Ronaldo Werneck
PERFIL DESTE POETA AO VIRAR O SÉCULO Um
inútil perfil do poeta no ano 2000, do rol dos não publicados
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Nome – Ronaldo Werneck
Estado Civil – Momentaneamente separado. Mas isso passa – e já não dói tanto.
Filhos – Ulla e Pablo & Júlia – esta filha do último, sobrinha da
penúltima e, coitadinha!, neta do “vô safadinho”, quer dizer, “Ronaldinho”.
Natural de Cataguases? – Sim, para sempre. Da esquina de Dr. Sobral com
Rua do Pomba, daquela casa ali, que antes era da Força & Luz, daquela janela
agora constantemente fechada, opaca, apagada, sem as vozes de outrora, vovó,
papai, mamãe, Cacai, tio Chiquito, os latidos da Bolinha, o amor-agarradinho
cobrindo de rosa o muro, o portão e o mundo lá fora. Está ali a casa, mas não
mais o ruído das manhãs, a música essencial da máquina da Vovó Cota, o
compassar do pedal, o dedo no dedal costurando o fascínio daquele menino
sentado a seus pés: por que você se levantou, meu filho?
Por que veio
para Cataguases – Por que não? Assim, como quem não quer nada, entre a noite
e a alvorada, tempo de trabalho onde me (re)invento, faço o definitivo
“descobrimento”: Cataguases é meu eterno intento, pura ficção. A derradeira
musa que de mim abusa – essas coisas de paixão assim à última vista:
violenta-suave, primeira e primária, amante súbita e derradeira.
Ramo
de trabalho – Sozinho na cama é bom que me lembre: faço poemas como quem ama
– e desde sempre.
Currículo – Bolas, ora bolas, muitas bolas pela vida
afora: de pano, de couro, de marfim, de carne. Goleiro – perdão: goal-keeper!
– das peladas da Dr. Sobral e depois do infanto-juvenil do Operal, campeão
local. Só não segui carreira dada a estatura definitiva e derradeira: com
muito orgulho, metro e sessenta e quatro acima do nível do Pomba (isso em
tempo de chuva e de cheia!). O marfim das bo-las de bilhar, vício e quase
profissão, pra desespero da mamãe. Gente é pra brilhar, como dizia o
velho/novo Vladímir Maiakóvski: o grande poeta da revolução russa, outro
emérito sinuqueiro. Sim, como eu já disse num poema, “gente é para
brilhar/caro vladímir/de arrebol a arrebol/este é meu emblema/ – o seu e o do
sol”. Como se vê, se o negócio é dar um brilho, eu devia mesmo é ter sido
engra-xate. Ah, sim, as bolas de carne! Pois é, é preciso mergulhar de vez no
seio de mi-nha história, quer dizer, das amadas-inglórias e sestrosas, minhas
f(g)êmeas capri-chosas. Eu disse gemas: pedras e prazeres.
Cataguases
em relação ao seu ramo profissional – Musa levada, amante safada: eterna
namorada.
Um projeto realizado – Meu primeiro livro de poemas, “Selva
Selvaggia”, de todos o que me deu mais prazer: um roteiro
poético-cinematográfico, editado como se fosse um filme. Poemas-fotogramas,
planos-poemas como no cinema – outra de minhas paixões.
Um projeto a ser
realizado – “Dentro & Fora da Melodia”, um espetáculo que será encenado aqui
em Cataguases em meados deste ano, entremeando música (letra de) & poemas, e
que vai ser gravado ao vivo para a produção de um CD (o projeto já foi
aprovado pela Secretara Estadual de Cultura em BH, através da Lei de
Incentivo, e os recursos já estão sendo captados junto à Companhia Força e
Luz Cataguazes-Leopoldina). “Dentro da Medodia” vão estar a Maria Juliana
(nos te-clados e direção musical, o Olney Figueiredo (bateria e voz), o Zi
no baixo, a Ma-ria Júlia no vocal e a Patrícia Alonso dizendo os poemas.
“Fora da Melodia”, naturalmente, estarei eu, com meus poemas, os do João
Cabral, do Vinícius, do Drummond, do Manuel Bandeira e outros mais/menos
votados. Eu que eterna-mente desafino na vida e em cena: do ouviram do
Ipiranga (nunca ouvi direito!) ao flor esplendente da Mata. Mas, paciência
que vai valer a pena: o resto da turma é de rara competência.
Sua visão
política e econômica do país – Sou míope desde criancinha.
Suas
expectativas para o novo milênio – Os poetas são a antena da raça, dizia o
americano Ezra Pound. A minha antena voou com aquela chuvarada do mês
passado, acho que para sempre.
Carro – De boi & bostalgia.
Griffe – Roupas de baixo na Rua da (meia) Estação. Guarda-chuva na Nacional.
Calças e suspensórios sempre do Sobe-e-desce.
Perfume –
Na cara &
axilas, Axe – axé! O “musk”que é um “must” sovacal.
Comida – Frango
com angu e quiabo, daqueles “babando” como só a mãe da gente sabe fazer,
daqueles que se a gente fosse honesto mesmo (evoé, Vinicius!) só comeria de
joelhos, pensando no máximo na empregada, quer dizer, na mulher amada.
Bebida – Drinques finos: copo alto, gelo, água “trônica” & guaraná diet.
É leve e barato e se o sujeito for bom bebedor acaba entrando numa, quer
dizer, pinta um ligeiro pilequinho: – Garçom, solta um necroton!
Hobby
– De chambre.
Livro – Bem essencial, meu bem.
Filme – Fellini 8
½
Autor – Inventar bem que se quis: mas vence o Machado de Assis.
Um sentido – Esquerda, volver!
Uma frase –
“Pelo decote do
horizonte, antevejo o seio da saudade”: do para-choque de um caminhão de
Cachoeiro do Itapemirim (será do Roberto Carlos?).
Um recado –
Amor
estanca o tempo amor estanca.
Cataguases, 2000
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autor: Ronaldo Werneck
Ronaldo Werneck,
poeta e escritor
MG
https://ronaldowerneck.blogspot.com/
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