Criatividade |
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Espanta-me como o caricaturista Chico encontra assunto todos os dias para
suas ótimas charges no O Globo. Criatividade, diária, oportuna e permanente.
E o criador de piadas. Anônimas, correm mundo e seus autores continuam na
obscuridade e sem aplausos. E conheci um piadista que contava piadas bem. E os
da roda pediam mais uma. Tempos passados nem era preciso pedir, enfiava uma na
outra e seus intervalos serviam apenas para ouvir o gargalhar. Um dia olhei
sua mulher, que ficava a parte, enquanto o marido dominava a festa. Não ria e
até temi que chorasse. Por sorte o perdi de vista, ficou sendo um chato, com
acompanhantes chatos. Até piada tem hora. Hoje, nove de maio, 2020, na
primeira página de O Globo, no alto da inicial, há propaganda sobre a
necessidade de quarentena em 2020. No primeiro dois, moça sobre o número e
rapaz da mesma forma no segundo zero. Cumprimentam-se de braços esticados, só
que os números do meio impedem que se toquem. Quarentena. Segundo caderno,
repetem o desenho, só que bem maior. Um toque de saudades e amor na
quarentena. Ótima criação. De quem? Mark Twain. Frase. “Nossa vida seria
bem mais feliz, se pudéssemos nascer aos 80 anos e gradativamente nos
aproximar dos 18.” Scott Fitzgerald. Conto, "O estranho caso de Benjamim
Button", que virou filme e de modo estropiado, pois no filme Benjamin nasce
velho, mas com espírito infantil. No conto nasce velho, com o espirito de um
velho e no conto original vivem corpo e mente ao contrário cronologicamente.
Quem se baseou em quem? Twain ou Scott? Fui ver datas e Twain escreveu antes,
só que Scott não precisaria buscar ideias de outrem, para ser original.
Acredito na coincidência da criatividade literária neste caso. Quem foi o
literato mais criativo? Sei que criatividade pode representar tamanho da obra
e eis Georges Simenon e seu Inspetor Jules Maigret em centenas de livros e
Simenon era mais que livros policiais. Ainda que a frase possa parecer de
demérito para escritores policiais, não é assim que penso. E não deixem de ler
a biografia de Simenon, cujo título é genial. “O homem que não era Maigret” e
é fácil de explicar, visto que o personagem Maigret é homem sem medo, ou
mácula... Edgar Allan Poe também deixou vasta obra. E os exemplos podem ser
vários. E a pergunta feita no início tinha uma conotação embutida, quem foi o
autor mais criativo, literariamente falando, não em número de obras e sim na
qualidade dessas. Vários escritores podem ser listados, só que minha lista tem
apenas um nome, cujo final de vida foi um horror, por preconceito e nascimento
no momento errado. Vamos às obras e apenas com exemplo, ainda que marcante.
Teatrólogo e várias de suas peças ainda hoje são representadas. E a idade que
as peças têm, mais de 100 anos. Romancista. “O retrato de Dorian Gray”. Um
livro só? Mas que livro! Contista, vide a maravilha que é “O rouxinol e a
rosa”! Poeta, cito entre outras a “Balada do Cárcere de Reading” e ”De
Profundis”. Pensamentos e os formidáveis paradoxos. Cito um que muito me
agrada. “A madureza agradece à juventude o brilho de sua inexperiência.”
Morreu miseravelmente em Paris, enxotado por todos. Seu nome: Oscar Wilde
(1854-1900).
Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email
pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
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