“LIBERTAI!”
Lucy! Lucy, primordial Lucy! Sob a lua na
noite dos tempos Com tua carnadura atávica Libertai! Libertai!
Vê! Vênus! Vênus de Willendorf! Na sagração de teu corpo fértil
De teu ontem que se faz hoje Libertai! Libertai!
Luzia! Luzia,
ancestral Luzia! Tua aurora em Lagoa Santa Na luz de teu semblante
primevo Libertai! Libertai!
Paraguaçu, Iracema e Ceci! Das
escritas de urucum Nas páginas de sua pele Dandara, Maria Firmina
e Tia Ciata! De alforrias atemporais Libertai! Libertai!
Eis que pedimos liberdade! Malala, Greta e Marielle! Anita
Garibaldi e Olga Benário! Zuzu Angel e Simone de Beauvoir!
Por
uma nova humanidade Sem hipocrisia ou misogenia Nem fetichismo do
machismo Ou o arcaico patriarcado
Mas, libertai e
libertai-nos! Maria Bonita e Leopoldina! Florbela, Tarsila e
Clarice! Também tu, Princesa Isabel!
Libertai e Desconfinai!
Ontem, hoje e sempre Agora e na hora de nossa Arte E além...
VISITA-GUIADA NA ESTRANHA
EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIAS SURREALISTAS DO MISTERIOSO CALIXTO ARROXELAS
Primeira fotografia: Há uma esfinge estática Em cuja pose
arquetípica Há um olhar metafísico E um semblante enigmático
Tão mágico quanto místico
Segunda fotografia: Consta um mago
demiurgo Dois sóis nascem em seus olhos E os relâmpagos da língua
Em mantras de trovoadas Ribombam no horizonte
Terceira
fotografia: Miríades indeléveis De roxas serpes aladas Dançam
sinuosamente Nas centelhas inefáveis Que fulgem de totens de ouro
Na quarta fotografia: O mapa de um labirinto De tulipas
violetas Rutilando crepitante Em sublime sinfonia Numa pele
virginal
Na quinta fotografia: Um par de musas diáfanas
Banha-se languidamente No rubro magma vulcânico Em mil êxtases de
eflúvios Quase sacros tão profanos
Na sexta fotografia: Um
pássaro violáceo Em seu voo circundante Sobre um povo em cortejo
E oráculos de epifanias Bendizendo alumbramentos
Sétima
fotografia: De uma romã aberta Afluem rios de neon Cujas
águas purpúreas Seguem no rumo do céu Um horizonte infinito
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AFFAIR E FOGO
Uma dona Madura me
nina
Sumi semi nu Numa duna duma dona
A danada da amada
Uma dona que me doma Uma dama que me dana
Nada muda essa
madame Me dá medo se me ama
Uma dama em chama Me chama pra
cama
Posso ir Te possuir?
Na cama a calma Com fusão
De corpo e alma
ECONOMIZE-ME
Não vai fazer diferença A depreciação do câmbio Pelo
superávit primário Nem a fuga de dólares Com o boom das
commodities Ou o investimento flutuante Em derivativos de
debêntures Para a catadora de sururu Lá no mangue lamacento
Que amamenta sua criança Quando baixa a maré
Não vai fazer
diferença A orçamentação cambial Dos ativos de alta liquidez
Nem a alíquota dos lucros Pelas tarifas alfandegárias Ou a
insolvência desvinculada Da receita da união Para o cortador de
cana Que morre de exaustão Antes de completar Seus trinta e
cinco anos
Não vai fazer diferença A regulação patrimonial
Na desmobilização de risco Nem a matriz econômica Pela
desvalorização indexada Ou a rentabilidade da plutocracia Com a
balança comercial Para o garoto desmilinguido Que não vai mais à
aula E como flanelinha Ganha o pão de cada dia
Não vai
fazer diferença A debacle da renúncia fiscal Nos organismos
multilaterais Nem o colapso rentista Via títulos pré-fixado Ou
o imperativo da capitalização Pelo oportuno swap cambial Para o
velho coletador De materiais recicláveis Imerso nos imundos
monturos Do depósito de lixo municipal
Não vai fazer
diferença O novo cálculo atuarial E seu déficit insolvente Nem
a revogação tributária Pelo pacto da taxa Selic Ou o tripé
macroeconômico No epicentro do capitalismo Para as meninas
esfomeadas Oriundas da periferia Que furtivamente colhem restos
Na xepa do final da feira
Não vai fazer diferença...
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