16/01/2025
Ano 27 - Nº 1.401
ARQUIVO
SHEILA SACKS
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Sheila Sacks
NO FRONT DA INFORMAÇÃO
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Já há alguns anos, as páginas dos jornais que estampam as reclamações de
leitores sobre os mais variados assuntos têm público certo e cativo, que
tende a crescer. Da mesma forma, o rádio, a TV e a internet somam espaços
particularizados para as denúncias de serviços não executados ou malfeitos,
promessas descumpridas, produtos danificados, deslizes no atendimento e
omissão danosa de regras, prazos e acordos. Ciente e consciente de sua
respeitável posição de cliente, usuário, consumidor, comprador e pagante, o
cidadão brasileiro encontra na mídia – entendida como os meios de comunicação
de massa – um eficiente canal para dragar e escoar, a céu aberto, as
solicitações, reclamações e relatos dessas pendengas que aborrecem e
tumultuam o cotidiano de qualquer ser humano.
Mas é na área do serviço
público que o cidadão brasileiro está tendo a oportunidade de recorrer, mais
assiduamente, aos préstimos da mídia, sempre atenta aos problemas urbanos das
cidades. Ainda que uma escola com goteiras, localizada em um bairro da
periferia, não tenha o mesmo peso editorial de um cano que se rompe e inunda
uma rua da Zona Sul do Rio de Janeiro, o reclamante sempre encontrará um
espaço na rede midiática para expor, veicular, sensibilizar e transmutar um
fato isolado e distante em um problema próximo e de interesse comum.
Fogo cruzado
É nessa hora que as assessorias de comunicação dos órgãos
públicos afetados pelas ocorrências são instadas a desfazer ou deter o
possível dano causado à imagem dos mesmos. O registro da imprensa, rádio e TV
de crianças estudando em uma sala de aula com água escorrendo pelas paredes
ou carteiras escolares molhadas tem um forte impacto emocional na população.
Assim como de uma importante via alagada e interditada ao trânsito; do
desespero de moradores de baixa renda diante da demolição de seus casebres,
ainda que erguidos irregularmente nas encostas; ou de idosos e crianças
doentes enfileirados, durante horas, frente à entrada de postos de saúde e
hospitais, aguardando atendimento.
A simples exposição do fato, que
naturalmente incorpora o poder público como culpado da situação, muitas vezes
estimula a mídia a se acercar do assunto, ampliando o seu foco com
desdobramentos em matérias correlatas. Em sequência, as assessorias de
comunicação são imediatamente bombardeadas pelos repórteres que urgem dar uma
resposta, firme e precisa, aos seus leitores, telespectadores e ouvintes.
Às assessorias não basta se reportar e responder tecnicamente ao jornal
que publicou o fato. Necessitam ir muito além da informação. Faz-se
necessário, basicamente, corresponder positivamente às expectativas da
comunidade escolar afetada (que se mobilizou para tornar o fato público), dos
funcionários do órgão (engenheiros e técnicos que trabalham incansavelmente
nessa área), da direção do órgão público atingido (profissionais capacitados
nomeados para cargos de confiança), da sociedade atingida pela notícia e da
própria mídia, que a cada dia torna-se mais competitiva e investigativa.
Enfim, é preciso que os jornalistas que trabalham nessas assessorias se
descubram profissionais de habilidades muito especiais para saírem totalmente
ilesos desse fogo cruzado.
Informar é desestabilizar
O cuidado
com o uso dos termos a serem inseridos nos releases é outra preocupação a
rondar as assessorias. O exemplo mais recente sobre o estrago que uma palavra
pode causar a um profissional da comunicação é a polêmica em torno do
veterano jornalista Luiz Lobo, da TV Brasil. Demitido da emissora, no início
de abril, a direção do órgão espera a conclusão do relatório da comissão
corregedora sobre a denúncia encaminhada pelo jornalista de que haveria uma
ordem do governo federal para que a palavra "dossiê" fosse substituída, nos
noticiários, pela expressão "levantamento sobre uso de cartões". Segundo Luiz
Lobo, haveria na TV Brasil o que ele classifica de "um cuidado que vai além
do jornalístico", interferindo na independência da emissora. Vale lembrar que
o jornalista trabalhou em “O Globo”, “Jornal do Brasil”, revista “Cláudia” e
TV Globo (foi pauteiro do Fantástico e criador do Criança Esperança).
