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ANDRÉ SCHULER
Poesia não tem preço

Convidei a poesia para ser sócia. Eu entraria com o capital; ela, com o serviço. Não seria capaz de vendê-la.
Imagine a poesia ouvindo isso. Ela só vem quando quer, vive cheia de
vontades e não firma compromisso. A questão é passional, e não
patrimonial. Quando bato à sua porta, ela corre para a janela, pois só
quer serenata. Talvez, eu deva vender um livro, mas quero ver se me livro
de envolvê-la na negociata. Livrando-a desse castigo, cedo ou tarde,
estaremos casados e, quando estivermos lado a lado, eu serei poeta, ela
será poema, e os livros serão nosso casamento. Viajaremos livres,
visitando pensadores e pensamentos, sentimentos e interpretações.
Sonhamos morar nos livros, mas longe das prateleiras. Talvez, numa cadeira
de praia ou sobre o tapete, perto da lareira, e até numa mesa de
cabeceira, mas nunca esquecidos, de bobeira. Viveremos assim. Eu
posso até ficar devendo, para conquistar esse poema, mas a minha poesia
eu não vendo.
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Direção e Editoria
Irene Serra

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