Ronaldo Werneck
FREVO MULHER: NO RÁDIO E NA TV
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Florianópolis, 1979: férias de verão. Rumo a Blumenau para visitar meu amigo,
o poeta Lindolf Bell em sua galeria Açu-Açu. Parada num bar de Itajaí pruma
cerveja e refrigerante pras crianças: Ulla, com sete anos; Pablo, três. De
repente, os dois começam a cantar a música “Frevo Mulher”, de Zé Ramalho, que
fazia sucesso nas rádios na voz de Amelinha. O bar parou estarrecido: a letra
era imensa e os dois pirralhos cantaram a música todinha em dueto, sem errar
palavra. O papai aqui se emocionou e nunca mais me esqueci. Rio, novembro de
1961. “Servia nesse tempo (final dos anos 1920) o dom poético do moço Vinicius
para resolver o que não lhe permitia a pecúnia, o problema doméstico dos
aniversários. Era o presente que nos dava o irmão, e posso dizer que até hoje
nenhum presente melhor recebi do que uns versos que me dedicou, escritos com
sua letra bonita” – escrevia num depoimento Laetitia Cruz de Moraes, a irmã
mais moça de Vinicius de Moraes. Rio, início de maio, 1980. Pablo faria quatro
anos no dia 11 e eu, sem saber o presente que lhe daria, e também na época com
“problemas de pecúnia” (e sem saber dos poemas presenteados pelo jovem
Vinicius à sua irmã, cujo depoimento só leria em 1990), escrevi um longo poema
para presenteá-lo no aniversário. Ali, relembrava o “Frevo Mulher” (“a folha
do não me toque/ o medo da solidão”) e buscava mostrar-lhe o mundo de então
(“da fábrica de teletipos/ pipocam palavras-bomba/ ou antes/ ki-crocantes”) e
o que vinha pela frente (“irã/ zimbabwe/ sri lanka/ afeganistão/ fragmentos de
fascismo/ e uma inesperada/ estética da recepção”). Astolfo Dutra, domingo de
carnaval, 1988. Na casa de meu amigo, o saudoso ator Luiz Linhares, filmamos o
poema do Pablo, com ele em cena, já “do alto” de seus quase 14 anos (link a
seguir). Pablo muito tímido em cena, seguindo a marcação que havíamos feito,
eu falando o poema com a voz emocionada. Nunca mais me esqueci desse momento,
e vendo o vídeo me comovo ainda hoje. Na edição, coloquei uma cena antiga em
Super 8 de Ulla & Pablo cantando “Frevo Mulher” trepados no portão da casa de
meu pai em Cataguases. Cena muda, sonorizada depois com a voz em off de
Amelinha. O poema (“no rádio na tv veja você”) está em meu site antigo (link
também a seguir), com uma foto minha quando bebê, já que na época não tinha à
mão foto do Pablo menino. Ilustrando este texto, aí em cima está uma foto
minha montando uma moto junto com el niño Pablo, ele com cara de medo. Pudera:
eu nunca dirigi moto. A foto é fake, quer dizer, eu montado na moto foi só pra
foto, feita num camping de Porto Seguro, verão de 1978. É da mesma época a
outra foto, onde estou abraçado com a dupla dinâmica Ulla & Pablo, clicada por
Adriana Montheiro, “la mamma”, na balsa de travessa pro Arraial da Ajuda. A
seguir, links para o poema e para o vídeo: vejam vocês!
Link para o poema:
https://www.ronaldowerneck.com.br/antigo/noradio_natv.htm
Link para o vídeo:
https://youtu.be/mvdzXBuPJtU
Ronaldo Werneck,
poeta e escritor
MG
https://ronaldowerneck.blogspot.com/
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