16/08/2024
Ano 27
Número 1.379




 

ARQUIVO

PEDRO FRANCO


 


 

 


Oh, ruas enfeitadas! Onde ficaram?

Estaremos na futura Copa de Futebol Mundial e lá vem pergunta, que há anos seria absurda. Será que o Brasil vai? Nesta Olimpíadas Paris, 2024, o futebol já não se classificou. Prevejo ruas vazias de pinturas, mesmo se nós nos classificarmos. Machado de Assis em relação ao Natal perguntava se ele mudara, ou fora o Natal? No caso Brasil mudou o futebol, mudou o povo em relação ao alvoroço das antigas Copas de Futebol do Mundo. E, volto ao que prevejo: ruas sem pinturas na próxima Copa. Nas recentes e anteriores já murcharam alegrias em pinturas nos asfaltos e mesmo nos remanescentes paralelepípedos, E gostava e eram dias de bela alegria e alegorias em tintas. Pelos anos anteriores não mais verei e até gostava e muito. O Rio de Janeiro se engalava para as Copas do Mundo e também em todo o Brasil. Era de ver a criançada e também jovens e maduros, homens e mulheres, principalmente crianças nas madrugadas cobrindo ruas com tintas de amor, esporte, filosofia e também era convívio fraterno. Houve namoros iniciados e também amizades, que ocorreram nas ruas cariocas e em madrugadas. E adultos, que não pintavam, levavam bebidas e sanduíches aos pintores e os houve e de ótimo gosto. Eram madrugadas frias, que Copas costumam ocorrer ainda em tempo frio. As pinturas eram feitas pelas madrugadas, que nas vias de dia viaturas passavam e não deixavam artistas de pincéis nas mãos atuarem. Havia criatividade e como na ex minha Rua Professor Valadares, Grajaú, pontificaram os desenhos do Fran e da agora arquiteta Elise. O Rapha, meu neto, pelos seis anos, queria, porque queria, lá estar e era agasalhado por cima do pijaminha e o pai o levava para ver pintores e ajudantes. Ele e outras crianças. Os dois outros netos já tinham voltado para São Paulo e que pena! Havia artistas chefes e outros para cobrirem espaços. Equipes interessadas, planos de pinturas, frases espirituosas e sem muxoxos, ou censuras do politicamente corretos. Noites festivas nas ruas e sem vozes discordantes, acreditem. Vizinhos, que mal se cumprimentavam, trocavam ideias sobre as pinturas, os temas, os homenageados, gente do futebol. Nas semanas antes em muitas ruas meu automóvel foi parado e os garotos pediam subsídios para as pinturas. Tintas e de várias cores. Tudo numa boa. Carnaval é bom, mas tem besteiras, idem as festas juninas, que teimam em ter balões. Já as comemorações das Copas eram amorosas. Familiares, amenas. Devem ter ocorrido reclamações, excessos etc. Como, tendo gente, não vão acontecer desvirtuamentos e exageros? Só que no computo geral me parece que eram dias alegres e de poucas confusões. Madrugadas divertidas. E havia prêmio instituído por jornal e as pinturas das ruas ganhavam elogios, idem seus artistas e com retratos e reportagens. O apogeu dessas comemorações não tem mais de vinte e cinco anos. O interesse foi morrendo, morrendo e neste 2024 não verei ruas pintadas e com madrugadas alegres e amistosas. Morreram as madrugadas e sem choro, nem vela. Morreram e despercebidas. De quem foi a culpa? Não dá para empurrar um nome e sim mais um desserviço do que chamamos genericamente da Sociedade. Vai fazer algo para que na próxima Copa, 2024, ruas pintadas apareçam? Nadinha. Meu “requiescat in pace” expõe tristezas. É cronicar e com realce para a Valadares e suas grandes figueiras. Eterna saudade!

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Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral

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