01/11/2024
Ano 27 - Nº 1.393
ARQUIVO
SHEILA SACKS
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Sheila Sacks
A MAÇONARIA NA TERRA SANTA
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Vivendo
em Israel há mais de quarenta anos, Leon Zeldis, Cônsul Honorário do Chile em
Tel Aviv, já ocupou o mais alto cargo da Maçonaria israelense. Ele assinala
que não existe impedimento entre o Judaísmo e a Maçonaria. E mais: rabinos e
hazanim (oficiantes cantores das sinagogas) pertencem à Ordem, e na cidade de
Eilat, no extremo sul do país, na fronteira com o Egito, uma loja maçônica
chegou a funcionar em uma sala da Yeshivah (escola religiosa para formação de
rabinos). “A Maçonaria Israelense é um exemplo de convivência e tolerância”,
destaca Zeldis. “O que procuramos mostrar é que é possível conviver, judeus e
árabes, como irmãos.” Por um mundo melhor
Existem várias maneiras de
ajudar ao próximo. Ser maçom é uma delas. Para Leon Zeldis Mandel, 77 anos,
título de “Grão-Mestre, Soberano Grande Comendador, Grau 33”, a Maçonaria não
melhora o mundo, mas os maçons, sim. Nascido na Argentina, Zeldis viveu no
Chile, formou-se engenheiro têxtil nos Estados Unidos e fundou, em 1970, a
primeira loja maçônica de Israel de língua espanhola. Escritor, poeta e
conferencista, é autor de 15 livros e de mais de 150 artigos e ensaios
publicados em diversos idiomas. Seus livros, As Pedreiras de Salomão,
Estudos Maçônicos e Antigas Letras foram traduzidos para o português. Também é membro
honorário da Academia Maçônica de Letras de Pernambuco.
Residindo em
Israel desde 1960, Zeldis foi presidente do Supremo Conselho do Rito Escocês
Antigo de Israel. Suas atividades como conferencista e profundo conhecedor da
história da Maçonaria o levaram às principais cidades da Europa e do
continente americano. No Brasil participou do Congresso Internacional de
História e Geografia Maçônica, realizada em Goiana (1995). Foi distinguido
como membro honorário dos Supremos Conselhos da Turquia, Itália, França e
Argentina.
Com dois mil membros, a Maçonaria em Israel foi oficializada
em 1953, mas desde o século XIX os maçons estão na Terra Santa. Em 1873 foi
instalada a primeira loja regular em Jerusalém. Depois, em 1890, outra loja
foi constituída em Jaffa. Atualmente, setenta lojas funcionam em Israel, desde
Naharía, ao norte, até Eilat, com um número apreciável de irmãos árabes
(cristãos e muçulmanos), funcionando em seis idiomas, além do hebraico e do
árabe.
A seguir, Zeldis responde as nossas perguntas:
A
Maçonaria existe desde os tempos de Moisés ou é ainda mais antiga?
- As
lendas maçônicas estão baseadas na época da construção do Templo de Jerusalém
pelo rei Salomão e depois na sua reconstrução pelos judeus que regressaram do
exílio da Babilônia. Mas, para a Maçonaria, tudo isso não passa de histórias
mitológicas. O certo é que existiram na Europa associações de construtores
medievais (maçons operativos) e somente no século XVII começaram a ingressar
nas lojas pessoas que não eram trabalhadores de construção. Finalmente, no
início do século XVIII as lojas já eram totalmente simbólicas (maçons
especulativos). Depois da fundação da primeira Grande Loja de Londres, em 24
de junho de 1717, a Maçonaria Simbólica e Especulativa se propagou rapidamente
pela Europa e por todos os países onde existia a liberdade de consciência.
Quais sãos as principais atividades sociais e humanitárias das lojas?
- A Grande Loja realiza diversas obras de beneficência, mas, além disso,
cada loja se preocupa em fazer trabalhos que sejam bons para a comunidade.
Minha loja, “La Fraternidad 62”, de Tel Aviv (que trabalha em espanhol), nos
últimos anos tem enviado material médico a um hospital, bicicletas a meninos
etíopes e, há pouco tempo, fez uma importante doação para uma instituição que
cuida de crianças com problemas familiares. A Ordem também financia bolsas de
estudos para estudantes pobres e presta ajuda a instituições de assistência
aos cegos, entre outras ações.
Como a sociedade israelense vê a
Maçonaria?
- Em geral, a Maçonaria é pouco conhecida em Israel, porque
as nossas atividades beneficentes são feitas com discrição, sem publicidade.
