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Purim, uma história quase inacreditável
José Luiz Goldfaber
Havia um Rei,
havia uma Rainha... era uma vez o exílio judaico
na Babilônia. Estamos na cidade de Shushan. Uma
verdadeira New York do antigo oriente. Aliás, em
1993, o Museu Metropolitano de New York dedicou
uma sala especial todinha montada sobre a cidade
de Shushan. Realmente uma grande cidade. Os
arqueólogos e antropólogos trabalharam
intensamente a região e podemos redescobrir em
detalhe o ambiente cultural e político que lá
existiu há mais de 2000 anos. Sabemos
cientificamente da grandiosidade desta cidade que
chegou a ser a capital política e cultural de um
grande império no Oriente.
Foi em Shushan
que aconteceram os fatos narrados na Meguila de
Ester. Uma história quase inacreditável.
Após a
destruição do primeiro templo sagrado, muitos
de nossos antepassados viviam em Shushan e
espalhados por muitas cidades do Império. Foram
os dias do primeiro grande exílio judaico.
Podemos imaginar que viviam como em todos os
exílios de nosso povo: buscando equilibrar as
forças da tradição com as interações com a
cultura do povo dominador. Nosso exílio é
sempre uma situação difícil. Nossas escrituras
não são apenas livros e discussões sobre
mandamentos e códicos. São também livros de
história, de nossa história. Nesta história
milenar, a Terra de Israel ocupa lugar central.
No exílio sempre experimentamos os dilemas entre
os projetos sonhados em nossa história,
incluíndo a volta a Terra de Israel, e a vida
imediata nos países, reinos e impérios. Há
pela própria natureza da vida no exílio uma
situação de tensão.
No contexto
relatado na Meguila de Ester surge um ministro
poderoso do rei que desencadeia um anti-judaísmo
profundo e radical. Acusa nosso povo de querer
seguir leis próprias. Caracteriza assim uma
ameaça ao Império. Propõe a eliminação dos
judeus. Sabemos hoje que há momentos de
instabilidades nos impérios e a
"solução" de eliminar os judeus surge
como uma opção para tiranos reconquistarem a
popularidade perdida. Haman, o ministro que
odiava os judeus, conquista junto ao rei o
decreto de eliminação. A sorte é lançada e
fixado o dia da eliminação final. Podemos nós
imaginar como nossos antepassados se sentiram?
Mordechai rasga suas roupas! O decreto com o selo
real é a desgraça absoluta para os filhos de
Israel. Mas o sábio Mordechai e a Rainha Ester
agiram com astúcia e com sabedoria. Souberam
preparar o terreno para defender o seu povo no
momento preciso. A Rainha Ester apresenta-se
frente a frente ao seu marido, o Rei. Este
encontro poderia significar sua própria morte.
Somente podiam apresentar-se ao rei, face a face,
aqueles convocados para tal. Forçar uma
audiência poderia significar a morte imediata. E
Mordechai pede a Ester que vá ao Rei e defenda
seu povo, os descendentes da Casa de Jacó, os
filhos de Israel. O argumento de Mordechai é
profundo; ele pede a Ester que não se iluda com
a idéia de que sendo ela a própria rainha, sua
vida seria obviamente poupada. Mordechai adverte
que mais cedo ou mais tarde sua identidade
judaica seria descoberta e o dia de sua morte
não tardaria. Sabemos que na história das
perseguições a nosso povo muitos foram aqueles
que não aprenderam com os conselhos de
Mordechai, e sendo muito menos que uma Rainha
Ester, acreditaram que poderiam ficar livres das
perseguições. Posições políticas e
econômicas privilegiadas causaram completa
ilusão.
Ester age com
sabedoria e escuta as palavras iluminadas de
Mordechai. Solicita um jejum de seu povo,
enche-se de forças e vai ao encontro do Rei... a
partir daí a história de Purim é conhecida,
nossa sorte é revertida, e o dia de nossa morte
coletiva torna-se um dia de louvor à vida.
Baruch Ha Shem!
Fonte: Hebraica - SP

Direção e Editoria
Irene Serra
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