01/10/2024
Ano 27
Semana 1.385

 

 

Quem é
Tchello d'Barros?







 

Tchello d'Barros



“LIBERTAI!”

Lucy! Lucy, primordial Lucy!
Sob a lua na noite dos tempos
Com tua carnadura atávica
Libertai! Libertai!

Vê! Vênus! Vênus de Willendorf!
Na sagração de teu corpo fértil
De teu ontem que se faz hoje
Libertai! Libertai!

Luzia! Luzia, ancestral Luzia!
Tua aurora em Lagoa Santa
Na luz de teu semblante primevo
Libertai! Libertai!

Paraguaçu, Iracema e Ceci!
Das escritas de urucum
Nas páginas de sua pele
Dandara, Maria Firmina e Tia Ciata!
De alforrias atemporais
Libertai! Libertai!

Eis que pedimos liberdade!
Malala, Greta e Marielle!
Anita Garibaldi e Olga Benário!
Zuzu Angel e Simone de Beauvoir!

Por uma nova humanidade
Sem hipocrisia ou misogenia
Nem fetichismo do machismo
Ou o arcaico patriarcado

Mas, libertai e libertai-nos!
Maria Bonita e Leopoldina!
Florbela, Tarsila e Clarice!
Também tu, Princesa Isabel!

Libertai e Desconfinai!
Ontem, hoje e sempre
Agora e na hora de nossa Arte
E além...


VISITA-GUIADA NA ESTRANHA EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIAS SURREALISTAS DO MISTERIOSO CALIXTO ARROXELAS

Primeira fotografia:
Há uma esfinge estática
Em cuja pose arquetípica
Há um olhar metafísico
E um semblante enigmático
Tão mágico quanto místico

Segunda fotografia:
Consta um mago demiurgo
Dois sóis nascem em seus olhos
E os relâmpagos da língua
Em mantras de trovoadas
Ribombam no horizonte

Terceira fotografia:
Miríades indeléveis
De roxas serpes aladas
Dançam sinuosamente
Nas centelhas inefáveis
Que fulgem de totens de ouro

Na quarta fotografia:
O mapa de um labirinto
De tulipas violetas
Rutilando crepitante
Em sublime sinfonia
Numa pele virginal

Na quinta fotografia:
Um par de musas diáfanas
Banha-se languidamente
No rubro magma vulcânico
Em mil êxtases de eflúvios
Quase sacros tão profanos

Na sexta fotografia:
Um pássaro violáceo
Em seu voo circundante
Sobre um povo em cortejo
E oráculos de epifanias
Bendizendo alumbramentos

Sétima fotografia:
De uma romã aberta
Afluem rios de neon
Cujas águas purpúreas
Seguem no rumo do céu
Um horizonte infinito
AFFAIR E FOGO

Uma dona
Madura me nina

Sumi semi nu
Numa duna duma dona

A danada da amada
Uma dona que me doma
Uma dama que me dana

Nada muda essa madame
Me dá medo se me ama

Uma dama em chama
Me chama pra cama

Posso ir
Te possuir?

Na cama a calma
Com fusão
De corpo e alma



ECONOMIZE-ME

Não vai fazer diferença
A depreciação do câmbio
Pelo superávit primário
Nem a fuga de dólares
Com o boom das commodities
Ou o investimento flutuante
Em derivativos de debêntures
Para a catadora de sururu
Lá no mangue lamacento
Que amamenta sua criança
Quando baixa a maré

Não vai fazer diferença
A orçamentação cambial
Dos ativos de alta liquidez
Nem a alíquota dos lucros
Pelas tarifas alfandegárias
Ou a insolvência desvinculada
Da receita da união
Para o cortador de cana
Que morre de exaustão
Antes de completar
Seus trinta e cinco anos

Não vai fazer diferença
A regulação patrimonial
Na desmobilização de risco
Nem a matriz econômica
Pela desvalorização indexada
Ou a rentabilidade da plutocracia
Com a balança comercial
Para o garoto desmilinguido
Que não vai mais à aula
E como flanelinha
Ganha o pão de cada dia

Não vai fazer diferença
A debacle da renúncia fiscal
Nos organismos multilaterais
Nem o colapso rentista
Via títulos pré-fixado
Ou o imperativo da capitalização
Pelo oportuno swap cambial
Para o velho coletador
De materiais recicláveis
Imerso nos imundos monturos
Do depósito de lixo municipal

Não vai fazer diferença
O novo cálculo atuarial
E seu déficit insolvente
Nem a revogação tributária
Pelo pacto da taxa Selic
Ou o tripé macroeconômico
No epicentro do capitalismo
Para as meninas esfomeadas
Oriundas da periferia
Que furtivamente colhem restos
Na xepa do final da feira

Não vai fazer diferença...


     


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Direção e Editoria
Irene Serra