Tempos dos avós |
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Deploro quem infelizmente não tem histórias de
avós para contar. Tenho e não preciso espremer a cachola para contar algo. E
teria tanta coisa a contar, que ultrapassaria o limite de crônica. Vamos a
notas apenas. Convivi com três dos meus avós e muito com meus três netos. Do
avô paterno não tenho lembranças, ainda que tivesse morrido depois de eu
nascer. Tenho medo que o fato se repita com meu bisneto... Só que Vovô Pedro
tem histórias. Calor danado e um vendedor, com fisionomia cansada e muito
suado, apregoava melancias. Vovô Pedro pergunta. Quanto custa? E vendedor dá
preço de uma melancia. Está muito quente e você está muito cansado. Dê preço
de todas as melancias. E vovô saiu distribuindo as verdes por fora e vermelhas
por dentro para os amigos. Sou Pedro Diniz, pois um avô se chamava Pedro
Affonso de Araujo Franco e o outro Diniz Affonso Rodrigues da Silva Junior e
me parece que escapei de ser Affonso e de saída minhas escusas aos Afonsos
pelo comentário e também me desculpe o politicamente correto. Meu avô Diniz
por tudo e por seus exemplos é meu paradigma de vida e tomara ter conseguido
algo, feito ele. Sobre ele não entro em pormenores, pois já lhe dediquei
opúsculo e conto apenas que velho jogava comigo pela, um “squash” de tempos
antigos. Sempre me ganhava. Vovó Neném era surda e assim os filhos sempre
recorriam ao pai. Ela era Flamengo e fazia pequenas músicas. Minha mãe, sua
filha, cantava algumas e entre elas. Fla Fla Fla Fla Flu, é joguinho de
compadres e no fim dá sururu p´rá chuchu. Do Vovô Diniz guardo o gosto pelos
sorvetes e minha nora Eugenie faz um de tapioca, que lamento Vovó não ter
provado. Voltando ao lado paterno, quando perguntaram ao Vovô Pedro, onde
estava sua mulher, de apelido Santa, avisava. Santa está no oratório, não mais
tendo quem aperrear, está aperreando os santos. Tive tio que ficou noivo por
25 anos e foi dar notícia do casamento à mãe, que ira se casar. Resposta de
Vovó Santa. Meu filho p´ra que tanta pressa? Vovó Santa tinha um jeito
peculiar de atravessar ruas. Entregava-se à Nossa Senhora e avançava. E nunca
foi atropelada. Estava sempre de preto e usava pó se arroz. Chamava-me de meu
mimoso. Imagine o medo que tinha, que algum dos colegas de rua ouvisse.
Imagine Pedro Karabina virar Mimoso! Quando estava doente, gripado, ou com
alguma DCI, era alegria ouvir o toque toque dos saltos altos da Vovó Neném, no
cimento que dava entrada à casa. Era tarde de histórias e amenidades. Com meus
netos, agora crescidos, acredito que tenha lhes deixado histórias para contar,
ainda que os tempos tenham mudado muito e nas correrias do progresso não
sobrará muito tempo para contar triviais casos de avós. Minha neta Mariana,
que foi minha aluna de Medicina, quanto tinha lá seus oito anos, definiu-me.
Vovô Pedro é zangado, mas é bonzinho. Será que o Guilherme, lembrará do seu
bisavô Pedro? Duvido que com ele vá ser zangado.
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pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
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