Sheila Sacks
Lula diz que em 2011 retorna
às origens
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Prometendo que a partir
de 1º de Janeiro de 2011 volta a ser um militante do PT (Partido dos
Trabalhadores), Lula, de 64 anos, diz em tom de brincadeira que almeja
ser o melhor ex-presidente que o Brasil já teve, ou seja, “não dando
palpite”. Mas, como líder de seu partido vai trabalhar junto ao
Congresso pelas reformas tributária e política que não conseguiu levar
adiante. Também pretende transferir algumas experiências sociais bem
sucedidas como o “Bolsa Família” para países da América Latina e da
África.
Perto de encerrar o mandato de oito anos (em 31 de dezembro), o
presidente Lula está convicto de que o Brasil é hoje uma democracia
consolidada. Respondendo às críticas à atual política externa de
estreitar os laços econômicos com governos denunciados por entidades
internacionais de violarem os direitos humanos (Cuba, Venezuela, Irã,
Líbia, Guiné Equatorial, Quênia, Tanzânia, Zâmbia e Gana, entre
outros), o presidente brasileiro afirma que gostaria de que todos os
países tivessem o mesmo grau de liberdade encontrado no Brasil. “Quem
pode dizer que há país mais livre do que o Brasil? Duvido que exista.”
Na entrevista ao jornal “Brasil Econômico” ele defende a postura
brasileira de buscar novos parceiros comerciais, ainda que não
aprovando certas situações internas. “Uma coisa é apoiar Cuba, outra é
concordar com prisões políticas, ressalta Lula. O presidente lembra
também da época em que ficou preso em razão de sua militância
sindical. “As pessoas que estão presas acham que podem contar com a
defesa de todos que estão do lado de fora. Quando fui preso, não tive
a solidariedade de todos. Mas é óbvio que gostaria que não houvesse
preso político em nenhum lugar do mundo.”
Visita aos países árabes
Quanto aos resultados de sua política externa, Lula é enfático na
avaliação positiva: “Tenho orgulho de ter sido o primeiro presidente
brasileiro a visitar todos os países árabes. Fui a todos os da América
Central e o primeiro chefe de Estado desde o imperador Pedro II a ir a
países como o Líbano.” O presidente destaca que suas viagens ao
continente africano elevaram a balança comercial de 3 bilhões de
dólares para 26 bilhões.
Segundo Lula, a decisão de ampliar as relações diplomáticas,
intensificando o convívio político e comercial com países de culturas,
regimes e padrões diversos, foi enunciada ainda em 2003, no Fórum
Econômico de Davos, na Suíça. Foi lá que ele disse para o chanceler
Celso Amorim que o Brasil iria ter uma nova política externa. “Era
preciso acabar com a mesmice do século 20, já que não fazia sentido
olhar para a Europa sem enxergar a África, olhar para os Estados
Unidos sem enxergar o Oriente Médio e o restante da América Latina”.
Lula observa ainda que o Brasil é o gigante da América do Sul, com 16
mil quilômetros de fronteira seca e só não mantendo fronteira com
Chile e Equador.
A esperança no pré-sal
Confiante de que a exploração das megas reservas de petróleo do
pré-sal vai proporcionar ao Brasil as condições e as oportunidades
para um salto de qualidade em áreas como a educação, ciência e
tecnologia, Lula também acredita que o país irá integrar o seleto
grupo das cinco maiores economias do mundo já em 2016, ano dos Jogos
Olímpicos no Rio de Janeiro. Em 2009 o quinteto era formado pelos
Estados Unidos, Japão, China, Alemanha e França, tendo o Brasil na
oitava colocação.
Um Brasil mais justo
Apesar de reconhecer que ainda há muita coisa por fazer, o presidente
Lula avalia que o Brasil nesses últimos oito anos mudou de cara e
avançou em várias áreas. “Em 2003 havia 380 bilhões de reais em
crédito bancário, agora chegamos a 1,5 trilhão. Por sua vez, a
agricultura familiar saiu de 2,4 bilhões de reais de financiamento
para 16 bilhões.” Lula destaca que a classe C reúne agora mais de 30
milhões de pessoas. “Na crise (2009) foram os pobres que saíram às
compras quando as classe A e B ficaram com medo. Na véspera do Natal
de 2008 ousei convocar o brasileiro em rede nacional de rádio e
televisão a consumir, explicando que essa era a maneira de manter a
roda da economia girando.”
Aos que discordam da atual carga tributária de 34%, considerando-a
muito elevada, Lula pondera que é dos impostos que sai o dinheiro para
a execução das políticas públicas sociais. “Quando colocamos 100
bilhões de reais no BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento) é porque
quero que ele seja dez vezes maior que o Bird (Banco Mundial). Quero
um BNDES internacional. Os empréstimos saltaram de 34 bilhões de reais
em 2006 para 139 bilhões em 2009 e chegarão logo a 200 bilhões”,
afirma Lula, garantindo que deixa ao seu sucessor um país
infinitamente mais sólido, justo e democrático.
(31 de julho/2010)
CooJornal
no 695