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A origem de Valentine's Day

Desde tempos bíblicos, o dia 15 de Av (Tu beAv) tem sido celebrado como
o Feriado do Amor e do Afeto.
Da mesma forma que em
Tishá be Av
tantos fatos trágicos aconteceram aos judeus, em Tu beAv foram vários
fatos positivos, ao longo da história, marcando o fim de negativos que
vinham ocorrendo conosco, como povo.
Alguns Exemplos:
O fim das mortes da geração do êxodo
Após o caso dos espiões,
quando o povo não quis entrar em Canaã, sua geração foi condenada a uma
jornada de 40 anos no deserto, até que todos falecessem e uma nova
entraria na Terra. Segundo a agadá, isto ocorreu em
Tishá beAv e as
mortes ocorriam neste dia; as pessoas cavavam covas para si e dormiam
dentro delas; todo ano morriam 15.000. No último ano no deserto, todos
acordaram vivos. A princípio, pensaram que haviam errado a contagem de
dias e continuaram a dormir nas covas nas noites seguintes até que no
dia 15 viram a lua cheia e tiveram certeza que
Tishá beAv havia passado
sem ninguém morrer.
O enterro dos mortos de Betar
O imperador romano Adriano, após o genocídio em Betar, deixou os
corpos dos judeus abandonados, jogados em um vinhedo. Após um tempo, um
novo rei permitiu que fossem finalmente enterrados. Todo o povo uniu-se
para cuidar do enterro, que ocorreu em
Tu beAv. Nossos Sábios
acrescentaram a bênção Hatov Vehametiv -o "Bom que faz o bem", no Bircat
Hamazon, explicando: "O Bom" - pois os corpos não apodreceram enquanto
não haviam sido enterrados e "que faz o bem" - pois fez com que
acabassem sendo enterrados.
O dia em que terminavam de trazer
lenha ao Templo
Este também era o dia da oferenda de madeira
quando as pessoas traziam gravetos de madeira para o altar do Templo
(Nehemias,10:35). O festival foi instituído pelos Fariseus celebrando a
sua vitória sobre os Saduceus neste dia.
Após a reconstrução do
Segundo Templo, no tempo de Ezra e Nehemia, era grande a dificuldade de
encontrar árvores para utilizar a madeira na queima dos sacrifícios no
altar, pois a terra encontrava-se devastada. Quando alguém doava lenha
ao Templo, era muito festejado, pois sem lenha o ofício do Templo teria
que ser cancelado. Inimigos impediam pessoas de chegar com lenha a
Jerusalém. O última dia de corte para o Templo era 15 de Av. Depois, o
calor já não era tão intenso e as madeiras que não estavam secas corriam
o risco de serem infestadas por insetos, invalidando sua utilização no
altar. Por isso, o último dia de verão era festejado com grande alegria.
O Talmud dá uma razão adicional e curiosa para a importância deste
dia: daí em diante nenhuma madeira mais foi cortada para o Templo porque
o sol não era mais bastante forte para secá-la (Bavli:Taanit,30b-31a;
Tratado 121a-b; Ierushalmi:Taanit 4:11,69c). Teria havido uma mudança de
clima súbita e drástica? Se o sol não fosse mais forte bastante para
secar madeira, uma forte névoa teria se formado, bloqueando os raios do
sol? A terra teria esfriado, pelo menos na região? Talvez nunca saibamos
a resposta desta intrigante questão.
Amor fraterno
Há
outras razões para a causa e o valor do Feriado do Amor.
O rei de
Israel Ierovam ben Nevat, havia retirado o trono de Jerusalém e colocado
dois bezerros de ouro, em Dan e Bet El, para o povo idolatrar. Mas
muitos continuaram indo a Jerusalém. Para impedi-los, Ierovam espalhou
várias barreiras e guardas nos caminhos.
Num Tu beAv também, o
último rei de Israel, Hoshea ben Elá, removeu as chancelas que Ierovam
instalou e declarou: "Quem quiser peregrinar a Jerusalém, pode ir".
Neste dia foi permitido às tribos casarem-se pela primeira vez entre
si (Números, 36:8ss). Havia dois tipos de casamento proibidos: entre
tribos e entre qualquer uma e a de Benjamin.
A primeira proibição
foi transmitida por Moisés, para garantir os direitos sobre a terra de
cada tribo. Se uma filha tivesse herdado um terreno de seu pai, ao
casar-se com um homem de outra tribo, o terreno passaria a pertencer
também ao marido, prejudicando a tribo dela. Quanto à tribo de Benjamin,
após o episódio da Pileguesh Baguiva, o povo fez a promessa: “Nenhum de
nós dará sua filha a Benjamin por esposa”.
Anos depois,
os sábios analisaram as proibições e concluíram que os casamentos eram
proibidos apenas por um período. Os primeiros quatorze anos após a
entrada em Canaã foram dedicados à conquista e distribuição de terras.
Casamentos entre tribos eram proibidos durante estes anos, devido à
ausência de demarcação da terra que seria destinada a cada tribo, que
impossibilitava transferências; depois, tornou-se viável. A promessa de
não casar-se com a tribo de Benjamin era apenas para aquela geração,
pois disseram "Nenhum de nós" - não "Nenhum de nossos filhos”. Os
Benjaminitas foram readmitidos na comunidade (Juízes, 21:18 ss). As
permissões foram dadas em Tu Beav, dia de alegria e união do povo.
Deduzimos que o Feriado do Amor também era um Feriado de Amor
Fraterno.
Em Israel, tornou-se o feriado das flores, porque nele
é costume dar flores de presente a quem se ama. O Feriado do Amor era
conhecido na época do Segundo Templo. O Talmud diz que as "filhas de
Jerusalém vestiam-se de roupas brancas e iam dançar nos vinhedos,
cantando" em 15 de Av e "quem não tivesse uma esposa podia ir até lá"
para encontrar uma noiva. (Taanit, 4:8, Talmud Bavli).
Em
tempos bíblicos, o Feriado do Amor era celebrado com tochas e fogueiras.
Hoje em dia, em Israel, é costume enviar flores a quem se ama ou para os
parentes mais íntimos. A significação e a importância do feriado
aumentaram em anos recentes. Canções românticas são tocadas no rádio e
festas 'Feriado do Amor' são celebrados à noite, em todo o país.
Não há
halakhot, preceitos para esta data, exceto a orientação
que, a partir de 15 de Av, devemos aumentar o estudo de Torá, pois nesta
época do ano as noites começam a alongar-se e "a noite foi criada para o
estudo." Uma ótima noite para vocês!
O amor no judaísmo é
essencial. Rabi Haim Vital, cabalista, comparou por guemátria amor em
hebraico, ahavá, (valor numérico 13) com o Nome de Deus (26), concluindo
que, quando duas pessoas se amam, a combinação de seu amor (13+13)
intensifica a presença divina entre eles (Deus=26=13+13). Portanto,
procure o amor e ame intensamente! Cônjuges, namorados, amigos, pais,
família... Quando duas pessoas compartilham suas existências, com troca
e harmonia, Deus se faz presente!
Jane Bichmacher
de Glasman é Doutora em Língua Hebraica, Literaturas e Cultura
Judaica - USP, Fundadora e ex-Diretora do Programa de Estudos
Judaicos–UERJ, Professora Coordenadora do Setor de Hebraico-UFRJ
(aposentada), escritora
Direção e Editoria
Irene Serra
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