Ronaldo Werneck
MENESTREL MALDITO, ROMÂNTICO INCURÁVEL
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Av. Niemeyer, de frente para um mar de não se acabar. Cinco horas de uma
suave, outonal tarde carioca. Elegante em seu robe de chambre, um quê de
nonchalance, uma certa arrogância, “up-nose” (expressão certa!) Juca Chaves me
recebe em sua requintada casa debruçada sobre o Atlântico. Eram cinco em ponto
e, claro, o chá da tarde estava servido. Um “little lord” que súbito se deixa
levar pelo humor, pelas tiradas sarcásticas. Elogio sua casa e logo ele
rebate: “Quer comprar?”. E cai na risada, sabendo que um mero repórter como eu
jamais teria, vamos dizer, um palacete como o dele. Lá se vai mais de meio
século, mas “parece que foi hoje”. Jurandyr Czaczkes Chaves, o Juca Chaves
((Rio, 22.10.1938 – Salvador, 25.03.2023) morreu no último sábado na Bahia,
onde morava há décadas. Irreverente, sarcástico – compositor de músicas
eruditas, de câmara, e também socialmente engajadas –, criador de piadas
inteligentes e ferinas, crítico de generais no poder, Juca foi perseguido por
ditaduras, daqui e de Portugal, onde viveu durante certo tempo. Mas o
“Menestrel Maldito”, como o chamou seu fã Vinicius de Moraes, era no fundo um
romântico incurável, de letras bem trabalhadas, a empunhar seu alaúde, a voz
anasalada, a exemplo da tocante modinha “Por quem chora Ana Maria”.
“Na
alameda da poesia/ Chora rimas o luar/ Madrugada e Ana Maria/ Sonha sonhos cor
do mar”. Quem me alertou sobre essas sutilezas das letras de Juca Chaves foi
meu amigo, o crítico Antônio Sérgio Bueno, ao me enviar ainda ontem um vídeo
com o próprio Juca cantando sua Ana Maria. “Com a vela de meu barco iluminei o
mar” dizia ele numa bem sacada metáfora de “Amor Nonsense”, a primeira de suas
composições para o movimento de “Música Nonsense” que ele havia criado em
1972, quando o entrevistei para o jornal Última Hora. Criador e criatura, ele
seria o único representante do movimento nonsense, pois “sozinho eu me
imortalizo mais depressa”. Movido pelo “five o´clock tea”, Juca Chaves estava
a pleno vapor naquela tarde de 1972, como se saísse a navegar pelo mar em
frente. Leiam a entrevista completa em meu blog, link a seguir.
https://ronaldowerneck.blogspot.com/2023/03/sozinho-me-imortalizo-mais-depressa.html?fbclid=IwAR2FPzkUGNu8Dp7qF0BdaiTc5F3QWHNzo3OhO-rL_FnocXXmLkRvGmPYCP8
Ronaldo Werneck,
poeta e escritor
MG
https://ronaldowerneck.blogspot.com/
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