16/03/2021
01/010/2023
Ano 26
Número 1.337



 


ARQUIVO
RONALDO WERNECK

 

Ronaldo Werneck




Wine and poetry: one for the road

Ronaldo Werneck - CooJornal


Com Bob Dylan eu vou Rio-Bahia afora: “One for the road/ One for my baby/ One for the road”. Sertão da Bahia, 1971. Meio-dia, por aí. O sol nos olhos e uma reta de 56 km, reta-imensidão antes de Vitória da Conquista – terra de Glauber Rocha, cidade que conheci em 1963, quando fiz concurso para o Banco do Brasil. Eu piloto o fusquinha enquanto meus dois colegas do BB dormem a sono solto. Pudera: acabáramos de parar numa churrascaria e o vinho correu firme no almoço.

Era minha vez de assumir o volante e lembrei-me de Dylan: uma taça a mais para pegar a estrada. “One for the road”, com certeza: na estrada longa da vida eu vou chorando a minha dor – como na guarânia do paraguaio Herminio Giménez que, eu menino, ouvia “na estrada longada vida” e me perguntava que diabos seria “longada”. Pois é, na estrada “longa da vida” só mesmo com uma última bebida. Entonces, pé na tábua, que eu só trocaria o volante uns 200 km à frente, em Jequié, terra de meus hoje saudosos amigos, os irmãos-poetas Jorge e Waly Salomão.

“Como a faca/ o corpo/ a estrada penetra/ o sertão e corta/ seus intestinos/ como a faca/ o morto/ (...) / a estrada o morto a faca o sertão/ são palavras planas/ habitadas por sol/ e solidão”. Lembrei-me então desse meu poema de tempos atrás, enquanto seguia em 1971 Rio-Bahia afora, rumo a Salvador: férias de verão. Nos ouvidos, as palavras planas de meu poema, o vento forte, o ronco do motor do fusca e, mais forte ainda, o dos meus dois companheiros.

“Sic transit gloria mundi” pensava eu enquanto corria a mais de 100 km sertão afora. É passageira (de meu fusca) a glória do mundo. “Work in progress”, o poema “Sic transit” foi se fazendo, se es/correndo junto comigo Rio-Bahia afora. A morte me rondando, mas – “porra poeta/ não morra/ não agora/ quando o vento/ rechaça as flores do tédio”. Pronto o poema, ele acabou tendo seu devido lugar em meu primeiro livro “Selva Selvaggia”, lançado cinco anos depois.

O poema “Sic transit” está em:
https://ronaldowerneck.blogspot.com/2023/08/blog-post.html?fbclid=IwAR3aKjKt822O17pZRgKlTqNCQDrheLQjbau2s3bBolovYLAMFXvbWoeHvqc



Ronaldo Werneck,
poeta e escritor
MG

https://ronaldowerneck.blogspot.com/



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