Pesquisas diversas divulgadas até o mês passado
(setembro de 2019) mostram que a imprensa permanece com um
considerável índice de credibilidade entre os brasileiros. Em
julho, o Instituto Ipsos, com sede na França, divulgou um
levantamento realizado em 27 países que apontou o Brasil
(empatado com a Alemanha) como o terceiro país que mais confia
na imprensa, com 65% de aprovação dos consultados, abaixo da
Índia e da China. Na média geral dos países pesquisados para o
trabalho “Trust in the Media” (Confiança na Mídia) o resultado
de confiabilidade em jornais e revistas foi de 47%.
Em
agosto, coube ao IBOPE divulgar um estudo sobre o grau de
confiabilidade das instituições brasileiras. Os meios de
comunicação ocuparam o 7º lugar em credibilidade, acima do
Ministério Público, Poder Judiciário, Congresso Nacional e
partidos políticos. O índice de Confiança Social (ICS) da
pesquisa em relação à imprensa atingiu 61 pontos, de um índice
de zero a 100.
Meses antes, em abril, uma consulta
levada a efeito em cinco países (Brasil, China, França, Reino
Unido e Estados Unidos) pela Kantar Media, empresa inglesa
especializada em pesquisa de mercado, revelou que 53% dos 5 mil
pesquisados nesses países confiam no que leem nos jornais. O
estudo intitulado “Dimension 2019” também indicou que 36%
confiam nos textos impressos contra 28% que confiam no online.
Também a ONG alemã “Transparência Internacional” apresentou
em setembro a 10ª edição de seu relatório sobre a corrupção na
América Latina e Caribe, que reuniu 17 mil entrevistados em 18
países. No caso específico do Brasil, a imprensa aparece como a
menos corrupta entre 11 instituições pesquisadas.
Influenciadores
Diante dos números apresentados, não se
pode ignorar a responsabilidade daqueles que dispõem de espaço
na imprensa para emitir, formar e direcionar opiniões. Lembrando
que à imprensa escrita se junta a versão digital, que pelo baixo
custo da assinatura ampliou, em milhares, os leitores dos
jornais. No ranking dos jornais brasileiros mais lidos, somadas
as edições impressas e digitais, “A Folha de São Paulo” encerrou
o mês de março/2019, com 332.4 mil assinantes, seguido pelo “O
Globo”, com 319,7 mil. “O Estado de São Paulo” ficou na terceira
posição, com 245 mil assinantes.
Sabendo-se que o texto
opinativo visa o assentimento às ideias, valores, teorias e
juízos de quem escreve, ao leitor caberá a opção consciente de
distinguir o que se enquadra efetivamente no real daquilo que se
configura em um ideário de aparências e enganos.
Como
bem alerta Cristopher Lash no livro “Cultura do Narcisismo”
(1979), “para algo ser aceito como real, basta que apareça como
crível ou plausível, ou como oferecido por alguém confiável”.
Quanto à argumentação, é preciso que seja suficientemente
convincente para ser bem sucedida. “A argumentação só é bem
sucedida quando convence o destinatário e não, como muitos
pensam, atinge a verdade”, escreveu Bernard Meyer, na obra “A
Arte de argumentar” (2008).
O tema também despertou a
atenção de Theodor W. Adorno. A manipulação e o uso de clichês
na composição de editoriais, artigos, colunas e crônicas nos
meios de comunicação, em textos na propaganda, literatura e
também nas artes, incluindo o cinema e a música, foi abordado no
livro “Dialética do Esclarecimento” (1947), escrito a quatro
mãos com Max Horkheimer. Para identificar esse tipo de produto
homogeneizado que visa impor uma cultura padronizada à
sociedade, Adorno criou a expressão “indústria cultural”. De
acordo com o filósofo alemão, esse tipo de cultura representa a
própria autodestruição do pensamento esclarecedor, abrindo
espaço para o totalitarismo. “A liberdade na sociedade é
inseparável do esclarecimento”, proclamava.
Um contexto
que na década de 1940 favoreceu as doutrinas fascistas e
nazistas, na visão de Adorno. Porém, passados tantos anos, o
advento da globalização e o avanço da tecnologia de comunicação,
diferente do que a mídia propaga, não foram capazes de promover
uma real diversidade de pensamento e ação em larga escala.
Observa-se uma aceleração na padronização de costumes, gostos,
tendências, ideias, ideologias sociais e modelos de consumo que
têm nesses mesmos meios de comunicação (aí incluindo a
propaganda, o cinema, a música etc.), seus principais
propulsores.
Assim, até o propósito da função básica de
informar, que é “dar conhecimento” ao leitor acerca de
determinado acontecimento, fato ou fenômeno, tem sido
questionado. O jornalista Ignacio Ramonet, diretor da edição
espanhola do “Le Monde Diplomatique” e autor de “Mídia, Poder e
Contrapoder” (2013), não acredita que se possa dar a informação
de maneira objetiva utilizando-se de uma abordagem imparcial.
“Existem fatos objetivos, mas o comentário sobre eles será
sempre diferente”, afirma.