12 de abril, 2013
Ano 16 -  Nº 835




 

ARQUIVO
W.J. Solha

 

 

W.J.Solha - CooJornal


W.J. Solha




PERFEITO!

 


O primeiro gole de cerveja bem gelada em dia de muito calor: perfeito! Ronaldinho Gaúcho dando um lençol em Rey, driblando o goleiro Rojas e marcando seu primeiro gol pela Seleção Brasileira: perfeito! Balduíno Léllis acocorando-se no que gira o corpo nos calcanhares e dispara – quase que simultâneos - um tiro em cada vértice de um triângulo na parede a vários metros de distância: perfeito! Vandal Dionísio dizendo “Só vi ética na Rússia”, nos anos 80, ante minha fúria contra a esculhambação capitalista: perfeito!

Ah, Gene Kelly cantando e dançando na chuva: perfeito! Um abajur art nouveau criado por Louis Comfort Tiffany: perfeito! A máscara mortuária de Tutankhâmon, de ouro e lápis-lazúli: perfeita! Kathleen Battle cantando o Agnus Dei da Missa da Coroação de Mozart, sob a regência de Von Karajan: perfeita! O pas-de-deux de Vladimir Vasiliev e Natalya Bessmertonova no Spartacus de Khachaturian: perfeito! O Las Meninas de Velázquez, pelos vãos que há entre elas: perfeito! O quadriculado azul-e-branco nas torres mouriscas da Casa Vicens, de Gaudí: perfeito! Homero, quando faz Heitor – ao chegar da batalha - tirar o elmo com enorme crina de cavalo, pra mostrar ao filho apavorado que é apenas seu pai chegando de mais um dia de batente: perfeito! Affonso Romano de Sant´Anna ao versejar que a catedral de Colônia é o Himalaia do Eu: perfeito! Zé Limeira dizendo que se você for filósofo mandará fotografá-lo, e - se fotógrafo – filosofá-lo: perfeito! O curtíssimo poema Carrinho de Mão, de William Carlos Williams: perfeito!

Bill Gates, quando acreditou no software e previu o mundo tomado por personal computers, tornando ele mesmo isso possível: perfeito! Larry Page e Sergey Brin ao criarem o fabuloso site de busca para a internet: perfeitos! Falar com a família pelo telefone – lá de Lisboa - como se eu estivesse do outro lado da rua: perfeito! A decidida arremetida de um Boeing ao céu, deixando para trás todas as mazelas do mundo: perfeita! A ilusão de que o sol nasce, quando, na verdade, a Terra é que se move: perfeita! Olhar para a cintilante superfície de DVD e saber que ali está o Rastros de Ódio, de John Ford, ou a Paixão Segundo São Mateus, de Bach, inteiros: perfeito!

Ah, não troco repente de Oliveira de Panelas ou declamação de Jessiê Quirino nem pela ópera Nixon in China, de John Adams, ou pelo Nelson Freire executando o Concerto número dois, para piano e orquestra, de Rachmaninoff: perfeitos! Sérgio de Castro Pinto escrevendo que a girafa tem um quê de Audrey Hepburn: perfeito! Chico César e Zabé da Loca levando a Paraíba ao triunfo lá no Sul: perfeitos!

Hay momentos en que la vida se hace insoportable. Mas também existem essas pérolas para torná-la experiência, apesar de tudo, maravilhosa!



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Waldemar José Solha é escritor, poeta, dramaturgo, roteirista, ator e artista plástico.
Recentemente, trabalhou no filme premiado internacionalmente ‘O SOM AO REDOR”, de Kléber Mendonça Filho  e em “Era uma vez eu, Verônica”.
wjsolha@superig.com.br 


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