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ANDRÉ SCHULER
Convenhamos, Drummond
Ai ai, Drummond...
Eu sei que não tem coisa mais acertada e
perfeita do que conviver com a poesia, conhecendo-a por dentro e por fora,
antes de levá-la à crosta do Mundo. O problema é que, como você sugeriu,
poesias vêm de uma penetração surda no reino das palavras encontradas em
estado de dicionário. Penso que, alcançado o êxtase profundo,
torna-se tardio evitá-las, como também proibitivo ignorá-las, no seu
universo isolado de prazer. Poesias há que passam dias, meses e anos
em estado de escrivaninha ou gaveta, as quais não me dão nada, não
dizem nada e não dão em coisa nenhuma. Assim, quando há amor à
primeira vista, e o ímpeto da paixão me domina, permito-me ser consumido
pela poesia parida que, nua, chorosa e incontida, passa a predominar em
minha vida. São essas últimas as que trago, diariamente, comigo,
convivendo harmoniosamente pelo resto dos meus dias, na alegria e na
tristeza de suas mais absurdas utopias, sedutoras dos anseios deste
romântico sonhador. Convenhamos, Drummond, você também sabe o que é isso.
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Direção e Editoria
Irene Serra

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