner e do grupo alemão Popol Vuh, de uma adequação perfeita. E tinha Bruno Ganz e Isabelle Adjani. Um filmaço que sempre fica melhor revisto.

No novo NOSFERATU, de Robert Eggers, a atriz principal Lily-Rose Depp, filha do ator Johnny Depp, lembra muito o rosto e o figurino de Isabelle Adjani. Elogia-se muito o vampiro, nessa versão interpretado por Bill Skarsgard, que já havia brilhado no cinema de terror, anteriormente, por sua caracterização do palhaço apavorante do filme IT. Mas os principais elogios vão para o grande Wilhem Dafoe, no papel do caçador de vampiros Van Helsing, dessa vez sob outro nome. Dafoe é garantia de altas interpretações e basta lembrar seu extraordinário cientista no recente e premiado POBRES CRIATURAS. Não podemos nos esquecer tampouco do DRÁCULA DE BRAM STOKER, filme que revelou um Gary Oldman perfeito no papel clássico (NOSFERATU é uma adaptação um pouco distorcida do original de Stoker e em 1922, quando foi realizado por Murnau, o cineasta enfrentou problemas de acusação de plágio e não pagamento de direitos autorais à família de Stoker).

Não vi o novo NOSFERATU ainda, e espero seu aparecimento nos cinemas de minha cidade (Poços de Caldas). Por enquanto, posso dizer que, quanto àquele feito por Herzog nos anos 1970 (o melhor, em minha opinião, como já disse), recomendo a leitura do ensaio que fiz sobre o filme, “O vampiro sem glamour no mais belo dos filmes de terror”, que está entre as páginas 151 e 158 de meu livro sobre Cinema, NA SALA ESCURA.


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Chico Lopes é escritor e pintor, 72 anos, publicou mais de 50 livros entre próprios e traduzidos. Cinéfilo, foi por 18 anos comentarista de filmes do Cinevideoclube do Instituto Moreira Salles de Poços de Caldas. Mora em Poços de Caldas desde 1992. Recentemente, recebeu o troféu "Escritor Sulfuroso", representando a literatura de Poços no Flipoços 2024.



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Revista Rio Total