Ronaldo Werneck
Deo Gracias!
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“Gratias/deo gratias/por essa rara obrigação/ de
recomeço/ gracias/ deo gracias/pelo trôpego pulsar de tropeços”. Essa minha
cara de desalento aí da foto tem sua razão de ser. É cansaço mesmo. Era o
verão de 1996 e eu caminhava pela areia da praia todas as manhãs, Copacabana
afora: do Leme ao Posto Seis e vice-versa. Acredite quem quiser. Eu mesmo
tenho minhas dúvidas. Como eu conseguia? Pergunta que às vezes me faço ainda
hoje, como se me esquecesse da resposta.
Três meses antes, em São
Paulo, passara por uma cirurgia no coração: uma safena e uma mamária. Quando
voltei pro Rio, meu cardiologista carioca disse que o “procedimento” (odeio
até hoje essa palavra) fora muito bem feito, como ele me aconselhara (que
fosse para São Paulo, pois lá seria melhor atendido). E perguntou: “Então,
diminuiu o cigarro?”. Eu, que fumava quase quatro maços por dia, respondi que
havia parado desde que ele me indicara a cirurgia.
“Mas como você
conseguiu?”, perguntou de novo. E continuou: “Eu parei, mas voltei”. Respondi
de bate-pronto, e literalmente: “No peito, ora como!”. E abri a camisa,
mostrando no peito o “estrago” que trago até hoje da cirurgia. Trago sem
tragar, claro! Mas isso faz muito tempo e as pontes resistem impávidas ainda
agora.
Na época, acabou que das caminhadas areia afora surgiu um poema,
“Deo gratias”, que iria “fechar” dez anos depois meu livro “Noite Americana/
Doris Day day by night”. Lançado o livro, enviei para o meu amigo, o grande e
hoje saudoso escritor gaúcho Moacyr Scliar, da Academia Brasileira de Letras,
que mais tarde faria o belo texto das orelhas de meu livro “Há Controvérsias
1”.
Qual não foi minha surpresa quando dias depois Moacyr me enviou um
mais que atencioso email, referindo-se especificamente ao poema “Deo gratias”:
“Ronaldo: obrigadíssimo pelos livros, que já comecei a ler, absolutamente
maravilhado com teu talento! Para ficar apenas com um exemplo, "deo gratias",
do livro “Noite Americana”, com suas "veredas de veias avariadas", é
antológico! Grande abraço do fã, Moacyr Scliar (Porto Alegre, 2007)”.
Pois é, “abraço do fã Moacyr Scliar”. Imagina! “Deo gratias” é outro dos
poemas que estão em meu velho site.
Vejam no link a seguir.
https://www.ronaldowerneck.com.br/antigo/deo_gratias.htm
Ronaldo Werneck,
poeta e escritor
MG
https://ronaldowerneck.blogspot.com/
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