Bajuladores e afins |
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Definir conceitos de determinados termos fica
difícil, porque não são sinônimos, só que tem algum parentesco nas suas
interpretações. Vamos a exemplo. Bajulação e adulação. Parece-me que adulação,
trocando em miúdos, é uma prestação de contas, ou elogios, verdadeiros, ainda
que mostrados de forma exacerbada. Já a bajulação é algo abjeto, pode até
conter verdades, só que o ato em si é degradante na forma e na apresentação. É
deletério, tenha raízes verídicas, ou não, já que a finalidade e a
interpretação são ruins. Certa vez vi figura de relevo em minha profissão e
para manter seu emprego bem remunerado, bajular de forma vergonhosa
profissional, que por manobras chegara a cargo importante e o usava para ser
bajulado e em público. O bajulado quer ter plateia e que o bajulador fique
fazendo um triste papel perante os convivas. Já a adulação, se feita de modo
próprio e com comedimento, serve de elogio franco de um para o outro. É um
pleito, tipo homenagem, na maioria de corpo presente. Já bajuladores têm de
apregoar com desfaçatez sua ação. E também condeno os que se sentem bem, ao
serem bajulados. Quase dizem, é homenagem que mereço deste individuo carente
de escrúpulos. Eufonicamente não me agradam os termos bajulação e adulação. Ao
primeiro prefiro o tosco “puxa-saco”, bem agressivo e beirando o precipício de
termo vulgar. Seu outro sinônimo ainda é pior; eis “baba-ovo”. Para ação tão
pecaminosa até que a chulice vai bem. E chego à nova categoria de bajuladores
e vem com adulteração do termo parceiros e se fica bonito ouvir, aqueles dois
sempre foram parceiros no amor e até comemoraram bodas de diamante. Então são
parceiros de vida já por sessenta anos. Já os parças são novos. Novos
bajuladores. É ação especial, idem atribuição. Parça. Um jovem artista de
telinha, ou de futebol, ganha absurdos, grana para valer e carece de juízo.
Quer palmas e companheiros para qualquer tropelia e dizendo amém. Tudo bem,
´tou contigo, sou seu parça e um verdadeiro parça só diz o que o astro
determina. Não lhe cabe dar conselhos, apenas acompanhar, aplaudir e ajudá-lo
a gastar o dinheiro fácil e fazer o que o pretenso amigão julga por bem e
gasta, como gasta!. Parça não dá bola nas costas e nem conturba o vestiário. É
a gangue do ´tou contigo e não abro. No âmago, ´tou contigo, enquanto grana
houver e este negócio de amizade é “caretaça”! Então podemos ter bajuladores,
aduladores, puxa-sacos, baba-ovos e parças. Se a grana acaba, ou interesse
politico finda, adeus bajuladores e parças. Qual o pior? Que tal o bajulador
político, que atrapalha o bajulado e aqueles, que dependeriam de suas boas
ações políticas, ficam lesados e pobres, famintos. Já os parças são bons de
farra e enquanto ocorrem bons contratos, a legião dos parças aumenta, ainda
que parça tente na surdina não deixar outros parças chegarem. Chegou agora e
já quer sentar na janela?
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pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
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