Ronaldo Werneck
TÃO TRISTE ESTÁ O SEU WERNECK
|
|
Mamãe fazia um frango
com quiabo do rol dos inesquecíveis. O da Solange não ficava nada a dever.
Mamãe fazia um mingau de fubá com ovo não menos que “endiabrado”. O da
Solange idem idem ibidem (embora, religiosas a mais não poder, nem mamãe nem
ela não gostariam nada desse “endiabrado” que aí está). E mais, Solange fazia
uma feijoada da gente comer agradecendo aos céus, o que me deixava (pecado!)
até mesmo esquecido da feijoada da mamãe. E o homus tahine “solângico”?
Nossa! Que coisa mais direita! Simplesmente de babar. Fruto do sol e do anjo
nela incorporados.
Bem mais nova que eu, Solange foi a minha mamãe
nos últimos 20 anos em que trabalhou aqui em casa. Sempre bem-humorada,
brincalhona, ela sabia de tudo, atenta ao mundo à sua volta. E, como eu,
gostava de trocadilhos, a ponto de me surpreender. Às vezes, nem eu mesmo
entendia suas trocadilhagens. Fruto de inteligência e rapidez de raciocínio.
Ela me chamava de “Seu Werneck”, o que às vezes me pegava distraído:
quem era esse “Seu Werneck”? Até que eu me desse conta de ser eu mesmo. E
caíamos na risada. Sua família, seus filhos Diego (ótimo baterista, jovem de
grande inteligência, que está pra se formar em direito) e Carlinhos
(eletricista de mão-cheia que está lá distante, em Brasília, com sua mulher e
que lhe deu a netinha Ioná) – sua família passou há muito tempo a ser nossa
família, minha e da Patrícia.
Pois é, Solange, você não pode imaginar
como estamos todos tristes com sua partida, levada por esse vírus maldito
(palavra que você não usaria, mas não vejo outra para descrever esses tristes
tempos). Levada ainda hoje, ainda agora, em plena manhã desse décimo dia de
um novo e terrível outono. Os americanos usam a palavra “fall” para designar
o outono. “Fall” que é também queda. Pois é, Solange, foi uma verdadeira
queda, um baque essa notícia que acaba de me chegar do hospital, ali onde
você sofria isolada de todos. Estou “outonalmente” (palavra que seria do seu
agrado, ou não?) caído. Estamos todos muito sentidos com isso tudo, sua
partida assim não mais que inesperada – e para sempre. A família perdeu um
ente querido. Não há outra palavra: Seu Werneck está triste, muito, muito
triste, minha querida.
- Comentários sobre o texto podem ser enviados, diretamente, ao
autor: Ronaldo Werneck
Ronaldo Werneck,
poeta e escritor
MG
https://ronaldowerneck.blogspot.com/
Direitos Reservados É proibida
a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação eletrônico ou
impresso sem autorização do autor.
|