16/04/2022
Ano 25
Número 1.268





 

ARQUIVO

PEDRO FRANCO


 


 

 


as de dedo podre

Que pena!

Características indispensáveis, ao menos para caírem confortavelmente nesta classificação. Aceitemos que classificações costumam deixar furos e ainda assim vejamos dados indispensáveis: ser bela e plagiando em parte Vinicius, as não belas não são candidatas às de dedos podres. Se listasse belas e classificáveis aqui, a lista seria enorme. Bela, linda, pancadão (homenagem a Lamartine Babo) e dedo podre. Explicando o que é o dedo podre, está definida a classificação. Bela e de dedo podre, isto é, beneficiada pela natureza, tem por norma escolher mal o parceiro. E podia pôr parceiros, já que suas escolhas indevidas se repetem. Na da verdade, sendo bela e chegando às gambiarras cedo em idade, fica difícil não ser dedo podre, visto que em maioria seus admiradores aparecem e com interesses de todos os lados, trêfegos, interesseiros, aproveitadores, assim são os que delas se acercam. Ainda mais que a beleza cobra preços e até tipo de vida oneroso. E a preocupação com sua estética e suas vestes, usualmente dispendiosas, absorvem um tipo de frivolidade, preocupação excessiva em continuar bela, seu verdadeiro galardão e, sendo assim, fica difícil ser centrada, viver normalmente e optar por caminhos calmos e ensombrados. Não está a artelho estragado em idade de sombra e água fresca e, frenética, quer dominar os dos seu mundo, os em volta e a qualquer preço. Uma grave tristeza, se lhe chega o amor, nem percebe, tão aturdida anda. O triunfo a espera e seus companheiros, em maioria já descritos e desacreditados, ainda que discretamente ofuscados pela beleza, em maioria, pensam da bela, que indo, levara-os por veredas argentárias e também ofuscantes. O coitadinho amoroso, muitas vezes namoradinho de infância, ficou soterrado pelas luzes da ribalta. Sou atriz mais por beleza que por arte cênica. Só que não pensam assim. Sou bela, notória e isto basta. Preciso de papéis importantes e pagará o preço por tê-los, mesmo que seja dormindo em alcovas indesejadas, ainda que, no agora dela, necessárias, imprescindíveis. Se não aceitasse aquela cama com dossel de um ser já meio passado, sua concorrente, que deseja o mesmo papel, dormiria no tal dossel e adeus sua oportunidade. Há bela internacional e linda, já a vi em filme, dançando um mambo. E, nem se é marca de dedo podre, tem fama de ter passado na cara, que dito chulo, todos os galãs com quem contracenou. Como se classificaria esta devassidão? Não me venham com a censura do politicamente correto. Uma de minhas preferidas e de vida com final triste, suicídio, certa vez reclamou de homens, que de fato se chegavam a ela e para sua surpresa e melancolia, de fato só queriam ajudá-la e sem cobranças. Pode? E como era docemente sexual desde o pequeno papel em “Niagara Falls”. Voltemos as marcas gerais para as de dedos podres E quando os espelhos, ou determinados ângulos, merecem ser evitados? Há cirurgias plásticas, botox, remédios milagrosos e o que se invente, para sustar a marcha do envelhecimento natural. Se conseguem o retardamento, muitas vezes é resultado efêmero e então há que comprar parceiros mais novos, caros e que fazem a ex bela de trampolim, até para chegar a uma de dedo podre mais nova e no auge de sua beleza. Que tal inserir na classificação inicial três características secundárias e não obrigatórias. Certo grau de futilidade, cultura deficiente e educação de lar falha. Acredito piamente que é muito difícil ser bela, não ser dedo podre e ter vida normal e, dentro do possível, ser feliz. Se for vida, termina com a morte e nem sempre a ceifadora vem para as do dedo, ou quase nunca, enquanto ainda a bela é bela. Raramente se chega ao fim com a beleza, que era seu capital, orgulho e moeda de troca. O digitador canhestro está sendo lúgubre em relação à maioria das belas e seus finais? Acredito que não e até por obrigação profissional acompanho o passar do tempo de belas e que conseguiram o troféu de não serem dedos podres. Ainda assim... E que homens ou mulheres, ou de qualquer gênero que desejem, colocaram um ponto final e podem berrar, fui feliz? Imploraria por ouvir esses berros e os receberia até com lágrimas alegres, destinadas aos favores da vida não esperados, ainda que almejados. Um final aparentemente feliz e nada de podre, Audrey Hepburn e sua cândida beleza. E a mulher mais bela e com o tal dedo? Beleza total e essa escolha varia de acordo com o gosto pessoal de cada um. No meu, Ava Gardner e deixo o final para Papa Hemingway. Ava resolveu tomar banho na Vila Finca, a 30 km de Havana, na piscina. E mergulhou nas claras águas, como nasceu. Papa determinou. Depois do memorável banho, nunca mais se trocaria a água da piscina!


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Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral

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