NÓS E O COPA |
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Hoje o “ELA”, revista que sai no O Globo dos domingos, trouxe a fachada do
Copacabana Palace, que foi dos Guinles e se tornou notório na passagem de
personagens pelo Rio e nele hospedados. Permito-me uma digressão inicial e
tomarei outras. Entrei aluno no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, obra
meritória da Família. Saí aposentado, honrado com o título honorífico de
professor emérito. No hospital da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO fui
professor de centenas de alunos, inclusive de filho e neta. Isto aconteceu no
Gaffrée e Guinle. Volto ao tema básico, o Copa. A lista de pessoas de relevo,
que ficaram no Copacabana Palace, é enorme; o baile de Carnaval no Copa tem
histórias e já foi marco turístico da cidade. E como passaram pelo Copa
mulheres bonitas! Até Brigitte Bardot, antes de por Búzios no mapa mundial de
atrações turísticas e até preferia que por beleza, tivesse descoberto Paquetá,
face também à poeticidade da Ilha dos Amores e sua praia da Moreninha, vide
obra de Macedo, hospedou-se no Copa e lá se entrincheirou. Então La Bardot
saiu do Copa, depois fez pacto com a imprensa e pode seguir viagem com menos
atropelo para Búzios, onde tem estátua. Como apregoava o “soi dizant” filósofo
Ibrahim Sued, os cães ladram e a caravana passa. E quantas e quantas caravanas
belas hospedou o Copa! Permitam-me voltar à Paquetá. Meus pais se conheceram
na Ilha e muitos anos depois João e Lourdes tinham casa lá e em frente ao
cemitério. Não pensem em horror e cemitério. É jardim lindo e em suas árvores
vi até tiês sangue e outros passarinhos. No cemitério, que não parece
cemitério, há até mastro de navio naufragado, não sei como, na calma baia da
Guanabara. E eis que meu pai, que no fim de vida morava com mamãe na Ilha, vê
em coche puxado por cavalos, lindas pernas. Acabaram com os coches puxados a
cavalos e era som agradável ouvir ferraduras batendo nos paralelepípedos do
trecho da ponte das barcas, único lugar da Ilha com piso de pedra. Deitada no
coche e com pernas às brisas ternas e paquetaenses, Claudia Cardinale. Se a
bela não fez pela ilha, o que a Bardot por Búzios, diga-se e vão me cair
pedras na cabeça, julgo La Cardinale, a italiana, ainda que com menos charme,
mais bela que a francesa. Volto ao Copa. Parece que Lady Di nadou tristemente
em sua piscina. Declaro que prefiro a futura rainha Kate Midleton, que
enfrenta indomitamente os ventinhos londrinos. Volto à piscina e agora não é a
do Copa. Conta-se que a mulher mais bonita do cinema, Ava Gardner, visitou
Papa Hemingway na sua Villa Finca perto de Havana. Muito calor e Ava resolveu
se refrescar na piscina. Noite. Só na piscina. Maiô para que? Jogou na borda o
maiô preto e as águas a receberam. Hemingway, que sabia das coisas e ali
mandava e prendia, deu peremptória ordem. Que nunca mais se troque a água
dessa piscina! Bravos, Papa! Falou, disse e nem perguntou por quem os sinos
dobram. E volto ao Copa. Não é que nunca fomos ao Copa! A vida passa e algo
que poderia ter feito, não foi realizado. Que tolo! Não ouvi Woody Allen tocar
clarineta em Nova York e nem fui à Baker Street. Vi muita coisa, fiz algumas
interessantes, só que eu e ela, nos nossos sessenta e cinco anos de casados,
deveríamos ter comemorado pelo menos uma vez no Copa. Será que agora é tarde?
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pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
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