01/09/2024
Ano 27 Número 1.381
ARQUIVO
W.J. Solha
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W.J. Solha
UM LIVRO QUE DÓI
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Cláudio José Lopes Rodrigues acaba de me mostrar a
pobreza de minhas ficções, jogando-me na cara a mais contundente parte de
suas memórias, com sua realidade revelada de uma forma extremamente
nua.... e crua. A figura de Dona Zeinha - sua mãe, centro do livro – com
sua fúria de Natureza em espasmos de furacões e terremotos sobre os filhos
indefesos, principalmente ele, que foi seu primogênito – tem o vigor que
poucas ou nenhuma das criaturas de Dostoievsky alcançaram. Você, que vai
ler estas memórias depois que, feito Virgílio, eu o antecipei na travessia
desse inferno, vai ter como introdução um vigoroso e cruel levantamento do
que foi a família judia primitiva segundo o Antigo Testamento, dado como
sacrossanta no catecismo de um ingênuo colégio marista frequentado pelo
autor quando menino. Vai ter, em seguida, um levantamento do que – para
outros – é a glorificação da mulher no Dia das Mães, cegos – segundo o
autor - à violência estúpida promovida por muitas dessas criaturas a seus
por elas arrebentados rebentos, como ele e seus irmãos, vítimas de uma
tirana de palmatória, corda, peixeira, veneno e revólver à mão, sem
contestação de qualquer força exterior e superior, nem na Terra, nem –
muito menos - no Céu.
Procurando o próprio equilíbrio numa nova
travessia do que foi sua infância, Cláudio José Lopes Rodrigues faz um
corte transversal na sua família e na família paraibana de sua época, bem
como da educação e da religião nos tempos que viveu, criando um livro que,
na verdade, dói muito. Sim, de todo o coração: coisa rara: esse livro dói.
(Publicado em "SOBRE 50 LIVROS QUE EU GOSTARIA DE ESCREVER" –
Ed. Ideia– 2012 – João Pessoa/PB)
(02 de agosto/2013)
CooJornal nº 851
Comentários sobre o texto podem ser encaminhados ao autor, no email
wjsolha@gmail.com
Waldemar José Solha é escritor, poeta, dramaturgo,
roteirista, ator e artista plástico.
Recentemente, trabalhou no filme premiado internacionalmente ‘O SOM AO REDOR”,
de Kléber Mendonça Filho e em “Era uma vez eu, Verônica”.
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