Ronaldo Werneck
Andréa, o Rio & Cabral |
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Estava eu a falar na última crônica do Rio e de suas maravilhas de sempre –
hoje tão maltratadas – quando encontro por acaso esse saboroso texto de minha
amiga, a cantora Andréa Dutra. Está aqui o Rio de um tempo outro, lá se vão 15
anos, época do lançamento de meu livro Revisita Selvaggia. E também
de um encontro com o poeta e hoje acadêmico Geraldinho Carneiro na cobertura
do Hotel Miramar, em Copacabana. De quebra, um reencontro com ninguém menos
que Pedro Álvares Cabral na Cataguases de minha infância. Vejam a seguir.
Quem descobriu o Brasil? Andréa Dutra
Meu amigo
poeta Ronaldo Werneck é mineiro de Cataguases, cidade de Humberto Mauro, pra
onde voltou depois que parou de trabalhar aqui no CCBB (alías, mineiro sempre
volta pra casa, alguém já escreveu a tese?). Lá ele toca mil e um projetos
culturais super especiais e conhece pessoas super interessantes. Está no Rio
pra lançar seu novo livro, o Revisita Selvaggia, na Livraria DaConde.
Esta noite, na cobertura do Hotel Miramar, Posto 6, Copacabana, onde a
classe média alta se divertia nos anos 60, invenção surrealista do Geraldinho
Carneiro pro nosso programa de sábado à noite, tomamos drinques finos,
cafonices como daiquiris, hi-fis, cubas-libres e manhattans e contamos causos.
Não havia ninguém no bar, só nós. Inventamos o bar. Inclusive, eu e a Bia
Grabois já sabemos aonde vamos levar nossos próximos namorados quando
estiverem no período de experiência.
Lá embaixo, a noite de Copacabana
estonteante depois do dilúvio que lavou a cidade. Esta noite fiz meu primeiro
decassílabo perfeito, involuntário – é óbvio – e que só um homem das letras,
poeta e sacanocrata (evoé, Ronaldo!), como o Geraldinho seria capaz de
reconhecer, assim, de chofre, como fez: "Por ele eu me desfaço dos meus
planos", eu disse. Bingo, disse ele, na mesma hora! Por ele cometo
decassílabos perfeitos, retruquei, sem métrica nenhuma...
Ronaldo, lá
pelos seus seis, sete anos, abre o livro na aula de História do Brasil e
aprende: Quem descobriu o Brasil foi Pedro Álvares Cabral. A ilustração
mostrava um senhor barbudo, narigudo, de rosto fino. Surpreso, indignado,
Ronaldo quase caiu da cadeira! Pedro Álvares Cabral, aquele senhor cuja figura
ele via no livro, era seu velho conhecido!!!
Acontece que na mesma rua
em que Ronaldo morava, a poucas casas de distância da sua, havia um senhor
cujo nome era Pedro Álvares Cabral, barbudo, narigudo, de rosto fino, que se
parecia imensamente com o xará desenhado no livro de História. Estava claro,
eram a mesma pessoa! Ronaldo ficou chateadíssimo de saber, pelo livro, que o
seu próprio vizinho, pai do seu brodaço, o poeta Francisco Marcelo/ Chiquinho
Cabral, tinha descoberto o Brasil. E que ninguém tinha contado pra ele...
Quem diria? Cabral também era mineiro de Cataguases.
Rio de Janeiro, 2005 Andréa Dutra é
jornalista do Jornal do Brasil e cantora, atualmente no “Arranco de Varsóvia”.
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autor: Ronaldo Werneck
Ronaldo Werneck,
poeta e escritor
MG
https://ronaldowerneck.blogspot.com/
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