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O amor na idade madura
Susan Guggenheim
O amor tem
sido um tema que vem ocupando as mentes e os corações de milhões de pessoas em
todos os tempos. É ele que move a maioria dos romances, dos poemas, das peças
teatrais, dos filmes, das músicas e, por que não dizer, a vida de todos nós.
Vivemos desde a nossa infância sonhando em encontrar o verdadeiro amor,
aquela pessoa especial que realizará o nosso sonho de amar e ser amado. É um
projeto simples e talvez, um dos mais difíceis de realizarmos. Não que seja
difícil amar ou encontrar o objeto de amor mas, muitas coisas podem acontecer
que dificultam, adiam ou até, impedem os nossos desejos se realizarem. Todos os
adultos poderão lembrar das inúmeras paixões que tiveram ao longo de suas vidas
e, como tudo que parecia tão perfeito se desfez ou virou um grande pesadelo.
Fica-se muito triste quando um amor é frustrado e precisamos esquecer de
alguém. Para isto usamos inúmeros artifícios. Começamos a colocar muitos
defeitos no ex-amado(a), procuramos substituí-lo(a), fazemos canções tipo "dor
de cotovelo" ou pensamos em nunca mais voltar a amar.
Se a perda ou a
conquista de um grande amor acontece durante a nossa juventude tudo parece, pelo
menos ao olhar da comunidade em que vivemos como algo muito natural. Se os
protagonistas são, no entanto, pessoas idosas as coisas parecem se complicar. O
preconceito em relação ao amor entre os idosos ou entre um idoso(a) e um jovem é
ainda uma realidade no Brasil. É raro sabermos deste tipo de relação amorosa sem
fazermos algum comentário maldoso, do tipo "eles estão namorando porque ele é
muito rico" ou ela está com ele porque "ele está carente e procura uma figura de
mãe".
Amar na maturidade ou depois dos 60 anos, 65 anos em diante é um
grande desafio para quem quer ainda namorar ou para aqueles poucos, que
conseguiram ou gostariam de manter uma relação estável e mais duradoura. Afinal,
porque as coisa são tão mais difíceis na velhice. Os próprios idosos, na
verdade, já não contam mais com esta possibilidade. Sentem-se "fora do mercado"
dos namoros. Acham que dificilmente encontrarão alguém para amar e evitam pensar
nisto e, quando pensam ficam tristes. Procuram relembrar os amores do passado os
bons e belos momentos que viveram e acham, na maioria, que nunca mais terão a
oportunidade de namorar novamente.
O que é possível para os idosos que
gostariam ainda de encontrar alguém para amar? Vale a pena investirem e
apostarem em uma nova possibilidade de relacionamento? Devem desistir e cuidarem
apenas de viverem as suas rotinas de pessoas que já "se aposentaram para o
amor"?
Infelizmente, não existe uma resposta geral que satisfaça a todas
as pessoas e que abranja todas as possibilidades dos relacionamentos amorosos. O
que sabemos é que o amor e uma companhia carinhosa é uma coisa muito boa, também
na velhice. Temos a certeza que é muito difícil viver uma nova experiência
afetiva na velhice. No entanto, é impossível não lembrarmos da frase de Fernando
Pessoa: - Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.
Susan
Guggenheim é psicanalista e psicoterapeuta de idosos
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Direção e Editoria
Irene Serra
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