Ronaldo Werneck
Bubbaloo do Hisbelo-Belo
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Só mesmo o velho Hisbelo pra me
tirar do sério. Velho? Mas que nada, um garoto, o “garotinho” de 84 anos da
rua Dr. Sobral, com direito a manicure & carteirinha de sócio nº 1 da “Esquina
do Pecado”. Sagaz, a ele me atrelo – eterno rapaz entre Deus & o Diabo. Velhas
histórias do Hisbelo, um saco de muitas surpresas tiradas do bonezinho xadrez.
E soltas com o devido jaez que a vista já embaça ao passar o ralo café na
madrugada de Minas & fumaça.
Um ser da alvorada em meio à sinfonia de
perdas & pardais. O velho és belo irmão da “Ópera”, como dizia ao se
paramentar, emperiquitado em sua opa, que é também folia & troça (“mas que
bosta!”). Já-que-tão sozinho & tão lilás lá vai o intrépido rapaz juntar-se
aos companheiros do Santíssimo. Dona Zeca não há mais: tudo agora é muito
fugaz escapando entre fiapos de vida. Esta é sua guerra: buscar o céu na
terra, procissão de fantasmas acesos na noite de Santa Rita. Exatamente ali,
onde o vi pela última vez, na capela mortuária, amarelo em meio às opas dos
irmãos, estendido entre duas velas. Opa! Essa não, Seu Hisbelo!
Houve
um momento em que ficamos sós dentro da tarde. O tempo mudara de repente. O
vento, essa serpente, deslizava pelos fícus, uivando entre as copas. “Chuvinha
fedaputa”, parecia me sussurrar sua opa dentro daquele espaço acanhado. Mas,
como sempre, num sorriso largo & safado. Vidinha fedaputa, isso sim, Seu
Hisbelo!
A morte do papai matou em mim a alegria de Cataguases. Nada de
sorrisos amarelos: eu quero a alegria do Hisbelo. Quero em mim o menino, sua
voz de troça que bate outroragora. Muito, muito mais forte que este sino. Por
mais que não possa.
Vê-lo sempre assim, ouvindo tangos inacreditáveis
entre gardéis, gonzagas & seus gonçalves. Salva, Hisbelo! Salve! Salve-se!
Vê-lo no velório é overdose entre velas vivas. Nada de madressilvas. Só sal,
sinos, ciprestes. E, juntos, o que resta dos silvas & wernecks.
Só
mesmo o Hisbelo pra me fazer cometer mais este Bubbaloo –
babalu-balu-ba-ba-lu-u-u, uivando enquanto “fumando espero”. O quê? Uma viagem
para as festas da alegria, guiado pra sempre por papai: “segure firme o
volante, Ronaldo, engate a prise e olhe. A imbaúba, a quaresmeira, o pasto, a
paisagem: morrer, no fundo, é pura sacanagem”.
Bubbaloo 12 Rio, /3ª feira/santa
madrugada Jornal Cataguases/ Abril de 92
Ronaldo Werneck,
poeta e escritor
MG
https://ronaldowerneck.blogspot.com/
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