Bongô no samba
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E hoje na caminhada na Altenhaus (se recomendo que
pacientes andem, devo caminhar também e vou abusar, aviso, de parênteses nessa
história) ouvi e gostei de música, que puristas podem achar heresia. Diga-se
que meu neto Maurício fez uma engenhoca, que toca escolhidas músicas e que me
acompanha nas caminhadas matutinas das férias e há mais de dez anos. E por que
falei em puristas e heresia? Lembram-se quando o trem bom de Minas (Milton
Nascimento Beto Guedes, Fernando Brant, Tavito Moura, Lô Borges, Toninho
Horta, Flávio Venturini e outros ótimos poetas e músicos) meteram guitarras na
MPB? Até o pessoal da Bossa Nova, que era inovador, pôs a dita cuja de molho,
ainda que só em princípio, pois quem podia antagonizar o Anjo Barroco Gogó de
Ouro Nascimento e os outros valores mineiros? Caetano/Gil/Gal/Betânia eram
abertos a inovações e os Novos Baianos tinham já a consagrada guitarra de
Pepeu Gomes e mais Baby, Paulinho Boca de Cantor (olha que apelido porreta e
cabível) e outros, já por natureza eram chegados a tudo e com um ritmo de
arrebentar e bom gosto. Eta Baby Consuelo! Volto às escolhas de meu neto e
aleatoriamente ouvi muito Dick Farney (não reclamem do nome artístico, que
tinha que ter, pois seu nome de certidão de nascimento era Farnézio Dutra) e
Dick e Lúcio Alves vieram e com charme total de “Tereza da Praia”, de Tom e
Billy Blanco, aquela Tereza que tinha uma pinta do lado. E ainda sem falar na
inicial heresia citada, quando falo no Blanco sempre lembro de música de sua
autoria, que merecia ser cantada nos pátios das escolas primárias com os hinos
pátrios. Essa MPB é a Banca do Distinto, um hino contra a soberba, defeito de
caráter que muito atrapalha nosso sofrido País. Nem cito trecho da Banca, para
que procurem a inspirada letra, lembrando apenas, que, quando foi feita, não
havia cremações. E qual foi a interpretação, que pode ter desgostado mofados
puristas. “Acontece”, Cartola, intérprete Paulinho da Viola. Que pode haver de
negativo nesta dupla? De negativo nada mesmo. De inovador, Paulinho, orquestra
com destaque de violinos. Até aí nada que possa ofender puristas e o que me
ganhou a manhã, um solo de bongô, muito bem batido, pontuou o canto. Acredito
que o autor bateu palmas na tumba e no ritmo do bongô. Valeu, da Viola!
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pdaf35@gmail.com
Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica da Escola de Medicina e Cirurgia
da UNI-RIO. Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor
Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
Conheça um pouco mais de Pedro Franco.
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