Ronaldo Werneck
Peiche Fresco |
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Postei recentemente no meu canal
do youtube um vídeo em homenagem aos 50 anos do filme 2001 – Uma Odisseia no
Espaço, “legendado” por um poema que fiz em 1968, quando de seu lançamento.
Por um erro de digitação, que “passou em brancas nuvens siderais”, o nome do
diretor Stanley Kubrick apareceu nos créditos do vídeo como “Stankey” Kubrick.
Logo-logo fui corrigido por dois amigos, dois cinéfilos incontestes, que
elogiaram meu vídeo-poema, mas assinalaram o erro: Fabiano Canosa – o
inesquecível programador do Cine Paissandu no Rio dos anos 1960, onde vi todo
o Godard, muito Fellini e Bergman e de quebra tudo que havia de mais cult na
ocasião – e Carlos Alberto de Mattos, meu crítico de cinema de cabeceira.
Fabiano também aponta o “crédito indevido” que dei a Eumir Deodato como
arranjador de Also Sprach Zarathustra,de Richard Strauss, na trilha sonora do
filme.
Quanto a isso, ao Eumir Deodato, Canosa tem toda a razão: sua
versão jazz-funk, fusion & formidável de Also Sprach Zarathustra foi lançada
em 1973. E acrescento: ganhou o 2º lugar na parada da Billboard naquele ano e
venceu o Grammy de 1974 como “The Best Pop Instrumental Performance”. Eu
troquei as bolas talvez porque tenha ouvido muitas vezes ao longo dos anos o
álbum Prelude de Deodato, onde se encontra sua recriação da música de Strauss.
Tanto, que achava ter sido ele o responsável pelo arranjo que se encontra no
filme. Irresponsabilidade minha.
Agora, quanto ao “Stankey” vou
deixar assim mesmo: teria que refazer todo o vídeo para corrigir o erro e,
além disso, o nome de Stanley Kubrick está correto no texto de apresentação
que escrevi. Fica até mesmo como “curiosidade”. Quem sabe outros espectadores
mais atentos não vão chamar minha atenção, o que demonstrará que assistiram ao
vídeo até o fim? O que me remete a erros antológicos de digitação/impressão.
Como na edição das obras completas de Cláudio Manoel da Costa, de 1768. Por
causa de um erro de impressão, o volume ficou conhecido como “Orbas”. Pois é,
as “orbas” completas do poeta-inconfidente levam até hoje ao delírio
bibliófilos das mais variadas estirpes. Ou um jornal daqui de Cataguases,
que fez uma longa entrevista comigo logo que voltei pra cidade. Sem nenhum
erro. Epa! Como é mesmo o nome do jornal? Na capa, em letras garrafais, vinha
escrito “Minas & Merais” – era mesmo o Minas & Gerais, do meu amigo Nelson
Filho, que existe até hoje. Ou aquele boletim quinzenal do CCBB/Rio, editado
por mim, com matéria de capa sobre uma apresentação de “O Barbeiro de
Sevilha”. Também em letras garrafais, sobre uma foto de fundo de Ítalo Rossi,
que vivia o personagem-título, lia-se: “O Barqueiro de Sevilha”. Passou?
Passou. Já estavam impressos quinze mil exemplares e não havia mais tempo de
refazer: era dia da estreia.
O que me leva também a um “causo” que me
contou Rosário Fusco sobre um romance de aventuras escrito por um sujeito de
Leopoldina, em plena Zona da Mata de Minas. Um quiproquó meio rocambolesco,
com toda a ação passada em Paris: o personagem era perseguido enquanto subia a
Torre Eiffel, corria desesperadamente pela Champs-Elysées, escondia-se atrás
de uma das colunatas do Arco do Triunfo, atravessava o Sena a nado, ressurgia
na Rue du Bac, tomava um cognac num bistrô de Montparnasse e por aí vai, Paris
par tout. Pois bem, ao final do livro vinha a Errata: “Onde se lê Paris,
leia-se Leopoldina”. Seria literalmente mais uma “viagem” daquelas do rico
fabulário de Rosário Fusco? Chi lo sà? De qualquer forma, se non è vero, è ben
trovato.
Há também a versão “verdadeira” do show realizado por
Ella Fitzgerald em Berlim, 1960. Ali ela manda ver num impecável Mack the
Knife – com todos os vocalizes, bebops & mumunhas mais que fazia como ninguém.
Só que Ella não sabia a letra e acabou “improvisando” em cima das palavras de
Bertolt Brecht. E criando/recriando outras palavras para a canção de Kurt
Weill, onde ela cita de cambulhada Louis Armstrong (que gravou a música em
1956) e Bobby Darin, que acabara de gravar Mack the Knife naquele 1960. Mas a
histórica gravação ficou tão boa – eu ainda tenho um vinil, ouvido “n” vezes,
e também um cd com essa gravação do show de Berlim – que a partir de então
todas as vezes que Ella cantou a canção foi com a “letra” por ela inventada.
Ella por ela.
Agora, e finalmente, vendendo meu “peiche”.
Trata-se de um sujeito que vendia a mais variada gama de peixes. Uma tabuleta
na entrada dizia “Peiche Fresco”. Um freguês entra, olha os vários peixes,
escolhe um e, ao pagar, diz para o dono: “Olha, os peixes estão muito bonitos,
mas na verdade peixe se escreve com “x” e não com “ch”. “Sei disso”, diz o
vendedor, “mas você não vai acreditar na quantidade de fregueses que entra
aqui pra me dizer isso e acaba comprando o meu peiche”. E completa com um
sorriso: “Não vou tirar o peiche da tabuleta de jeito nenhum!”. Também eu,
como o nosso peixeiro, não vou mudar o “Stankey” do meu vídeo. Que me perdoe o
Stanley, ou mesmo os Stankeys de todos os Kubricks: vou continuar a “vender
meu peiche”.
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autor: Ronaldo Werneck
Ronaldo Werneck,
poeta e escritor
MG
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