Em sua coluna publicada em O Globo (20/4/2008), o jornalista Merval Pereira
aborda essa questão da independência na transmissão das mensagens, dando voz
e espaço a Régis Debray – amigo pessoal de Fidel Castro e Che Chevara nos
anos 1960 –, hoje um especialista em "midialogia" (estudo das mídias). Para o
filósofo, jornalista e professor francês, de formação marxista (passou três
anos preso na Bolívia), existe uma diferença entre a comunicação e a
informação. Para ele, os sistemas de comunicação trabalham mais com a
comunicação do que a informação, já que a comunicação vive de seduzir o
leitor ou o ouvinte. Essa sedução seria traduzida por uma espécie de
mimetismo, onde as mídias em suas mensagens imitariam o pensar e o falar dos
que recebem as notícias e vice-versa. Daí que a mídia, como um todo, seria
sempre um reflexo de uma sociedade, repercutindo "os que os escutam e os que
os lêem".
Em contrapartida, o ofício de informar seria bem mais
difícil: "Informar alguém é sempre desestabilizá-lo, deixá-lo desconfortável,
mexer com suas idéias já fixadas", explica Debray. Logo, caberia à informação
o ônus de ser o diferencial, de se compor como uma mensagem dissociada a
termos e expressões estigmatizantes, tendo como premissa os fatores da
imparcialidade e da independência em relação ao público leitor. Essa, aliás,
seria a função precípua das assessorias de comunicação da área pública: a de
informar objetivamente, mantendo-se imune à tentação de repetir a lingüística
utilizada pela grande mídia.
Múltiplas habilidades
De 1950,
quando os primeiros cursos de Comunicação Social foram implantados no país,
aos dias atuais, com as redes de comunicação transformadas em conglomerados
poderosos e atuantes em todos os setores da vida humana, aumentou bastante a
percepção, entre os profissionais e aqueles que estudam e pesquisam o
fenômeno das mídias, da importância de se conhecer e entender o funcionamento
dessa multifacetada engrenagem de massa, capaz de criar e destruir mitos e
governos, fomentar idéias e teorias e até mudar o curso da história.
Profissionais formados na tradição das escolas de Jornalismo mais
convencionais procuram se adaptar ao aparato e a tecnologia que as novas
mídias impõem. Nas assessorias, o repasse de releases via e-mail já não é
novidade. Boletins, folders e cartazes são elaborados utilizando-se da
computação gráfica. A solicitação de vídeos ou CDs, com animação, sobre
serviços realizados pelos órgãos e empresas (projetos, obras etc.) também
está virando rotina, juntamente com o acompanhamento eletrônico diário do
noticiário dos jornais, revistas, rádio e TV e a permanente atenção à mídia e
à análise da temperatura social de suas mensagens, embutidas em notas,
colunas e reportagens.
Atentas a essa perspectiva transformadora da
comunicação, universidades como a Federal Fluminense (UFF), do Rio de
Janeiro, e a de Campinas (Unicamp), em São Paulo, abriram cursos de estudos
de mídia ou Midialogia, que visam à análise e discussão das diversas mídias,
em seus contextos, códigos, linguagens e campos conceituais. Segundo o
professor Adilson Ruiz, da Unicamp, "o midiólogo, na sua expressão mais pura,
deverá ser um grande consultor de mídia para empresas de qualquer natureza,
sejam elas da esfera pública ou privada". Estará preparado para opinar sobre
som, fotografia, cinema, vídeo e computação gráfica, atuando na produção,
realização e recepção desses produtos. Sem deixar de lado a formação no campo
humanístico, estético e sociológico, base instrumental e técnica da expressão
e item imprescindível para a construção de cada mídia específica (escrita ou
audiovisual).
Portanto, para esse novo super profissional que já
desponta no horizonte, vale indicar um proveitoso estágio em uma assessoria
de comunicação social de um órgão público. Ainda o melhor lugar para o
exercício de suas múltiplas habilidades.
RT, 10/05/2008
Ano 11 - Número 580
Sheila Sacks é
jornalista e trabalha em Assessoria de Imprensa na cidade do Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro, RJ
http://sheilasacks.blogspot.com
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