Todavia, personalidades importantes da sociedade israelense são ou foram, no
passado, maçons, incluindo aí juízes, médicos, prefeitos e outros. O fundador
da escola agrícola Mikveh Israel (a primeira escola agrícola judaica moderna
implantada na terra de Israel, em 1870), Carl Netter, era maçom, assim como
também foram o prefeito de Haifa, Shabetay Levy ( trabalhou para o Barão de
Rothschild e foi prefeito de Haifa entre os anos de 1940 a 1951) e Itamar Ben
Avi (jornalista e escritor, ajudou a concluir o Dicionário da Língua
Hebraica). Todos são nomes de ruas em Israel.
É possível ser maçom e
praticar o judaísmo convencional?
- Não existe nenhum impedimento entre
o Judaísmo e a Maçonaria. Nós temos na Ordem rabinos e hazanim, e o ex-Grão
Rabino do país, Israel Lau (sobrevivente do campo de concentração de
Buchenwald), apesar de não ser maçom, assiste as nossas festividades e realiza
conferências em nossas lojas. Em Eilat, durante algum tempo, a loja funcionou
em uma sala da Yeshivah local. O rabino também era maçom. Na história recente,
os Rabinos Chefes da Inglaterra e da África do Sul eram ambos maçons.
Qual é a visão dos judeus maçons acerca da situação política do Oriente Médio?
- A Maçonaria israelense – seguindo a tradição das lojas da Inglaterra e
da Escócia - não tem nenhuma interferência na política. O que procuramos
demonstrar é que é possível conviver em paz, árabes e judeus, tratando-se com
afeto, como irmãos.
Qual é a importância da cidade de Jerusalém na
Maçonaria?
- A cidade de Jerusalém e seu Templo têm um papel central
nas tradições maçônicas. Nas escavações realizadas nas bases do muro
ocidental, o arqueólogo Warren descobriu uma sala que acreditava ser um templo
maçônico. Outros arqueólogos têm contestado esta suposição, porém o fato é que
no centro da sala existe uma coluna de mármore branca que não chega ao teto,
ou seja, não tem nenhum propósito estrutural. Quando Warren explorou este
recinto, havia duas colunas, como nos templos maçônicos (o inglês Charles
Warren conduziu importantes escavações em Jerusalém, entre 1867 a 1870).
A Maçonaria ajudou na Independência de Israel?
- Como eu expliquei,
a Maçonaria como instituição não representa nenhum lado político, mas os
maçons, naturalmente, podem intervir. Um dos mais eminentes líderes sionistas,
Zeev Jabotinsky (1880-1940), foi iniciado em uma loja de imigrantes russos, em
Paris. Alguns anos atrás, tivemos em nossa Grande Loja, um grupo inteiramente
constituído de militares e policiais.
Qual é a relação entre a
Maçonaria e os Essênios que habitavam as cercanias do Mar Morto, 150 anos
antes da Era Comum?
- Existem certos aspectos dos Essênios, como o
processo de ingresso e a ordem nas reuniões, que guardam algumas semelhanças
com a Maçonaria, mas não existe nenhuma relação direta.
Qual
foi a contribuição do Judaísmo à Maçonaria?
- Quase todas as
palavras de acesso e chaves secretas da Maçonaria são palavras hebraicas. Além
disso, a relação com o Templo de Jerusalém é fundamental na Maçonaria. No
entanto, é preciso dizer claramente que a Maçonaria não é uma religião e não
está ligada ao Judaísmo, a não ser por tradições que eu já mencionei e o uso
de palavras hebraicas.
Como a Maçonaria avalia as campanhas
transnacionais anti-Israel por parte da mídia e ONGs de todos os tipos?
- A ignorância e o preconceito são difíceis de combater quando são
financiados por inimigos do progresso e da democracia. O exemplo mais
contundente de ignorância e fanatismo cego é o constante uso do “Protocolos
dos Sábios de Sião” para atacar tanto o Judaísmo como a Maçonaria, apesar de
que faz mais de um século que se demonstrou de forma indiscutível de que se
trata de uma fantasia anti-semita, baseada em um livro de um escritor francês
(Joly) e de um novelista alemão (Goedsche), escrita por um agente da Okrana
(polícia secreta do Czar), em Paris. Não importa quantas vezes se tem
demonstrado a falsidade do livro, mesmo assim ele vem sendo publicado nos
países árabes e em outras partes do mundo. Não há outro remédio do que seguir
contestando as mentiras - com a esperança de que a verdade finalmente triunfe
– e educando as novas gerações nos princípios de liberdade, igualdade e
fraternidade.
