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Tudo é possível aos 50?
Perder o medo desta
década e se redescobrir é a chave para a felicidade de muitas mulheres
Dra. Dorli Kamkhagi

O mundo passa hoje
por um momento único na história da humanidade. Fala-se das possibilidades que a
longevidade propicia e, com esta premissa, começa-se a pensar nas pessoas que
estão nos 50 anos e podem tantas coisas.
Até algumas décadas, ter 50 anos
era percebido como um momento do envelhecer e isto era considerado normal, pois
as pessoas não tinham estas novas possibilidades de viverem muito tempo e com
tantos recursos. A medicina, aliada a questões de mudança de comportamento, que
inclui cuidados especiais (alimentação, exames periódicos, vitaminas e
nutrientes adequados) e com uma maior preocupação com as questões emocionais e
psíquicas, tem ajudado nesta conquista de uma vida ‘maior’ e, para alguns,
melhor.
Universo Feminino
A psicanalista Dorli Kamkhagi, mestre em
gerontologia, explica que as mulheres que hoje adentram, ou mesmo as que estão
nos seus 50 e poucos anos, têm percebido o quanto de potência de vida, de beleza
e de transformação tem feito parte deste momento. “O interessante é observarmos
as personagens que têm sido mostradas neste nosso universo midiático como
sedutoras, belas e vivendo de uma forma boa e prazerosa a sua sexualidade”,
ressalta.
As protagonistas de filmes e histórias na TV também têm e
tiveram uma trajetória marcada por filhos, carreira, lar e algumas vivem o
momento avó com muita paixão e encantamento, sem que com isto fiquem afastadas
de sua imagem interna que vai atrás de seus desejos.
A psicanalista ainda
alerta que “as próprias mulheres muitas vezes não se dão conta da força e
energia transformadora que pode eclodir neste momento onde todos achavam que os
calores da menopausa as manteriam calmas. Esta nova mulher que carrega dentro de
si a capacidade de se reconectar com seu passado, aceita, sim, as transformações
do tempo. Tempo este que lhe dá também uma possibilidade de escolher como pode
ser esta fase, que cuidados em relação à sua saúde deve ter e como repensar
relacionamentos afetivos que talvez nem supram mais nada dentro de seu
imaginário”.
A condição de maturidade abre um espaço para que esta nova
mulher de 50 possa se olhar no espelho e entender o que o seu olhar procura.
Qual o significado de algumas marcas, que histórias ainda pretende terminar, que
capítulos de sua vida já concluiu e o que ainda gostaria de excluir. “Ela vai em
busca de antigos sonhos, que ficaram guardados em algum lugar de seu passado e
avaliar se vale a pena pagar o preço de experimentar algo que julgava
desaparecido. Uma busca por seu lugar, lugar de beleza, lugar de amor, lugar de
luta, lugar de transformar”, diz Kamkhagi.
Este “novo tempo” onde muito
ou quase tudo é possível amplia o universo feminino, dando condições para que
esta mulher que hoje é fruto de tantas transformações possa ser vista como bela
e desejável. “Esta possibilidade de se perceber como desejada e “desejante”
reacende antigas memórias emocionais que para muitas pareciam não mais existir”,
acrescenta a psicanalista.
De acordo com a Dra. Dorli, esta nova fase da
vida reconecta a questão do tempo Cronos (idade cronológica) com o tempo
Kairós (percepção de um tempo emocional). Deste novo entrecruzar dos tempos, passa a se
abrir um espaço emocional, psicológico e nas relações afetivas que esta “mulher
de 50” vai desenvolver com o mundo, mas, claro, antes ela precisa realmente
saber quem é.
A psicoterapeuta finaliza explicando que “este novo
(re)conhecimento permite que se perceba no mais profundo de sua essência um
encontro com o que aprendeu ou pode vir a aprender de seus desejos, de sua
sexualidade, de sua força e de se adaptar, enfim, ela tem a capacidade de poder
recomeçar a se ver num espectro mais amplo. A questão da idade desta famosa
década dos 50 pode ser também um passo na recriação de uma nova história, de uma
outra mulher que fale de si com força e propriedade e não aceite ser mais tão
frágil e assustada com os anos que passaram, que pode caminhar para a frente,
seguindo os caminhos de seu coração”.
Dorli Kamkhagi é psicanalista e mestre em
gerontologia Hospital das Clínicas de SP
(RT,14 de novembro, 2009)
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Direção e Editoria
Irene Serra
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