01/07/2024
Ano 27
Número 1.373




 

ARQUIVO

PEDRO FRANCO


 


 

 


bolerO


Nota prévia. Antes do bolero, que não é o de Ravel, conto fato histórico. O Presidente José Sarney recebia Presidente da Argentina, cogita estar falando na língua do visitante e ouve mais ou menos isto: V. Excia fala um excelente portunhol. Não tenho qualquer dúvida que letras abaixo de boleros serão grafadas em portunhol, nem português nem espanhol. Leitor, receba a história como “habeas corpus “ preventivo para o texto a seguir.

Título nada a ver com música de Caymmi, que dizia “que debaixo do bolero tem você Iaiá”. Coloco esse no bolero, saio da blusa, tipo bolero, contada pelo Dorival e chego aos boleros. A geração Beatles e nada tenho contra, muito pelo contrário, julgava boleros cafonas. Só que não dançaram boleros com a amada nos braços. E o Paul, que continua mandando e prendendo, que vitalidade, chegou a gravar Bésa-me mucho e mandou bem. Comparo boleros a tangos? Não, até porque não soubemos dançar tangos, que parecem merecer exibições acrobáticas e afastam dançarinos. Já o bolero é chá para dois, é enredo de dupla e que sejam românticos. Quem dominou o bolero no Brasil, foi o espanhol Gregório Barrios, que veio da Argentina e ganhou o País. Uma serie de boleros invadiu os bailes brasileiros e como foi bom. Acerca-te mais y mais. “La mujer qui a la amor no de assoma, no merece lhamar-se mujer, es qual flor que no expande su aroma, como lenho que no sabe arder... “Una mujer debe ser sonhadora coqueta y ardiente... Pedro Vargas cantou Boleros, idem o chileno Lucho Gatica. Também Luis Miguel e nosso João Gilberto em “Eclipse, de luna en el cielo” e também em Farolito, qui alumbra apenas my calle desierta.... e por aí vai. E se acima falei em tangos, vou a curiosidade e com tango. “Desta vez eu vou brigar com ela” de Lupicínio Rodrigues e que recebeu soberba interpretação de Cauby Peixoto. O politicamente correto vai implicar com a letra do autor gaúcho. E qual meu tango preferido? “Nostalgias”, ainda que outros e outros fossem mais dançados. E como sábado era dia de bailes em clubes, ao menos no Rio de Janeiro. Cavalheiros de terno e gravata. Alguns só tinham um terno e uma gravata! Parece pela crônica que só se dançavam boleros. Dançava-se sambas, chorinhos, boleros e até mambos. Conto que eu e Maria Helena, ponho-me primeiro porque estava mais alvoroçado para dançar que ela. Seria nosso primeiro baile e por certo queríamos música romântica, quem sabe um bolero. Eis que a orquestra de Oswaldo Borba toca “Ai que saudades da Amélia”, de Ataulfo Alves. E foi nossa primeira de centenas de músicas dançadas...


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Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral

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