01/10/2022
Ano 25
Número 1.290





 

ARQUIVO

PEDRO FRANCO


 


 

 


Não tenho remorsos das risadas dadas


E como as dei. E posso pensar que o mundo Brasil involuiu até no humor e na poesia. Lembra-se que o carioca era malandro, engraçado e meio poético? Vamos até de Orestes Barbossa, “A lua furando nosso zinco, salpicava de estrelas nosso chão”. Se um novo poeta for veraz, dirá:. as balas furando nosso zinco, salpicavam de sangue nosso chão. E como faz bem rir! Como era bom ouvir a última anedota, substituída agora por chulices, que nada têm de hilárias e mesmo mostram repugnância pela cultura. Em redes sociais se conta piada? Vejo um jogo entre o politicamente correto e a graça tipo Chico Anysio. E mesmo as graças de agora, raras, são complicadas, ou de pobreza espiritual de dar dó. E nunca precisamos tanto de coisas que nos tirem do horror, das guerras de toda a espécie, das pandemias, várias e ainda em trama, da população pobre do mundo e sem esquecer nossos pobres, que se deixam engambelar por promessas vazias e slogans no fundo fakes. Quer coisa mais atrasada que notícia falsa? Que povo civilizado cai em fakes? Que graça tem fakes? E muito que se vê e se veste, mostra uma deseducação básica e o feio vira moda, que passa longe do bom gosto e do educado. Volto a piadas. E conto algo acontecido com dileto amigo. Adorava piadas. Ouvir e contar. Só que ás vezes no melhor da piada, esquecia o enredo. E não se dava por vencido. Ia ao bolso, sacava papelucho e lia o resto da piada. E ria até mais do que quem a ouvia. Para não ficar implicando e fazendo gangorra entre o politicamente correto com o Chico (como somos fortes em Chicos, vide o Caruso no O Globo e com suas charges diárias conta a história do Brasil e com graça, ou o Buarque de raro brilho poético (separo o Julinho da Adelaide, isto é o poeta muito bem premiado, do homem político e afianço que não sou grego e muito menos troiano) e já falei no Anysio e seus esplendorosos tipos), vou ao riso português do está lá, Raul Solnado. Tomava do telefone, telefonava para o campo adversário e combinava a hora do combate. Ri muito e não devia ter rido, pois o gajo estava a bulir com seus patrícios, que podiam se sentir diminuídos e assim passariam a ser defendidos pelo politicamente correto. Então chego ao título, para reafirmar que não vou esconder minhas santas risadas soltadas, nem vou me sentir culpado por ter sorrido, rido e mesmo gargalhado com meu xará Pedro Bó, ou com o Coalhada, ou com Roberval Taylor, ou e ficaria enchendo linhas e linhas com seus Chico personagens, ou com os do Jô Soares, ou as canções do Juca Chaves, ou com a graça do Mazzaropi, ou ... Agradeço as risadas que dei e que me deixem ouvir humor, pois falavam em desopilar o fígado, quando, com risadas honestas, limpamos até a alma e os percalços do viver.


Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email pdaf35@gmail.com 



Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral

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