Perder o vestiário |
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De quando em quando os do futebol
criam frases, que se prestam a outros campos que não só aos gramados. E se
frise que o emplacador de frases, mais citado no futebol, é Neném Prancha,
que teve vários jornalistas a admirá-lo e citá-lo, sendo João Saldanha quem
mais o divulgou. Neném era técnico do futebol de areia e desta atuação vinham
seus conselhos. Há frase, que penso ser dele e que dizia: “Arrecua” os beques,
senão a catástrofe é certa. Dessa, ser do Prancha, certeza não tenho. Eis
as do Prancha, que o Dr. Google mostra: • Pênalti é tão importante que,
quem devia bater, é o presidente do clube”. • “Se macumba ganhasse jogo, o
campeonato baiano terminava sempre empatado”. • “Se concentração ganhasse
jogo, o time do presídio não perdia uma partida”. • “Quem pede, tem
preferência, quem se desloca, recebe”. • “Bola tem que ser rasteira, porque
o couro vem da vaca e a vaca gosta de grama”. • “Jogador tem que ir na bola
com a mesma disposição de quem vai num prato de comida”. • “O goleiro deve
andar sempre com a bola. Se tiver mulher, dorme abraçado com as duas”. •
“Jogue a bola pra cima, pois enquanto ela estiver no alto, não há perigo de
gol”. • “Jogador bom é que nem sorveteria, tem várias qualidades”. •
“Goleiro é uma posição tão amaldiçoada, que, onde ele pisa, nem grama nasce”.
• “Futebol é simples, quem tem a bola, ataca; quem não tem, defende”.
Parece que se deve ao Senador Romário uma boa frase. Chegava um novo jogador
ao clube. Havia o transporte aos campos. E o cara novo no ônibus se sentava no
banco colado à janela, o lugar mais fresco do ônibus nos “antigamentes”, E
Romário reclamava, Chegou agora e já quer sentar na janela! De fato o lugar
com melhor visão e mais fresco. E várias frases saíram da área esporte e
foram para a política e algumas com total aplicação. Vou a que deu início à
crônica e pergunto quem a teria inventado, pois merece loas. Digamos que o
presidente de um clube perca o vestiário, isto é, o comando do governo do
clube. Tem que se relacionar e até ceder aos que dominam o vestiário. Quem
sabe se o grupo tem um centro e este tem um mandatário e, por exemplo,
pressiona o presidente do clube, para aumentar a compra de bolas. O presidente
sabe que já comprou o número de bolas suficiente e julga que o Diretor de
Esportes. com sua fala mansa e até atos subservientes, ganha percentagem por
bola comprada. Se o presidente do clube barra a compra das bolas, o Diretor de
Esportes tem os outros diretores na mão e então, se o presidente veda a compra
de bolas, aí mesmo é que não faz nada e vira rainha da Inglaterra, ou rei,
Reina, mas não governa E o presidente tem que governar, até para ficar de
acordo com o que disse na campanha e também para preservar seus interesses.
Para não perder seu vestiário, tem que combinar ações com o centro do
vestiário, no caso o Diretor de Esportes, que leva bola, ao comprar bolas.
Dirigir um clube, ou qualquer coisa, é complicado. E Benito Mussolini já
apregoava: Governar a Itália não é difícil. É impossível. Benito queria mandar
sozinho! Será que seu patrício e político, recém-falecido, Berlusconi
concordaria? Pena que não se possa perguntar se, cedendo e muito à turma do
vestiário, consegue conduzir o governo de um clube? Volto ao Prancha, que
tanto valorizava presidentes, que os indicava para bater pênaltis. A
experiência de presidentes de clubes mostra que para alcançar sucesso e ser
indicado a bater o pênalti, tem que angariar prestígio com o centro do clube,
no caso capitaneado pelo Diretor de Esportes. Se não arrecua e cede, a
catástrofe é certa.
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pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
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