01/06/2022
Ano 25
Número 1.274





 

ARQUIVO

PEDRO FRANCO


 


 

 


Dia das mães 2022


Homenagem às mães, ainda que tardia em relação ao 08/05/2022.

Antes duas definições de piegas, adjetivo de dois gêneros e dois números em que há pieguice, sentimentalismo extremo. Ou adjetivo e substantivo de dois gêneros e dois números: que ou quem é ridiculamente sentimental. E então percebi e é dia das mães, 2022, que já escrevi sobre minha mãe e nunca sobre o dia das mães, visto que, até por que há muitos anos não a tenho, já deveria ter abordado o tema. Motivo básico e se pensam em preguiça, não é. É medo de ser piegas. Ser piegas e, quem é metido a literato, deseja fugir célere de cair em texto piegas. O ridiculamente sentimental já não fica muito mal no amor, só que no dia das mães pega mal. E então, fugindo da tal classificação, passo a contar casos relacionados à Dona Maria de Lourdes. Conheceu meu pai em Paquetá. Ela, Filha de Maria; ele amigo do irmão e frequentando a casa da Praia da Guarda, Ilha de Paquetá. Seu João, amigo do Tio Roberto, era bem-vindo. Até que olhou para Lourdes e o mínimo que o casal ouvia era, vindo de minha avó Nenem. Ai, Cristo, olhai para isto. Se meu ídolo avô Diniz não fez guerra acirrada, contou-me que deu a mão da filha, porque ela queria, mas com o gênio e ciúmes de meu pai temia que a filha não fosse feliz. Contou-me isto, para dizer que tinha se enganado, que meu pai era ótimo chefe de família e que errara, graças aos céus, no vaticínio. João e Nenem fizeram as pazes e veio então o digitador que foge de ser ao menos piegas. E ficou filho único. E casou, estudando Medicina e trabalhando na CEF, mãe de filho único, logo sogra e nora, de quem casou com o filho único, moram juntas e por toda a vida. Basta dizer que no bairro julgavam as duas mãe e filha. Vamos a exemplos desta bem querência. Dona Lourdes internada na Beneficência Portuguesa por quarenta dias. Dona MH só arreda pé do hospital por 3 horas em 40 dias. Fico com Lourdes nessas 3 horas e quando MH volta, ouvimos: Minha filha, Medicina ele pode saber, ficar com doentes é um fracasso. Lourdes morreu no dia do aniversário de Dona MH e tive que avisar à nora, que a mãe era minha e por muito tempo o retrato de mamãe ficou em sua mesa de cabeceira. Histórias de Lourdes e Maria Helena contadas e sem retoques. Em criança Dona Lourdes me levava à Bol, casa de lanches na Rua do Ouvidor. Por volta de 1945, mais ou menos. Dessas idas fiz crônica e a mandei ao Concurso de Crônicas Martha Medeiros, da Assis Editora, Uberaba. Primeiro prêmio, com ganho de notebook, livro autografado pela cronista homenageada com o nome do prêmio e a crônica contava apenas nossas idas à Bol, para fazer compras na cidade. Mesmo quando não sabia ler, conheci Monteiro Lobato, pela doce voz de minha mãe. Frase de mãe de filho único, não crio Pedro para mim e sim para quem casar com ele. Dito e feito. E se ouvia as discussões marido e mulher, nada de mais, o trivial de casal que se dá bem, mamãe entrava e pedia desculpas. Maria Helena, me desculpe, minha filha, não foi esta a educação que dei a ele. Ela, a pedido do neto, deixou com sua letra rebuscada histórias da Família, que até preciso ler com mais calma. Valeu, mamãe. Eternas saudades e obrigado por tudo. 


Comentários sobre os textos podem ser enviados ao autor, no email pdaf35@gmail.com 



Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral

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