Desafios do Século XXI
Em seu livro Antigas
Letras, Zeldis defende alguns aspectos que devem mobilizar a atenção da
Maçonaria no século XXI, no tocante a sua importante função na sociedade
contemporânea. A ênfase na educação (laica e maçônica) é vital, segundo
Zeldis, para melhorar a sociedade e o indivíduo. “A importância da educação
está precisamente em adquirir a capacidade de julgar, categorizar, classificar
e avaliar a qualidade da informação recebida, não somente pelo seu conteúdo
textual, mas também do ponto de vista ético e teleológico.” A simples
transferência de informações pode se constituir, na maioria das vezes, um
armazenamento de conhecimentos que oprime e sobrecarrega o ser humano,
impedindo-o de analisar e refletir sobre o essencial, escreve Zeldis. E cita o
filósofo alemão Friedrich Krause (1781-1832), para quem a educação é algo que
a grande parte das pessoas recebe, muitos transmitem, mas muito poucos têm. “O
que equivale a dizer que muitíssimas pessoas sabem ler, porém são incapazes de
reconhecer o que vale a pena ler, conclui o autor.
Maçons Ilustres
Elaborada pela loja São Paulo 43 – fundada em 1945 e que desenvolve
importantes projetos na área social - a listagem relacionando os maçons
ilustres de vários países inclui o nosso entrevistado, o portenho Leon Zeldis,
nesse grupo seleto de pessoas que “fizeram da virtude a sua principal causa na
vida.” Ao lado de José de San Martin, libertador da Argentina, Chile e Peru.
Entre os brasileiros, destacam-se os maçons Rui Barbosa, D.Pedro I, Padre
Diogo Antônio Feijó, Deodoro da Fonseca, Luiz Alves de Lima e Silva (Duque de
Caxias), José Maria da Silva Paranhos (Visconde do Rio Branco), Carlos Gomes,
Epitácio Pessoa, José do Patrocínio, Benjamim Constant, Casimiro de Abreu,
Joaquim Rabelo e Caneca (Frei Caneca), Oswaldo Aranha, Nelson Carneiro e
Evaristo de Morais. Em relação aos maçons de Israel, dois nomes são listados:
Menachem Begin e Itzhak Rabin, ambos primeiros-ministros e ganhadores do
Prêmio Nobel da Paz (1978 e 1994). O rei Talal Hussein, da Jordânia, e Abd
El-Kader, fundador do estado da Argélia, são os maçons ilustres dos países
árabes.
Maçons no Museu do Holocausto
O Museu do Holocausto, em
Washington (United States Holocaust Memorial Museum), inaugurado em 1993 com a
finalidade de preservar a memória do mais trágico momento vivido pela
humanidade no século XX, coloca à disposição dos visitantes documentos e fotos
que contam a história da Maçonaria sob o regime nazista da Alemanha.
A
perseguição teve início em 1933, quando o governo alemão emitiu decreto
visando a dissolução voluntária das “lojas”. Um ano depois, aquelas que ainda
não tinham sido fechadas, foram forçadas pela Gestapo (polícia secreta do
partido nazista) a encerrar as suas atividades. Ainda em 1934, outro decreto
definia a Maçonaria como “hostil ao Estado” e ilegal.
Apertando o
cerco, o serviço de segurança das SS (polícia nazista), comandado por Reinhard
Heydrich, criou um setor especial – a Seção 2/111 – voltado para a aniquilação
da Maçonaria e de seus membros. Uma campanha difamatória ligando os maçons a
teorias conspiratórias se estendeu por todos os países da Europa sob o domínio
da Alemanha Nazista. Em 1940, a França ocupada declarou os maçons inimigos do
Estado, pondo a polícia para vigiá-los e prendê-los, e emitindo cartões de
identificação semelhantes à estrela amarela dos judeus.
É difícil saber
o número exato de maçons mortos em campos de concentração, porque muitos foram
arrolados como opositores ao governo ou associados aos focos de resistência ao
nazismo nos países invadidos. Atualmente, calcula-se que existem 6 milhões de
maçons em 164 países (58% nos Estados Unidos), sendo que o Brasil congrega,
aproximadamente, 150 mil distribuídos em 4.700 “lojas” de um total de 9 mil
instaladas em toda a América do Sul.
(19 de maio/2007)
RRT,
CooJornal nº 529
Sheila Sacks é
jornalista e trabalha em Assessoria de Imprensa na cidade do Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro, RJ
http://sheilasacks.blogspot.com
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