De Alexa à Tereza da praia |
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Olhe, eu sabia que devia fazer
esteira e assim tinha me programado. Só que o calor partira, um friozinho
chegava, era lá pelas cinco da tarde, tarde nebulosa e relia “Por quem os
sinos dobram”. E, para embalar o livro, pedi à Alexa que tocasse Dick Farney.
Aí se deu a desistência do exercício. E do Dick foram saindo histórias. Tive
amigo, que fora colega CPOR do cantor, e me contou que se chamava Farnézio
Dutra. E o irmão, galã de outros tempos e em homenagem ao Dick nem comento o
desempenho do Cyl Farney, possivelmente Cileno Dutra. Volto ao amigo, amigo
mais velho e de mérito profissional incontestável, tipo figura. E este amigo,
que fora colega do Farnézio, ouvia com desusado interesse a música “Nick Bar”.
Gostava em geral das músicas do Dick, ainda que seu forte musical fossem as
grande bandas americanas do seu tempo, Tommy Dorsey, Glenn Miller e
semelhantes. Então gostava da música do Dick, só que ouvia “Nick Bar” com mais
dedicação. Pelo jeito havia especial motivo e as recordações não pareciam ser
com sua esposa. Pergunto, não pergunto e não perguntei. Aconteceu-lhe algo no
Nck Bar, ora se aconteceu. Volto ao Dick Farney, para mim a posteridade não
lhe presta o valor devido. Parece-me que nos “estates” foi o primeiro a gravar
Tenderly. Ou estou dando chute fora? E se apaixonou por aeromoça. Tocava,
cantava e que grave tinha! Só não compunha. Passa a missão a Billy Blanco. E
então canta “Aeromoça”, aquela do “Com esta flor a bordo eu concordo então, é
bobagem medo de avião”. Dick foi quem melhor cantou “Fotografia”, que lhe foi
oferecida por Tom e como cantou bem, o bar que fechava a tarde e veio aquele
beijo. Que pena, não vivi momento semelhante. Havia algo complicado no romance.
E conto que ia ao Otto, restaurante que havia na rua Mariz e Barros. E tinha
ótimo pianista na hora do almoço de domingo. Tocava bem e até soube depois que
fez graduação na Inglaterra. Só que há que ganhar o pão de cada dia. Reafirmo,
tocava bem e a moçada, no garfo e faca, pouco ouvia. Tocava “Fotografia” de
forma inspirada. Tinha escrito crônica sobre “Fotografia”, das músicas
brasileiras mais gravadas. Deixei a crônica sobre o piano e no outro domingo,
quando entramos, acabou a música, que já iniciara e veio de Fotografia. Virou
fato domingueiro. Levamos a filha a almoçar. Sentamos e disse à Denise. Se não
me engano, vai tocar Fotografia agora. E para espanto dela veio a Fotografia.
Então contei a história da crônica e do gentil pianista, de quem perdi a
direção. Como se perde direções na vida! De toda a forma, muito obrigado pelas
fotografias. Dick contava que se encontrara com Caymmi e o baiano lhe disse.
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Você, que gosta de música americana, tenho algo para você. Era “Marina”. Olhe,
tenho alguns CDs do Dick e, quando se junta ao Lúcio Alves (depois ao Toninho
de seu Trio) e chegam à Tereza da praia, música de Billy e Tom, é de apreciar.
E Lúcio a descreve Tereza com uma pinta do lado... De novo. Não deram a Dick
Farney, pianista e cantor, a posteridade e as honras que merece. Que pena!
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pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
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