Shakespeare, o Professor e o amor
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Do amor
falam muitos poetas e seria cansativo citar vários. Ficam então representados
por Shakespeare, Vinicius e Pessoa.
Shakespeare – “Amor quando é amor não
definha/ E até o final das eras há de aumentar./ Mas se o que eu digo for
erro/ E o meu engano for provado/ Então eu nunca terei escrito,/ Ou nunca
alguém terá amado.” Vinicius de Morais – Avassalador e hiperbólico, o amor
é o maior e mais forte, capaz de atravessar as marcas temporais e mundanas.
Porém, altamente frágil e sensível, intenso: “posto que é chama/ Mas que seja
infinito enquanto dure.”(Soneto da Fidelidade, outubro de 1939). Toma a
imortalidade por duração? E o poeta como apregoava em suas poesias que as
lindas soubessem perdoar! Interesse pessoal, quem sabe?
Fernando Pessoa – O
poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é
dor A dor que deveras sente.
Tínhamos um Professor Titular de Cirurgia
que era artista, detestava mutilar pacientes e lutava por reconstruções
cirúrgicas. Suas aulas, além de primarem pela técnica, eram bonitas e
agradáveis, porque, sendo pintor, seus “slides” eram pinturas de notável bom
gosto. Jovens, já demos aulas com slides e caprichávamos nos mesmos. O
Professor era culto e em qualquer movimento cultural da Escola podíamos contar
com ele. E, não tendo, desde a entrada na Escola, ideias cirúrgicas, só depois
de formado, tendo passado em concurso para professor assistente de Clínica
Médica e sendo interessado nas Jornadas do Hospital, tive mais contato com
ele, que era o Presidente naquele ano. E em reunião preliminar o Professor, e
falava bem, desandou a fazer elogios a um dos componentes da jornada. Disse
aos meus botões, o elogiado vai se enfiar debaixo da mesa, pois a dose de
elogios estava elevada e vindo de quem vem, até avaro nos encômios, vai ser
notável. E o Professor arrematou. Todos sabem que estou me referindo e disse
meu nome. Portanto o Professor me admirava, mais até do que esperava. E
enquanto esteve em atividade, tivemos ótimos contatos. Eis que um dia pelo
telefone interno perguntou se estava muito ocupado e não estava. Então venha à
minha sala. Fui e pensando que alguma jornada estava em perspectiva. E para
meu espanto, nós dois sós na sua bem montada e cultural sala, muito diferente
das demais, perguntou de chofre. - Você acredita no amor? Ele não acreditava e
argumentava bem, até porque definir, explicar amor, é complicado. E
amigavelmente e sem excessos discutimos o acreditar, explicar o amor. Não
acreditava, tinha razões de peso e ainda que saísse da sala com a mesma
credulidade pelo mais importante sentimento, aceitei razões e tive a ousadia
de dizer que ele tivera apenas paixões e não amor. Não o convenci sobre o
amor, ainda que o Mestre, percebi, tivesse gostado da polêmica. Provavelmente
julgara tolos meus argumentos, só que defendidos com alma. E se não julguei os
dele desprezíveis, lamentei muito que alguém com tantas qualidades não
tivesse encontrado o amor. Para então de fato acreditar, que havendo amor,
vale a pena sofrer e viver.
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pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
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