16/10/2024
Ano 27
Número 1.387




 

ARQUIVO

PEDRO FRANCO


 


 

 


Criatividade


Espanta-me como o caricaturista Chico encontra assunto todos os dias para suas ótimas charges no O Globo. Criatividade, diária, oportuna e permanente.
E o criador de piadas. Anônimas, correm mundo e seus autores continuam na obscuridade e sem aplausos. E conheci um piadista que contava piadas bem. E os da roda pediam mais uma. Tempos passados nem era preciso pedir, enfiava uma na outra e seus intervalos serviam apenas para ouvir o gargalhar. Um dia olhei sua mulher, que ficava a parte, enquanto o marido dominava a festa. Não ria e até temi que chorasse. Por sorte o perdi de vista, ficou sendo um chato, com acompanhantes chatos. Até piada tem hora.
Hoje, nove de maio, 2020, na primeira página de O Globo, no alto da inicial, há propaganda sobre a necessidade de quarentena em 2020. No primeiro dois, moça sobre o número e rapaz da mesma forma no segundo zero. Cumprimentam-se de braços esticados, só que os números do meio impedem que se toquem. Quarentena. Segundo caderno, repetem o desenho, só que bem maior. Um toque de saudades e amor na quarentena. Ótima criação. De quem?
Mark Twain. Frase. “Nossa vida seria bem mais feliz, se pudéssemos nascer aos 80 anos e gradativamente nos aproximar dos 18.” Scott Fitzgerald. Conto, "O estranho caso de Benjamim Button", que virou filme e de modo estropiado, pois no filme Benjamin nasce velho, mas com espírito infantil. No conto nasce velho, com o espirito de um velho e no conto original vivem corpo e mente ao contrário cronologicamente. Quem se baseou em quem? Twain ou Scott? Fui ver datas e Twain escreveu antes, só que Scott não precisaria buscar ideias de outrem, para ser original. Acredito na coincidência da criatividade literária neste caso.
Quem foi o literato mais criativo? Sei que criatividade pode representar tamanho da obra e eis Georges Simenon e seu Inspetor Jules Maigret em centenas de livros e Simenon era mais que livros policiais. Ainda que a frase possa parecer de demérito para escritores policiais, não é assim que penso. E não deixem de ler a biografia de Simenon, cujo título é genial. “O homem que não era Maigret” e é fácil de explicar, visto que o personagem Maigret é homem sem medo, ou mácula... Edgar Allan Poe também deixou vasta obra. E os exemplos podem ser vários. E a pergunta feita no início tinha uma conotação embutida, quem foi o autor mais criativo, literariamente falando, não em número de obras e sim na qualidade dessas. Vários escritores podem ser listados, só que minha lista tem apenas um nome, cujo final de vida foi um horror, por preconceito e nascimento no momento errado. Vamos às obras e apenas com exemplo, ainda que marcante. Teatrólogo e várias de suas peças ainda hoje são representadas. E a idade que as peças têm, mais de 100 anos. Romancista. “O retrato de Dorian Gray”. Um livro só? Mas que livro! Contista, vide a maravilha que é “O rouxinol e a rosa”! Poeta, cito entre outras a “Balada do Cárcere de Reading” e ”De Profundis”. Pensamentos e os formidáveis paradoxos. Cito um que muito me agrada. “A madureza agradece à juventude o brilho de sua inexperiência.” Morreu miseravelmente em Paris, enxotado por todos. Seu nome: Oscar Wilde (1854-1900).

Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email pdaf35@gmail.com 



Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral

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