Oh, ruas enfeitadas! Onde ficaram? |
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Estaremos na
futura Copa de Futebol Mundial e lá vem pergunta, que há anos seria absurda.
Será que o Brasil vai? Nesta Olimpíadas Paris, 2024, o futebol já não se
classificou. Prevejo ruas vazias de pinturas, mesmo se nós nos classificarmos.
Machado de Assis em relação ao Natal perguntava se ele mudara, ou fora o
Natal? No caso Brasil mudou o futebol, mudou o povo em relação ao alvoroço das
antigas Copas de Futebol do Mundo. E, volto ao que prevejo: ruas sem pinturas
na próxima Copa. Nas recentes e anteriores já murcharam alegrias em pinturas
nos asfaltos e mesmo nos remanescentes paralelepípedos, E gostava e eram dias
de bela alegria e alegorias em tintas. Pelos anos anteriores não mais verei e
até gostava e muito. O Rio de Janeiro se engalava para as Copas do Mundo e
também em todo o Brasil. Era de ver a criançada e também jovens e maduros,
homens e mulheres, principalmente crianças nas madrugadas cobrindo ruas com
tintas de amor, esporte, filosofia e também era convívio fraterno. Houve
namoros iniciados e também amizades, que ocorreram nas ruas cariocas e em
madrugadas. E adultos, que não pintavam, levavam bebidas e sanduíches aos
pintores e os houve e de ótimo gosto. Eram madrugadas frias, que Copas
costumam ocorrer ainda em tempo frio. As pinturas eram feitas pelas
madrugadas, que nas vias de dia viaturas passavam e não deixavam artistas de
pincéis nas mãos atuarem. Havia criatividade e como na ex minha Rua Professor
Valadares, Grajaú, pontificaram os desenhos do Fran e da agora arquiteta
Elise. O Rapha, meu neto, pelos seis anos, queria, porque queria, lá estar e
era agasalhado por cima do pijaminha e o pai o levava para ver pintores e
ajudantes. Ele e outras crianças. Os dois outros netos já tinham voltado para
São Paulo e que pena! Havia artistas chefes e outros para cobrirem espaços.
Equipes interessadas, planos de pinturas, frases espirituosas e sem muxoxos,
ou censuras do politicamente corretos. Noites festivas nas ruas e sem vozes
discordantes, acreditem. Vizinhos, que mal se cumprimentavam, trocavam ideias
sobre as pinturas, os temas, os homenageados, gente do futebol. Nas semanas
antes em muitas ruas meu automóvel foi parado e os garotos pediam subsídios
para as pinturas. Tintas e de várias cores. Tudo numa boa. Carnaval é bom, mas
tem besteiras, idem as festas juninas, que teimam em ter balões. Já as
comemorações das Copas eram amorosas. Familiares, amenas. Devem ter ocorrido
reclamações, excessos etc. Como, tendo gente, não vão acontecer
desvirtuamentos e exageros? Só que no computo geral me parece que eram dias
alegres e de poucas confusões. Madrugadas divertidas. E havia prêmio
instituído por jornal e as pinturas das ruas ganhavam elogios, idem seus
artistas e com retratos e reportagens. O apogeu dessas comemorações não tem
mais de vinte e cinco anos. O interesse foi morrendo, morrendo e neste 2024
não verei ruas pintadas e com madrugadas alegres e amistosas. Morreram as
madrugadas e sem choro, nem vela. Morreram e despercebidas. De quem foi a
culpa? Não dá para empurrar um nome e sim mais um desserviço do que chamamos
genericamente da Sociedade. Vai fazer algo para que na próxima Copa, 2024,
ruas pintadas apareçam? Nadinha. Meu “requiescat in pace” expõe tristezas. É
cronicar e com realce para a Valadares e suas grandes figueiras. Eterna
saudade!
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pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
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