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A Torá
Jane Bishmacher de Glasman
O significado do
estudo da Torá no judaísmo
A mitzvá de estudar a Torá
(entendendo-se por este termo não apenas o Pentateuco, mas também toda a
literatura relacionada com a lei oral e escrita e seus comentários) é
uma das ideias básicas, originais e intrínsecas do judaísmo, tal como
está escrito na Mishná: “O estudo da Torá está acima de tudo” (Peá 1-1).
Este estudo tem duas metas: 1. conduzir à prática, já que sem
conhecimento é impossível ser observante. Hilel disse: “O inculto não
pode temer o erro nem o ignorante ser piedoso” (Avot 2-5); 2. o
estudo da Torá é em si mesmo um dever religioso de suma importância. Uma
discussão registrada na Mishná reflete este duplo propósito. Os sábios,
trocando opiniões sobre o que é mais importante no judaísmo, o estudo ou
a prática, aceitam finalmente a opinião de Rabi Akiva: “O estudo é mais
importante porque conduz à prática” (Kidushin 40b). No judaísmo, o
estudo não é uma prerrogativa do sábio ou do estudioso: é uma mitzvá que
tem que ser cumprida por todos. Não há maior inimigo do judaísmo que a
ignorância, nem ideia mais alheia que deixar o estudo nas mãos de um
pequeno grupo de estudiosos “profissionais”.
A leitura
da Torá
Logo após o retorno a Israel do exílio da
Babilônia, o escriba Esdras e o governador Nehemias reorganizaram o
povo, restabeleceram a obediência à Torá e, para que todos pudessem
compreender o Livro de Moisés, prescreveram que ela fosse lida em
público, e as passagens fossem traduzidas e comentadas em aramaico, a
língua dominante naquela época. Estas leituras teriam lugar aos sábados
(por ser shabat) e às segundas e quintas, dias de feira, isto é, em que
o povo se reunia. Este hábito é ainda praticado em nossos dias. A única
diferença é que as diferentes seções (parashiot) são simplesmente lidas
sem tradução para o aramaico.
De mais, construíram-se edifícios
públicos em todas as cidades fora de Jerusalém (onde ficava o Templo)
para que o povo pudesse se reunir para orar e escutar a leitura da Torá.
Foi assim que surgiu o Beit haKnesset (casa de reunião) ou sinagoga
(palavra grega). Não há disposições especiais para a construção de uma
sinagoga. Qualquer local pode ser destinado à oração pública que deve
ser feita em presença de 10 judeus. Deve-se evitar somente toda imagem
ou escultura. A simplicidade austera das sinagogas é para predispor a
alma à meditação. Um estrado ligeiramente elevado, no centro da
sinagoga, serve para a leitura da Torá. Na parede oriental, isto é, na
direção de Jerusalém, para onde os fiéis dirigem seus olhares,
encontra-se o Aron haKodesh (arca sagrada), que contém Rolos da Torá.
Estabeleceu-se o uso de, nas leituras públicas, ler a Torá em um rolo de
pergaminho escrito à mão, tal como no tempo de Esdras e não de um livro
qualquer. Esses rolos, são objetos de especial atenção: são recobertos
de tecido precioso e de ornamentos de prata. Ao serem retirados da Arca
e reconduzidos a ela, são acompanhados por cantos. A Torá é dividida
em 54 parashiot, que se lê no decurso de um ano, cada sábado de manhã. O
ciclo da leitura começa e termina no dia de Sim’hat Torá. Hoje, nem
todos podem ler o texto hebraico sem erros. Por isso um mestre leitor
(Báal Korê), assistido, em caso de necessidade, por um “ponto” (Makrê),
procede a leitura, com uma melopeia própria. Aos sábados, 7 judeus,
maiores de 13 anos, são chamados à leitura da Torá. O 1º lugar é
reservado a um Cohen, sacerdote; o 2º a ser chamado é um Levita; os
outros são judeus comuns. Em Iom Kipur, são 6 os judeus chamados à Torá;
nas grandes festas, 5; no começo do mês e nas semi-festas, 4; nas
segundas e quintas, dias de jejum e sábados à tarde, 3: Cohen, Levi e
“Israel”. A Grande Assembleia
A mais alta autoridade na sinagoga
não é nem o Cohen nem o cantor, mas sim o rabino, o mestre. Como já foi
dito, o estudo da Torá é considerado mais importante que a oração.
