16/03/2021
01/04/2023
Ano 25
Número 1.314



 


ARQUIVO
RONALDO WERNECK

 

Ronaldo Werneck




MENESTREL MALDITO, ROMÂNTICO INCURÁVEL

Ronaldo Werneck - CooJornal


Av. Niemeyer, de frente para um mar de não se acabar. Cinco horas de uma suave, outonal tarde carioca. Elegante em seu robe de chambre, um quê de nonchalance, uma certa arrogância, “up-nose” (expressão certa!) Juca Chaves me recebe em sua requintada casa debruçada sobre o Atlântico. Eram cinco em ponto e, claro, o chá da tarde estava servido. Um “little lord” que súbito se deixa levar pelo humor, pelas tiradas sarcásticas. Elogio sua casa e logo ele rebate: “Quer comprar?”. E cai na risada, sabendo que um mero repórter como eu jamais teria, vamos dizer, um palacete como o dele. Lá se vai mais de meio século, mas “parece que foi hoje”.

Jurandyr Czaczkes Chaves, o Juca Chaves ((Rio, 22.10.1938 – Salvador, 25.03.2023) morreu no último sábado na Bahia, onde morava há décadas. Irreverente, sarcástico – compositor de músicas eruditas, de câmara, e também socialmente engajadas –, criador de piadas inteligentes e ferinas, crítico de generais no poder, Juca foi perseguido por ditaduras, daqui e de Portugal, onde viveu durante certo tempo. Mas o “Menestrel Maldito”, como o chamou seu fã Vinicius de Moraes, era no fundo um romântico incurável, de letras bem trabalhadas, a empunhar seu alaúde, a voz anasalada, a exemplo da tocante modinha “Por quem chora Ana Maria”.

“Na alameda da poesia/ Chora rimas o luar/ Madrugada e Ana Maria/ Sonha sonhos cor do mar”. Quem me alertou sobre essas sutilezas das letras de Juca Chaves foi meu amigo, o crítico Antônio Sérgio Bueno, ao me enviar ainda ontem um vídeo com o próprio Juca cantando sua Ana Maria. “Com a vela de meu barco iluminei o mar” dizia ele numa bem sacada metáfora de “Amor Nonsense”, a primeira de suas composições para o movimento de “Música Nonsense” que ele havia criado em 1972, quando o entrevistei para o jornal Última Hora. Criador e criatura, ele seria o único representante do movimento nonsense, pois “sozinho eu me imortalizo mais depressa”. Movido pelo “five o´clock tea”, Juca Chaves estava a pleno vapor naquela tarde de 1972, como se saísse a navegar pelo mar em frente. Leiam a entrevista completa em meu blog, link a seguir.

https://ronaldowerneck.blogspot.com/2023/03/sozinho-me-imortalizo-mais-depressa.html?fbclid=IwAR2FPzkUGNu8Dp7qF0BdaiTc5F3QWHNzo3OhO-rL_FnocXXmLkRvGmPYCP8

 


Ronaldo Werneck,
poeta e escritor
MG

https://ronaldowerneck.blogspot.com/



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