Esdras era escriba. Naquela época, não existiam livros impressos e eram
escritos à mão sobre rolos de pergaminho. Enquanto Nehemias
supervisionava a construção de um muro em redor de Jerusalém, Esdras
reuniu uma Assembleia de anciões e de outros escribas afim de difundir a
Lei entre o povo. Esta Grande Assembleia (Knesset haGdolá) é que
regulava a vida religiosa dos judeus. Os persas, por estarem ocupados
com a guerra aos gregos, governavam liberalmente o país e não se
ocupavam com a vida em Israel. A Bíblia: A Torá
A primeira
preocupação de Esdras foi reunir os Livros Sagrados escritos até então,
para copiá-los e difundi-los. Estes livros formaram a coletânea que se
chamou mais tarde Mikrá, quer dizer, texto lido. Mais tarde, quando
Israel caiu sob o domínio dos gregos e o grego tornou-se língua oficial
de todos os países do Oriente, foram também traduzidos para o grego e
difundidos sob o nome de Bíblia, que significa “livros”.
A Bíblia é
dividida em 3 partes, que se chamam Torá (Pentateuco), Neviim (Profetas)
e Ketuvim (Escritos). Em hebraico, se chama Tanakh (lê-se kh=rr),
segundo as iniciais hebraicas dos nomes das 3 partes. A Torá, chama-se
também Humash (Pentateuco, em grego), que significa 5 tomos e é a base
da vida judaica. Ela contém não somente a exposição das leis do povo de
Israel, como também remonta à criação do mundo e à história da formação
do povo de Israel.Os 5 volumes tomam seus nomes hebraicos de suas
primeiras palavras: 1. Bereshit (Gênesis) - conta a criação e a
história do mundo até Abraão e a vida dos patriarcas (Abrão, Isaac e
Jacó) até a chegada ao Egito. 2. Shemot (Êxodo) - relata a escravidão
no Egito, a grande libertação e os mandamentos dados sobre o Monte
Sinai. 3. Vaykrá (Levítico) - fala das regras concernentes aos
levitas, aos sacerdotes, ao culto, ao Templo, às festas e aos deveres do
homem para com Deus e para com o próximo. 4. Bamidbar (Números) -
descreve a travessia do deserto até a chegada ao Jordão. 5. Devarim
(Deuteronômio) - contém uma recapitulação e as últimas recomendações de
Moisés.
A Bíblia: Os Neviim
Os sofrim, continuando a obra de
Esdras, puseram em ordem os demais livros sagrados, formando uma
coletânea chamada Neviim (Profetas). Os primeiros livros narram a
história do povo judeu desde a entrada em Canaã até o exílio. São eles:
Iehoshua (Josué), Shoftim (Juízes), os 2 livros de Shmuel (Samuel) e os 2
livros de Mela’him (Reis). Estes são seguidos dos livros que contêm os
discursos e profecias dos 3 maiores profetas: Isaías, Jeremias e Ezequiel
(Ishaiahu, Irmiahu e Ie’hezkel) e de 12 profetas menores, Trei
Assar (12): Hoshea, Yoel, Amos, Ovadiá, Yoná, Mi’há, Na’hum, Habacuc,
Tsefoniá, ‘Hagái, Ze’haria e Mala’hi (Oséas, Joel, Amós, Obadias, Jonas,
Miquéas, Nahum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias).
Os
livros dos profetas são obras poéticas de grande beleza. Breves
capítulos, chamados Haftará, são lidos após a Torá, nos sábados, dias de
festa e de jejum. Suas palavras contêm ainda em nossos dias consolação e
fazem antever um mundo futuro mais santo e mais justo, onde os homens
“transformarão suas espadas em arados e suas lanças em podadeiras; e não
levantará nação contra nação espada, nem aprenderão mais a guerra”
(Isaías, 2-4).
A Bíblia: Os Ketuvim
A terceira parte da Bíblia tem
o nome de Ketuvim (Escritos) ou Hagiógrafos, em grego. Neles estão
reunidos os Salmos (Tehilim), atribuídos, em, grande parte, ao rei Davi,
os Provérbios (Mishlei) de Salomão, o Livro de Jó (Yov), as cinco
Meguilot, o Livro de Daniel, os Livros de Esdras e Nehemias (Ezrá e
Nehemiá) e as Crônicas (Divrei haYamim).
As cinco Meguilot (Rolos),
que são lidas em Pessah, Shavuot, Tishá beAv, Sucot e Purim, são,
respectivamente: Cântico dos Cânticos (Shir haShirim), idílio campestre
atribuído a Salomão e que é uma alegoria sobre o amor entre Deus e
Israel; Livro de Rute, que conta a estória de uma camponesa do tempo dos
juízes, bisavó do rei Davi; Lamentações de Jeremias (Ei’há), sobre a
destruição do Templo; Eclesiastes (Kohelet), considerações do rei
Salomão sobre a vaidade da vida; Livro de Ester.
Colaboração de Jane Bichmacher de Glasman, escritora, autora do livro
À Luz da Menorá janeb@hotmail.com
Direção e Editoria
Irene Serra
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